Presenteísmo no trabalho: como identificar e prevenir

O presenteísmo no trabalho ocorre quando um funcionário se apresenta normalmente e cumpre a jornada de trabalho, mas não trabalha realmente ou contribui com o mínimo possível para as demandas

Presenteísmo na empresa, de maneira simples, é ir ao trabalho e faltar ao mesmo tempo. É uma espécie de absenteísmo presencial, ou seja, ir trabalhar e, por diversas circunstâncias, fingir que está fazendo o trabalho, quando na verdade, não está.

Embora o engajamento dos funcionários esteja aumentando, no Brasil, somente 27% dos trabalhadores se sentem engajados, segundo o relatório “State of the Global Workplace”, da Gallup.

De acordo com Chiavenato, uma das principais referências na área de administração e gestão de pessoas, para aumentar a motivação e criar vantagem competitiva, investir em tecnologia e outros recursos inovadores não são suficientes. Segundo ele:

“O segredo da vantagem competitiva está em saber utilizar a inteligência e a competência das pessoas que formam a organização. Afinal, o desempenho das organizações dependem diretamente do desempenho das pessoas que a formam.”

Portanto, para evitar o presenteísmo na empresa, o capital humano precisa de uma cultura organizacional que engaje e um estilo de gestão que, além dos aspectos técnicos, impulsione o desenvolvimento de habilidades no relacionamento interpessoal.

O que significa presenteísmo no ambiente de trabalho?

O funcionário está fisicamente no trabalho, mas com a mente em outro lugar (Drazen Zigic | Freepik)

O presenteísmo laboral nas empresas ocorre quando um funcionário se apresenta ao seu trabalho e cumpre sua jornada de trabalho, ou até mesmo a ultrapassa, mas não trabalha realmente ou contribui com o mínimo possível para as demandas. 

Nesses casos, o trabalhador não dedica grande parte do seu tempo à realização de suas tarefas ou a algo que contribua para o cumprimento dos objetivos da empresa. 

Em vez disso, ele gasta esse tempo em outras tarefas menos produtivas e, muitas vezes, assuntos de lazer ou de interesse pessoal. 

Em alguns casos, essas pessoas fazem horas extras além da sua jornada de trabalho, mas não aumentam a sua produtividade, pois não estão dedicando tempo para atender suas exigências profissionais. 

Este é um dos motivos que fazem do presenteísmo um problema que afeta as empresas e por isso, vale a pena investigar para saber suas razões e origens.

Absenteísmo x presenteísmo

O presenteísmo é o absenteísmo de corpo presente. Ambos termos referem-se ao comportamento organizacional. 

O absenteísmo é qualquer forma de falta ou atraso no trabalho. Seja justificada por licença médica ou direito trabalhista, ou injustificada pela falta de compromisso ao trabalho.

O presenteísmo está relacionado ao comportamento do trabalhador. É quando a pessoa reduz o seu desempenho mesmo que cumpra a sua jornada laboral e compareça todos os dias na empresa.

Assim, o que pode explicar o absenteísmo e o presenteísmo são fatores relacionados a condições de saúde, circunstâncias pessoais, individuais e sobretudo, o contexto organizacional.

Como identificar o presenteísmo na organização?

Aspectos visíveis e invisíveis do comportamento organizacional (Think Work)

O presenteísmo está relacionado ao comportamento organizacional. Para identificar suas causas, primeiro é preciso entender como as pessoas atuam na empresa e quais aspectos influenciam na organização.

No livro “Comportamento Organizacional” de Chiavenato, como estratégia para entender como funciona essa dinâmica na empresa, o autor divide essas percepções em aspectos visíveis e invisíveis.

Aspectos imperceptíveis, por exemplo, estão relacionados às atitudes individuais e conflitos interpessoais que influenciam o comportamento das pessoas e equipes.

Por outro lado, as políticas, a estrutura organizacional e a tecnologia utilizada são elementos visíveis que fazem parte dessa dinâmica.

O que o presenteísmo causa na empresa?

O presenteísmo no ambiente de trabalho pode ser detectado pela observação de atitudes e resultados. Alguns dos aspectos que o tornam suspeito são: 

  • Funcionários visivelmente cansados ​​ou doentes;
  • Aumento de erros;
  • Funcionários trabalhando mais horas do que o necessário.
  • Rendimento abaixo do desempenho esperado e a diminuição da qualidade do trabalho concluído;
  • Conflitos entre equipes;
  • Estrutura e clima organizacional ruim;
  • Cultura organizacional ultrapassada e que não valoriza as pessoas;
  • Baixo engajamento e insatisfação dos funcionários na organização;
  • Alto índice de rotatividade ou turnover;
  • Falta de estratégias para uma eficiente comunicação corporativa;

O presenteísmo provocado pelo desgaste físico e mental

Altas demandas e a falta de controle nos processos de trabalho afeta o profissional física e mentalmente. 

