O termo lifelong learning enfatiza a importância da busca constante por aprendizado

O conceito está relacionado à ideia de educação contínua, focada no desenvolvimento e aperfeiçoamento pessoal e profissional. 

O Relatório sobre o Futuro dos Empregos 2023, que oferece um panorama do mercado global de trabalho, estima que cerca de 23% dos empregos irão mudar até 2027. O estudo, preparado pelo Fórum Econômico Mundial, sugere que serão criados 69 milhões de novos tipos de empregos. Para entender esse cenário atual e os benefícios de estimular uma cultura de aprendizado, este guia abordará o significado do conceito, seus pilares, sua importância e como colocá-lo em prática.

O que é lifelong learning?

O termo Lifelong learning refere-se à busca de conhecimento e à preparação para os desafios da vida e de um mercado de trabalho cada vez mais especializado.

Em outras palavras, o conceito pode ser entendido como um estilo de vida que consiste em nunca parar de aprender e estar sempre disposto a adquirir novos conhecimentos e habilidades. Além disso, não envolve apenas os estudos de graduação, especialização ou outros meios tradicionais de aprendizagem.

A aprendizagem ao longo da vida tem como objetivo desenvolver autonomia, pensamento crítico e autoconhecimento, assim como melhorar as competências pessoais, sociais e de empregabilidade. 

4 pilares do lifelong learning

O conceito tão popular nos dias atuais transcende o campo educacional e é um imperativo para quem deseja “permanecer relevante” no local de trabalho assim como em outras áreas da vida.

Jacques Delors (1925-2023), político francês e ex-presidente da Comissão Europeia, foi um promotor do lifelong learning e acreditava que “a educação era uma das prioridades essenciais da sociedade”.

Para Delors, o conceito de lifelong learning surge “como uma das chaves do século XXI […] para enfrentar os desafios colocados por um mundo em rápida mudança”.

No informe Learning: The Treasure Within (Educação: um Tesouro a descobrir, na tradução em português) – também conhecido como Informe Delors –, a educação baseia-se em quatro pilares:

1. Aprender a conhecer

Considerando as rápidas mudanças resultantes dos avanços da tecnologia e das novas formas de atividade econômica e social, esse pilar consiste em:

• Estar aberto para novos conhecimentos;
• Aprimorar o senso crítico;
• Buscar conhecimento autônomo.

Em outras palavras, isso significa que cada pessoa pode se beneficiar das oportunidades educativas que surgem ao longo da vida. 

De acordo com essa proposta, os conhecimentos gerais e a capacidade de “aprender a conhecer” servirão de “passaporte” para o aprendizado contínuo.

2. Aprender a fazer

Além dos conhecimentos gerais, a educação deve proporcionar competências que permitam às pessoas lidar com situações diversas, muitas vezes, imprevisíveis, e a trabalhar em equipe.

A proposta baseia-se na aplicação prática dos conhecimentos que vão sendo adquiridos, possibilitando que o aprendizado ocorra simultaneamente por meio da experiência. 

Ou seja, aprender a fazer sugere que competências e habilidades sejam desenvolvidas por meio da experiência de uma tarefa, uma vez que são adquiridas mais facilmente se as pessoas tiverem a oportunidade de alternar os estudos com o trabalho.

Ao desempenhar atividades rotineiras, esse tipo de aprendizado estimula os seguintes aspectos:

• Desenvolvimento de habilidades comportamentais;
• Capacidade de se adaptar às mudanças;
• Iniciativa e proatividade;
• Trabalho em equipe;
• Inteligência emocional.

3. Aprender a conviver

De acordo com Delors, é necessário “desenvolver a compreensão do outro, da sua história, das suas tradições e da sua espiritualidade”. 

Trata-se de conhecer e compreender as formas de interdependência, desenvolvendo empatia, equidade e inclusão, bem como a habilidade de realizar projetos comuns.

Capacidades importantes desse pilar:

• Interação com outras pessoas;
• Gestão de conflitos;
• Resolução de problemas;
• Empatia;
• Colaboração;
• Comunicação e a capacidade de dar e receber feedback.

Assim, é na interação do dia a dia que as pessoas se preparam para lidar com os conflitos de forma colaborativa, respeitando os valores do pluralismo e estimulando o aprendizado por meio da convivência.

4. Aprender a ser

Delors propõe uma visão humanista e integradora da educação no século XXI. De acordo com ele:

 Todos precisarão exercer uma maior interdependência combinada com um sentido mais forte de responsabilidade pessoal para a realização de objetivos comuns.

Esse último pilar consiste, portanto, em ajudar as pessoas a se conhecerem e a se compreenderem melhor, o que também permitirá aceitar os outros como são. 

Algumas das características dessa visão de aprendizado envolvem:

• Vontade para aprender coisas novas;
• Autorresponsabilidade sobre si próprio;
• Autoconhecimento;
• Identificar pontos forte e de melhorias;
• Descobrir o talento intrínseco.

Dessa forma, consiste também em dar sentido pessoal ao agir sobre a realidade na qual se insere. 

Portanto, permite às pessoas terem uma visão projetada no futuro, construir planos de ação e desenhar cenários que as envolvam ativamente para uma vida plena.

