Burnout: o que é, quais os sintomas e o que a empresa pode fazer

O burnout é um fenômeno que está se expandindo cada vez mais após a pandemia e o aumento do trabalho remoto

A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a Síndrome de Burnout como um problema de saúde ocupacional e, desde janeiro de 2022, foi incluída na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-11 – QD85).

A Síndrome de Burnout é resultado de um acúmulo gradativo de emoções negativas em relação à carreira profissional, caracterizadas por cansaço, irritabilidade, raiva e ressentimento em relação aos superiores. 

Embora não seja uma doença em si, é reconhecida como desencadeadora de outros problemas físicos e mentais mais graves. 

Quando uma pessoa tem burnout, pode se sentir exausta todos os dias, frustrada, desmotivada e insatisfeita com o seu trabalho. Mas, além de existirem formas de evitá-lo, também há como ajudar um funcionário nessa situação.

O que é a Síndrome de Burnout?

Também conhecida como a síndrome do esgotamento profissional, a Síndrome do Burnout foi descrita pela primeira vez pelo psicólogo e acadêmico Herbert Freudenberger em 1974. 

O termo em inglês “burn out” significa “queimar por completo”. De acordo com o especialista em burnout, faz referência a “um estado de esgotamento mental e físico causado pela vida profissional”.

Um problema de saúde mental que ganhou destaque na pandemia de covid-19 devido ao isolamento social e ao trabalho remoto. Segundo a OMS, o burnout no trabalho é um fenômeno ocupacional definido a partir de três características:

  • Sensação de esgotamento mental e físico;
  • Sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao trabalho; 
  • Eficácia profissional reduzida.

Quais são as causas do burnout no trabalho?

Alguns fatores controláveis são apontados como os causadores dos quadros de burnout (Think Work)

Uma pesquisa realizada pelo Runrun.it com 1500 trabalhadores mostrou que 61% desses trabalhadores afirmam se sentir esgotados física e emocionalmente no final do expediente.

O principal gatilho para a Síndrome de Burnout são as más condições de trabalho. Altos níveis de estresse, sobrecarga, pouca autonomia, falta de reconhecimento e relacionamentos pessoais ruins são apenas alguns dos fatores de risco que podem levar um profissional a sofrer deste distúrbio psíquico.

Veja com mais detalhes algumas das causas do burnout no ambiente de trabalho:

Mal ambiente de trabalho e/ou assédio moral

Obviamente, quando existe um ambiente de trabalho ruim ou quando alguém da equipe sofre com situações de assédio moral, existe maior chance de acabar sofrendo com a Síndrome de Burnout

Falta de organização e falta de controle na empresa

O fato de o trabalhador nunca sair no horário e, como consequência, ter uma carga de trabalho excessiva, pode aumentar consideravelmente os níveis de estresse. 

Em geral, dinâmicas de trabalho disfuncionais (estilos de liderança fracos, pouco apoio, pouca atenção dos superiores, excesso de burocracia ou deficiências na definição do trabalho) têm uma influência muito negativa no humor dos trabalhadores.

Expectativas pouco claras

Outra causa que gera altos níveis de estresse no trabalho é não saber o que os superiores esperam das equipes ou não ter certeza do grau de autoridade que os profissionais possuem. 

Quando as expectativas não são claras, é altamente improvável que as pessoas se sintam confortáveis no seu trabalho.

Desequilíbrio entre vida pessoal e profissional

O excesso de trabalho pode causar falta de tempo para estar com a família. Neste sentido, é importante preservar um bom equilíbrio entre vida pessoal e trabalho. 

Ainda que a chegada do trabalho home office possa ter aliviado em grande medida este problema, é fundamental não se deixar levar por hábitos que impeçam a separação do trabalho da vida pessoal.

Características pessoais do trabalhador

Uma má adaptação ao trabalho, seja porque a posição não atende aos interesses do profissional ou porque ele não possui as habilidades necessárias, é outro motivo que pode afetar o estado emocional de um funcionário. 

Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o ambiente laboral não é a única causa do burnout, e existem características pessoais que podem tornar os profissionais mais propensos à síndrome.

  • Pessoas conformistas, inseguras, excessivamente perfeccionistas ou com baixa autoestima são mais propensas a sofrer de ansiedade quando submetidas a altos níveis de estresse;
  • Excesso de carga de trabalho.