Neste cenário, o presenteísmo afeta a produtividade, uma vez que a qualidade do trabalho resulta em erros e falta de atenção ao executar as atividades que integram a função.

Um estudo publicado pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT), indicou que os transtornos mentais são a 3° maior causa de afastamento do trabalho no Brasil.

No ano de 2022, de acordo com a plataforma“Observatório de Segurança e Saúde do Trabalho”, apenas no Estado de São Paulo, foram concedidos 2.291 auxílio-doença na categoria CID: Mentais e Comportamentais.

Desta forma, a empresa deve estar atenta ao presenteísmo, pois este é um dos fatores que resultam no esgotamento físico e mental, ao estresse e a depressão, e, portanto, a síndrome de burnout.

Como o presenteísmo pode afetar a organização?

O presenteísmo pode ser um sinal de esgotamento físico e mental (Think Work)

O trabalhador que está apenas de corpo presente na empresa gera prejuízos acarretados pela baixa produtividade e ocasiona perdas ao longo prazo ainda maiores. 

As consequências mais comuns do presenteísmo na organização e a atitude gerada pela falta de motivação do trabalhador são: 

  • Problemas e conflitos diante de diferentes pontos de vista;
  • Baixa qualidade na execução das tarefas;
  • Pouco envolvimento com os valores da organização;
  • Redução exponencial da produtividade na empresa;
  • Trabalhadores que manifestam desinteresse ou baixa identificação com os objetivos da empresa;
  • Aumento de acidentes de trabalho devido ao aumento das distrações.

Fatores que geram o presenteísmo na empresa

Existe uma relação de reciprocidade entre empresas e empregados (Drazen Zigic | Freepik)

Ainda de acordo com Chiavenato, os funcionários contribuem na organização a partir do seu trabalho, dedicação pessoal, conhecimento, habilidades, desempenho e competências. 

Em contrapartida, as organizações oferecem incentivos como salários, benefícios e contribuições para aumentar a qualidade de vida. O objetivo é que as pessoas aumentem seu desempenho e se sintam satisfeitas em realizar suas funções.

Desta forma, os fatores que contribuem para o presenteísmo na empresa envolvem a relação entre organizações e pessoas.

Fatores do presenteísmo no trabalho

Existem dois fatores principais que podem resultar no presenteísmo no ambiente de trabalho: o fator pessoal e o fator organizacional.

Fator pessoal

Uma das causas que podem fazer com que as pessoas ocupem fisicamente o seu local de trabalho, mas negligenciam as tarefas profissionais, podem ser motivadas por problemas ou motivos pessoais.

Algumas dessas situações podem ser: 

  • Problemas em sua família ou relacionamentos pessoais;
  • Problemas emocionais;
  • Ter algum tipo de distúrbio mental;
  • Baixo estado de ânimo;
  • Relacionamento ruim com os colegas;
  • Falta de concentração;

Fator organizacional

Nesse caso, a responsabilidade recai sobre a empresa, pois a causa é o reflexo de um problema corporativo ou de má gestão. 

Alguns exemplos são: 

  • Falta de fit cultural com a empresa;
  • Carga de trabalho excessiva;
  • Atribuição de tarefas para as quais o funcionário não tem capacitação profissional ou conhecimento;
  • Falta de comunicação com a equipe de trabalho ou com os superiores;
  • Estabelecimento de metas impossíveis de alcançar que geram desmotivação;
  • Falta de ferramentas para realizar tarefas;
  • Paralisia pelo medo de demissão.

Como prevenir o presenteísmo no trabalho?

A abordagem preventiva é a melhor opção que uma empresa pode adotar diante desse problema (drobotdean | Freepik)

O presenteísmo no trabalho pode ser evitado com uma estratégia de trabalho que contenha as seguintes diretrizes:

Promover benefícios relacionados aos cuidados com a saúde

Altos níveis de estresse causados ​​pelo trabalho podem trazer problemas para os funcionários, e medidas que ajudem a reduzir esses níveis são bem-vindas. 