A importância do lifelong learning

O levantamento do Fórum Econômico Mundial sugere que alguns dos fatores principais para a criação de novos tipos de empregos estão relacionados com o avanço da tecnologia, o aumento da digitalização, assim como uma significativa rotatividade no mercado de trabalho.

Para garantir que pessoas e empresas continuem a crescer e a se desenvolver, é preciso manter as habilidades atualizadas e o desejo natural de aprender. 

De acordo com o artigo Lifelong learning: why do we need it? (Lifelong learning: por que precisamos disso?), preparar talentos e organizações para lidar com novos desafios e enfrentar as mudanças no local de trabalho é uma das principais vantagens desse conceito.

Vantagens do lifelong learning para as pessoas

Embora pareça estar associado ao desenvolvimento profissional, o objetivo do lifelong learning é também alcançar a satisfação e a realização pessoal.

Isso se dá por meio do crescimento, do alcance de metas, da melhora significativa da autoestima e da qualidade de vida. 

Assim, os benefícios do lifelong learning refletem nas pessoas a partir dos seguintes pontos:

• Estímulo à criatividade. Propõe novas soluções e a capacidade de “pensar fora da caixa”.

• Melhor convivência. As pessoas trabalham habilidades conhecidas como soft skills, relacionadas a aspectos como relação interpessoal, inteligência emocional e colaboração.

• Crescimento profissional. As pessoas têm a oportunidade de construir um perfil que atenda às atuais demandas do mercado de trabalho. 

• Bem-estar. Ao desenvolver novas habilidades e conhecimento, os talentos têm a oportunidade de ganhar mais, o que resulta em vantagens para todas as áreas da vida.

Vantagens do lifelong learning para as empresas

Diante dos desafios de atrair, reter, melhorar a satisfação e a produtividade dos trabalhadores, líderes estão investindo na educação contínua para tornar suas equipes mais eficientes e rentáveis. Entre os benefícios desse investimento, destacam-se: 

• Atração e retenção. Melhora o employer branding da empresa, facilitando a retenção e aquisição de novos talentos.

• Incentivo ao desenvolvimento. Estimula o aprendizado de novas habilidades técnicas e o domínio das inovações tecnológicas.

• Maior rentabilidade. Profissionais mais preparados proporcionam um valor diferencial que se traduz em rentabilidade para os negócios.

• Formação de profissionais de alto desempenho. Reforça a aprendizagem de novos conceitos e competências necessárias, adquirindo maior facilidade de adaptação às mudanças. 

• Atualização do conhecimento. Oferece aos talentos a oportunidade de formação adequada, atendendo à necessidade de requalificação na empresa. 

• Valorização das pessoas. Aumenta a satisfação e a motivação, gerando maior comprometimento com a empresa e melhor experiência do funcionário.

Como implementar o lifelong learning

A capacitação profissional pode ser uma solução para a atração de talentos. Segundo a pesquisa feita pela Think Work e Atlas, 47% das empresas apostam na oportunidade de aprendizagem e desenvolvimento para superar esse desafio.

Nas empresas, uma vez que a cultura do lifelong learning é estabelecida, a rotina organizacional se torna mais estratégica e os funcionários mais ativos para buscar o conhecimento. 

Contudo, para garantir que a implantação do conceito aconteça de forma planejada, além dos quatro pilares, é importante levar alguns pontos em consideração.

Mentalidade lifelong learner

Primeiramente, é essencial ressignificar o conceito de aprendizado, adotando-o como estilo de vida e transformando a prática em hábito.

Ou seja, é possível aprender em diferentes situações: lendo um livro, ouvindo um podcast, consumindo conteúdos como os produzidos pela Think Work, assistindo a palestras ou estudando de forma independente com aulas online, por exemplo.

Planejamento do aprendizado

É preciso estabelecer metas e separar algumas horas para o aprendizado. Esse planejamento pode ser alinhado ao Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) da empresa, visando o crescimento profissional a médio prazo.

Pontos de melhoria

Definir objetivos e determinar o que é realmente se deve aprender é fundamental. Além das hard skills e habilidades comportamentais, o Relatório sobre o Futuro dos Empregos 2023, citado no início deste artigo, também destaca como importante o desenvolvimento do pensamento analítico e criativo e da capacitação tecnológica, especificamente em inteligência artificial (IA) e big data.

Qual a relação do lifelong learning com upskilling e reskilling?

Vale destacar que a cultura do aprendizado é estimulada pelos avanços da tecnologia e da digitalização, tornando-se essencial para acompanhar o ritmo das inovações.

Nesse sentido, os conceitos de upskilling e reskilling – criados pelo Fórum Mundial Econômico em 2021 – aparecem para diminuir a lacuna entre as habilidades atuais e as competências para as carreiras do futuro.

O termo upskilling refere-se à atualização ou ao desenvolvimento de um conjunto de novas habilidades. Isto é, significa preparar profissionais para continuarem atuando em suas áreas, adaptando seu conhecimento às mudanças em curso.

Por outro lado, o reskilling refere-se à requalificação. Isso quer dizer que o profissional precisa desenvolver novas competências profissionais para capacitação a um novo trabalho ou função.

Ambos os termos surgiram para reforçar a importância do aprendizado contínuo para as necessidades e desafios atuais.