Longas horas e uma carga de trabalho pesada ao longo do tempo podem se tornar uma rotina perigosa. Quanto mais tempo um funcionário passa trabalhando, menos tempo ele tem para atender às suas necessidades, estar com a família e cuidar de si mesmo. 

Insônia

A falta de sono como resultado da fadiga causa depressão, dores de cabeça, irritabilidade e aumenta a pressão arterial. Também causa um estado de letargia e apatia que pode levar os portadores a buscarem fontes de energia rápidas e pouco saudáveis: fast food ou café, por exemplo. 

Home office e burnout

O home office pode dificultar a delimitação entre a vida pessoal e profissional (Think Work)

O trabalho remoto ou trabalho híbrido pode levar ao aumento da produtividade, a oportunidades para melhor equilibrar o tempo dedicado ao trabalho e à vida pessoal e a redução dos custos operacionais nas organizações. 

Por outro lado, sem planejamento e organização adequados, este tipo de trabalho pode trazer efeitos negativos para as pessoas, como isolamento, depressão, violência doméstica, lesões musculoesqueléticas, fadiga visual, aumento do consumo de tabaco e álcool, ganho de peso e, em alguns casos, a Síndrome de Burnout.

A OIT e a OMS fizeram algumas recomendações para proteger a saúde dos trabalhadores em home office que inclui algumas mudanças cruciais na gestão. 

Essas organizações sugerem que os trabalhadores tenham equipamentos adequados para realizar suas funções, que forneçam suporte ergonômico e que preservem a sua saúde mental e psicossocial. As corporações devem: 

  • Fornecer as informações, orientações e treinamentos necessários para reduzir o impacto psicossocial e na saúde mental no trabalho;
  • Treinar líderes em gestão eficaz, liderança remota e promoção da saúde no ambiente de trabalho;
  • Adotar ferramentas de gestão de tarefas e esclarecer prioridades; 
  • Dar direito aos funcionários se desconectarem e dias suficientes de descanso;
  • Comunicar com clareza sobre cronogramas e resultados esperados;
  • Proporcionar um sistema comum de controle e disponibilidade para o trabalho.

Quais são os sintomas do burnout?

Os sintomas da Síndrome de Burnout podem ser físicos e emocionais. 

Manifestações físicas: dor de cabeça ou dor nas costas, distúrbios do sono, náusea, tensão muscular e cansaço, contraturas, fadiga crônica, problemas digestivos e hipertensão, por exemplo.

Manifestações emocionais: as pessoas com Síndrome de Burnout se sentem irritadas, tensas, desmotivadas, indiferentes (falta de interesse pelas coisas), improdutivas, sobrecarregadas e com manifestações cognitivo-comportamentais (problemas de atenção e memória, bloqueios de desempenho e isolamento). 

A Síndrome de Burnout nas empresas surge como resposta a uma situação de estresse laboral e dois dos sintomas mais comuns são a depressão e a ansiedade. Mas há muitos mais: 

  • Sentimento de fracasso e impotência;
  • Frustração;
  • Exaustão emocional;
  • Baixa autoestima;
  • Falta de concentração;
  • Pouca realização pessoal;
  • Baixo rendimento;
  • Estado permanente de nervosismo;
  • Comportamentos agressivos;
  • Dor de cabeça, taquicardia ou insônia;
  • Absenteísmo no trabalho;
  • Tédio, impaciência e irritabilidade; 
  • Comunicação deficiente.

Desta forma, esta síndrome está cada vez mais presente nas corporações e, aos poucos, constitui uma ameaça à retenção de talentos. Uma das formas de identificá-la o quanto antes, é conhecer suas fases e características.

O que pode ser feito para evitar o burnout?

Algumas medidas simples podem ser tomadas tanto pelos funcionários quanto pelas empresas para tentar evitar o burnout (Pixabay | Think Work)

A escassez de trabalho digno e motivador é um dos 5 fatores que contribuem para o aumento da infelicidade global – é o que indica o “Relatório de Emoções Globais de 2022” da Gallup. A pesquisa mostrou que 4 em cada 10 adultos sentiram muita preocupação (42%) ou estresse (41%) entre 2021 e início de 2022. 

Ainda de acordo com o estudo, emoções negativas como tristeza, raiva, estresse e preocupação são os sentimentos vividos por quase metade dos entrevistados de 122 países. 

Uma coisa é certa, a infelicidade está aumentando em todo o mundo. Sendo assim, o que as empresas e os profissionais podem fazer para evitar Síndrome de Burnout no trabalho?