A oferta de benefícios sociais, como descontos em ginásios, plano de saúde, terapias de relaxamento ou palestras motivacionais, são exemplos de opções para motivar os trabalhadores e contribuir para o seu bem-estar mental e pessoal.

Criar uma cultura organizacional que permita ao funcionário se ausentar quando necessário 

Uma empresa reduz o presenteísmo quando motiva o trabalhador a ficar em casa nos dias em que se sinta incapacitado para o desempenho das suas atividades laborais por motivo de doença.

Existem também situações excepcionais, como a doença de um filho ou de um dos progenitores. Nestes casos o profissional pode necessitar de alguns dias de ausência, O que deve ser compreendido e aceito por sua liderança.

Estabelecer políticas que estimulem o tempo livre e horários flexíveis

Empresas que promovem uma política de incentivo ao tempo livre após a saída do funcionário do ambiente de trabalho apresentam altos índices de produtividade na empresa.

Graças a esses benefícios, os funcionários sentem lealdade e comprometimento com a empresa. 

A flexibilidade de horários bem acordada entre ambas as partes é uma estratégia que permite ao profissional conciliar as tarefas pessoais (como levar os filhos à escola) com as tarefas profissionais, aumentando o seu grau de satisfação e empenho.

Avaliar as responsabilidades dos funcionários

Ao analisar a carga de trabalho de cada funcionário, é necessário garantir que as tarefas sejam distribuídas corretamente dentro da sua jornada. 

Caso contrário, o funcionário se sente sobrecarregado com o grande número de atividades que devem ser realizadas. 

Da mesma forma, a tarefa atribuída não deve ultrapassar o funcionário e ir além de suas habilidades ou exigir o uso de qualquer ferramenta ou conhecimento que ele não possua. 

Portanto, uma carga horária justa e adequada é a mais recomendada.

Elaborar estratégias para monitorar o estado da empresa

Para evitar o presenteísmo trabalhista, é fundamental saber o que os trabalhadores pensam. 

Pesquisas anônimas ou reuniões de equipe e feedbacks bem conduzidos são uma ferramenta poderosa para detectar problemas internos com antecedência suficiente para agir sobre o assunto. 

Por sua vez, é fundamental implementar avaliação de desempenho em que o reconhecimento e a carreira profissional do trabalhador dentro da empresa seja valorizada.

Incluir políticas relacionadas ao trabalho remoto

O home office ou trabalho flexível são opções para combater o presenteísmo, uma vez que permite às pessoas realizar todo o seu dia de trabalho a partir de casa ou fazê-lo nos dias acordados, e assim ter uma jornada semanal entre o escritório e a casa.

Como reflexo do cenário da pós-pandemia, uma das conclusões da pesquisa elaborada em 2021 pela KPMG no Brasil, indicou que 52% dos entrevistados retomaram ao trabalho presencial.

Nem 100% remoto, nem 100% presencial. O que se vê hoje são empresas que se organizam no modelo híbrido. Se o profissional não puder deslocar-se ao escritório, é possível oferecer a opção de realizar uma determinada atividade remotamente.

Garantir um ambiente de trabalho agradável 

Esse fator envolve cuidar da ergonomia para reduzir acidentes de trabalho comuns e ter um local de trabalho com condições adequadas. 

Promover uma comunicação corporativa honesta entre colegas de trabalho e superiores pode dar mais abertura para que os funcionários compartilhem possíveis problemas e anseios.

Presenteísmo e a importância de detectá-lo a tempo 

O fato de ir “levando a vida” ao longo da jornada laboral afeta tanto a empresa quanto ao funcionário (master1305 | Freepik)

Um estudo divulgado pela Think Work revelou que 54% das pessoas descrevem viver momentos de ansiedade no dia anterior ao retorno ao trabalho.

Desta forma, o presenteísmo trabalhista é um problema atual que pode ser evitado, e com isso, evitar problemas de saúde mental e até mesmo prejuízos econômicos e reputacionais da marca empregadora. 

Os trabalhadores são o motor de todas as empresas e vitais para o sucesso e obtenção de lucros. Desta forma, o presenteísmo é um sinal de esgotamento no funcionário, além de significativa perda de lucro ​​para as empresas.

Portanto, detectá-lo a tempo de resolvê-lo é fundamental, e preveni-lo também. 

Uma empresa não deve poupar esforços para manter os funcionários motivados e ter uma estrutura adequada para ser produtiva no mercado competitivo da globalização.

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