Demissão humanizada: como reduzir os impactos negativos no offboarding 

Demissão humanizada é uma estratégia para reduzir os impactos negativos no momento de conduzir o encerramento do vínculo empregatício

A demissão humanizada é fundamental para as organizações que abordam o processo de desligamento com foco nas pessoas, priorizando o bem-estar de seus profissionais durante o difícil processo de offboarding.

Independente da causa, a demissão é um dos piores momentos para quem trabalha, para a área de RH e para os líderes da organização. Uma tarefa difícil que poucos gestores sabem conduzir bem.

O desligamento humanizado faz parte de uma estratégia para implementar políticas centradas nas pessoas que podem contribuir para transições mais saudáveis. 

Hoje, os líderes de RH desejam migrar para um modelo de gestão “de volta ao humano”. Um artigo da McKinsey aborda a importância das organizações voltarem a focar nas pessoas, uma vez que a convivência e o elemento humano perderam com o avanço tecnológico após a pandemia.

O desligamento humanizado é a última etapa do ciclo da jornada das pessoas na empresa, portanto, reduzir os impactos negativos faz parte do conjunto do processo de employee experience.

O que é demissão humanizada?

Empresas que pretendem ser competitivas no mercado devem incorporar soluções de recursos humanos com foco nas pessoas (Freepik)

Demissão humanizada de empregados ou desligamento humanizado é uma estratégia do processo de offboarding com foco na redução de impactos negativos no momento de comunicar e conduzir o encerramento do vínculo empregatício.

A preocupação com este momento surgiu com a pandemia. Com o trabalho remoto e a crise econômica, muitas empresas realizaram demissões por WhatsApp e por ligações de vídeo de forma mal-conduzida e impessoal.

Mesmo para cumprir uma obrigação legal, a maneira fria e desumana como esses desligamentos foram conduzidos gerou repercussão negativa e impactou o employer branding de grandes empresas de todo o mundo. 

Desta forma, líderes de RH e de todos os setores da empresa precisam de uma política de demissão humanizada e implementar processos de gestão de saída para fechar a última etapa do offboarding com mais empatia e atenção.

Benefícios da demissão humanizada

O desligamento engloba o fechamento do ciclo da experiência do funcionário. Outros benefícios da demissão humanizada são a melhora do clima organizacional, a atração de novos talentos e até a redução das chances de um processo trabalhista.

A humanização da relação entre a empresa e o funcionário é valorizada pelos melhores talentos. Além disso, outros benefícios evidentes no processo são: 

  • A empresa melhora sua imagem empregadora perante potenciais talentos;
  • O funcionário demitido pode divulgar e avaliar no LinkedIn ou sites as boas práticas da empresa;
  • Contribui para o desenvolvimento profissional;
  • Atrair talentos que priorizam o aspecto humano;
  • Contribui para a retenção de talentos na empresa;
  • Minimiza os impactos negativos para quem continua na equipe;
  • Diminui a desmotivação daqueles que ficam na empresa.

Por que humanizar o processo de demissão?

O desligamento humanizado faz parte do fechamento do ciclo da jornada do funcionário (Think Work)

Em um artigo para o Think Work de Rafael Souto, CEO da Produtive, 60% dos líderes não estavam preparados para fazer demissões. 

De acordo com a pesquisa da Produtive feita com 400 profissionais demitidos, mais da metade dos entrevistados relataram que o líder não soube explicar com clareza o motivo da demissão. De acordo com o executivo:

“O treinamento de lideranças dentro de um programa de demissão responsável e humanizada deve ser parte do ciclo de saída. Quem demite também sofre e precisa estar preparado para que o processo se dê de forma empática e respeitosa com todos os envolvidos.” 

Outros fatores pelos quais o desligamento deve ter um aspecto mais humanizado envolvem:

Sentimento coletivo

As organizações são compostas por grupos humanos que costumam ter uma coesão funcional e emocional interna. As demissões são traumáticas para as equipes, ainda mais quando afetam profissionais valorizados no grupo. 

Neste sentido, a forma como se transmite esse tipo de notícia pode prejudicar a confiança e a motivação dos colegas que ficam na empresa. 

Além do mais, para muitos profissionais, a carreira é o aspecto mais importante da vida e uma demissão pode ter grande impacto negativo na saúde mental e física dessas pessoas.

Imagem corporativa

A imagem corporativa é de suma importância para qualquer organização ou empresa, pois determina em grande parte o sucesso da marca empregadora. 

Essa reputação depende de tudo o que a empresa faz, incluindo o modo como uma comunicação de desligamento é feita.

Este é um momento delicado onde a opinião das pessoas pode gerar uma corrente nociva para a avaliação global da companhia. Sobretudo agora quando as redes sociais têm um nível de difusão imprevisível. 

Gestão de talentos

Atrair e reter talentos é um desafio atual das empresas de todos os setores. É evidente a competitividade das organizações pelos profissionais mais qualificados e eficazes. 

O ambiente de trabalho e o clima organizacional são alguns dos fatores que os candidatos costumam valorizar na hora de optar por uma vaga. 

Assim, além de atrair, as demissões feitas de forma construtiva ajudam a cultivar o engajamento dos funcionários e diminuir a rotatividade nas empresas, contribuindo também para as metas de RH.

Como fazer uma demissão humanizada

Ajudar na recolocação implica reduzir os problemas habituais nos processos de demissão (Think Work)

De acordo com dados de pesquisa apontados em um outro artigo do colunista Rafael Souto, para 56% dos profissionais desligados, a forma como a demissão foi conduzida impactou a experiência na empresa. 

A situação é clara: alguém tem que dar uma má notícia ao funcionário, o que pode afetar o resto da equipe. Embora seja possível minimizar seus efeitos ao fazê-lo da forma certa, é um momento difícil para líderes de RH e do setor.

Nesta fase, são realizadas diferentes ações, entre as quais:

Planeje a comunicação

Escolha um local neutro e discreto para conversar com o funcionário e não informe o motivo da reunião com antecedência. Por outro lado, não improvise: consulte as informações relacionadas ao caso e construa um roteiro mental com ideias importantes. 

É muito importante que o líder direto da pessoa demitida esteja presente, acompanhada do departamento pessoal ou do RH.

Escolha o momento ideal

A maioria das organizações escolhe a sexta-feira para realizar essas comunicações, primeiro para atenuar o efeito negativo desta situação e sobretudo, porque costuma haver menos pessoas no escritório ao final da reunião. 

No entanto, é melhor comunicar o fato logo após ter decidido. Para tanto, evite datas especiais, como aniversários ou períodos de férias, e procure fazê-lo quando não houver muitas pessoas no escritório. 

Seja transparente

A comunicação deve ser direta, frontal, transparente, mas sempre tendo cuidado com a forma de dar o feedback

Discursos como “você é uma excelente profissional e em breve encontrará uma oportunidade”, devem ser evitados.

O ideal é ser sincero e ir direto ao ponto para não prolongar o momento da demissão. Assim, a comunicação deve ser com sensibilidade e empatia, mas também com precisão, honestidade e rigor.

Tenha uma boa argumentação

Toda decisão de negócios deve ser justificada. Se os diretores e a liderança chegaram à conclusão de que é essencial demitir essa pessoa, será por um motivo. É mais fácil para todos aceitar a realidade quando conhecemos as razões. 

Além disso, um bom argumento permite transformar a experiência em uma oportunidade de melhoria. É verdade que, às vezes, algumas informações pertencem à esfera privada corporativa. 

Não esqueça que a pessoa desligada tem o direito de saber o que aconteceu e quem vai fazer este comunicado deve informá-lo com a devida discrição. 

Vale ressaltar a necessidade da empatia: este momento deve ser conduzido com sensibilidade, sem machucar e de maneira construtiva.

Prepare-se para as reações

Essas situações não são fáceis para ninguém, muito menos para quem recebe a má notícia. Portanto, é preciso estar preparado para algum tipo de reação negativa, afinal, a pessoa demitida está sendo pega de surpresa.

A raiva, o choro, a angústia, a ansiedade e até mesmo a tristeza são reações comuns na hora da demissão. Nesses casos, o ideal não é dar apoio psicológico, e sim tempo e espaço para a pessoa se acalmar e se expressar adequadamente. 

Ofereça suporte

Afirmar que a empresa está de portas abertas e não oferecer suporte é uma atitude bastante desumana que uma empresa pode cometer. Além de auxiliar na parte legal na hora da rescisão de contrato, investir em programas de outplacement é uma das melhores opções para humanizar a demissão. 

Este apoio gera ambientes positivos que minimizam o estresse ou preocupações na pessoa afetada e oferece ferramentas adequadas para que elas possam se reintegrar ao mercado o mais rápido possível.

Além do suporte na recolocação, estender o plano de saúde e outros benefícios como auxílio-alimentação e vale-transporte fazem toda a diferença para quem se vê em um cenário de desemprego.

O que evitar na demissão humanizada

Independentemente das causas, neste momento o lado humano deve ser colocado em primeiro lugar (Freepik)

Às vezes, com a intenção de suavizar o momento e ajudar que o funcionário demitido não se sinta mal, quem comunica o desligamento pode exagerar em alguns pontos.

O ideal é evitar:

Humor e curiosidades: É um momento muito sério. 

Dizer que sente muito: Significa assumir uma culpa ou insinuar que a demissão não é justificada. 

Comentários sentimentais na primeira pessoa: Tipo: “entendo como você se sente”, “dói em mim tanto quanto você” ou “sei que você se sairá bem no futuro”.

Negociações sobre as condições de demissão ou a possibilidade de evitá-la: Deixe claro em todos os momentos que é uma decisão irrevogável. 

Dicas e recomendações: Não tente aconselhar sobre como agir no futuro.

Os impactos positivos do outplacement 

A tradução da palavra inglesa outplacement é recolocação. O objetivo dessa prática é minimizar problemas e criar um ambiente positivo e menos estressante quando um profissional sai da empresa, bem como dotá-lo das ferramentas necessárias que lhe permitam uma rápida reinserção no mercado de trabalho.

O outplacement é um processo importante onde se trabalha o aspecto psicológico e emocional das pessoas, auxiliando-as na adaptação ao novo cenário para dar o suporte necessário para uma recolocação mais rápida.

O processo de outplacement

Um bom processo de outplacement no âmbito das soluções de gestão de pessoas prevê o desenvolvimento de três fases distintas. 

A primeira refere-se ao planejamento, onde, através de um estudo, é definido como será realizado o desligamento, considerando as características técnicas e comportamentais do profissional. 

Na segunda fase é efetuado o desligamento, onde é apresentado o plano de recolocação e interrupção das atividades do funcionário, esclarecendo dúvidas através de uma conversa objetiva e sincera. 

Por fim vem a consultoria, onde a transição é efetivamente implementada. Nesta fase, que pode acontecer enquanto o funcionário cumpre aviso-prévio, são realizadas diferentes ações, entre as quais: 

  • A reestruturação do plano de carreira;
  • Análise de rede de contato e indicação;
  • Teste de perfil profissional;
  • Apoio na busca de oportunidades.

Desta forma, o outplacement ajuda o RH a reduzir os impactos negativos e aumentar os positivos tanto para a organização quanto para funcionários que precisam de apoio para serem incorporados no mundo do trabalho de forma ágil e eficiente.

O potencial do feedback para o desligamento humanizado

Um bom feedback pode ajudar o profissional a se recolocar mais rapidamente no mercado (drobotdean | Freepik)

Uma cultura de feedbacks cria um ambiente propício para a rescisão humanizada. 

Neste sentido, quando o profissional entende seu papel, o que se espera dele na empresa e qual é a real posição do negócio em seu mercado de atuação, ele está mais propício a evitar as falhas operacionais que podem levar à sua demissão.

Tanto na demissão por justa causa ou por outros motivos, no mundo corporativo este é um tema evitado pelos gestores. Uma prática comum é atribuir esta missão às equipes de RH.

Seja por falta de coragem, empatia, preparo ou mesmo humanização. Ao terceirizar esta tarefa, os líderes perdem a chance de mostrar o seu grau de maturidade no processo de demissão. 

Demissão humanizada significa dialogar com o funcionário e criar um fluxo de conversa mais próximo, verdadeiro e que respeite o vínculo entre a empresa e a pessoa demitida.

Desta forma, preparar líderes para dar feedback é necessário não só para o processo de desligamento, mas também para construir uma cultura na organização que valorize os seus funcionários, afinal, não faz sentido contratar bem e demitir de qualquer maneira.

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