No caso dos profissionais:

  • Para atingir grandes metas, focar em pequenos objetivos profissionais e pessoais;
  • Inserir atividades de lazer na rotina pessoal como jantar fora, sair com amigos, passear, ir ao cinema;
  • Evitar pessoas e situações negativas;
  • Evitar se reprimir expondo os sentimentos com pessoas de confianças;
  • Nunca se automedicar;
  • Evitar o consumo de álcool, tabaco, outras drogas e/ou qualquer substância que piore o estado emocional.

Para as empresas:

  • Criar uma cultura de trabalho mais saudável;
  • Fomentar um clima organizacional que preza pelo equilíbrio entre a vida pessoal e profissional de líderes e funcionários.
  • Disponibilizar profissionais de psicologia organizacional na gestão de pessoas para entender e apoiar os funcionários da melhor maneira possível; 
  • Ofertar benefícios e horários flexíveis, além da oportunidade do trabalho remoto;
  • Incentivar intervalos regulares, lazer e descanso em períodos de férias;
  • Desenvolver ações de bem-estar e saúde no trabalho;
  • Oferecer treinamentos e recursos adequados para que o trabalho possa ser realizado de maneira eficiente;
  • Demonstrar o reconhecimento profissional e mostrar que os funcionários são uma prioridade na organização.

Portanto, dessa forma, além de evitar a Síndrome de Burnout no trabalho, o departamento de gestão de pessoas trabalha para reter os melhores talentos, reduzir o índice de absenteísmo e a taxa do turnover

Qual é o tratamento do burnout?

Uma terapia psicológica pode ser útil para identificar as causas do estresse e encontrar estratégias para melhorá-las (Racool_studio | Freepik)

Em um estudo realizado pela Kenoby, 93% dos profissionais da área de RH afirmaram que ignoram as questões relacionadas à saúde mental dos funcionários. 

Não há dúvidas de que este é um sintoma das empresas com processos cada vez mais acelerados, exigentes e complexos. 

Entretanto, as corporações são responsáveis pelo bem-estar de seus empregados e, por isso, este transtorno precisa ser levado a sério e a orientação é que a pessoa afetada busque tratamento e acompanhamento com um profissional de saúde mental.

Por se tratar de um distúrbio emocional, normalmente o tratamento é realizado com sessões de psicoterapia e foca nas habilidades de gestão do estresse e o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. 

Para isso, os variados tipos de psicoterapia podem ser indicados para o tratamento do burnout

Em alguns casos, a pessoa afetada deverá consultar um médico psiquiatra e o tratamento poderá ser complementado com medicações psicotrópicas. 

Além disso, hábitos mais saudáveis como alimentação, atividades físicas e noites bem dormidas ajudam o paciente a controlar os sintomas do burnout no ambiente de trabalho e restabelecer o equilíbrio emocional e físico.

O que fazer se um funcionário for diagnosticado?

Como qualquer outra condição médica ou doença, a empresa deve dar todo o apoio ao profissional debilitado (yanalya | Freepik)

Uma pesquisa realizada pelo International Stress Management Association (ISMA-BR), apontou que em 2019, 32% dos profissionais brasileiros sofria com a Síndrome de Burnout.

“O trabalho não deveria ser visto como um problema. Ele é uma solução. Ou pelo menos deveria ser. Se você adoece por causa disso, há algo errado”, alerta Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

O que diz a legislação?

Quando um funcionário é diagnosticado por burnout, a doença ocupacional se enquadra no CID-11 código QD85. Assim, ele tem direito ao afastamento com licença remunerada por até 15 dias.

Em caso de licença superior a 15 dias, o empregado passa a ter direito ao benefício previdenciário do INSS, que também permite estabilidade provisória, ou seja, ele não poderá ser demitido sem justa causa por um período mínimo de até 1 ano. 

Por outro lado, em casos mais graves o afastamento por burnout pode ocasionar a aposentadoria por invalidez e o profissional deverá passar pela perícia médica do INSS.

É possível prevenir o burnout?

As consequências do esgotamento profissional são reais e tangíveis, e afetam tanto os trabalhadores quanto as empresas (Think Work)

76% dos funcionários experimentam esgotamento no trabalho pelo menos algumas vezes e 28% dizem que estão esgotados “com muita frequência” ou “sempre” no trabalho. É o que mostra o relatório Employee Burnout: Causes and Cures, da Gallup.

A primeira medida que uma empresa pode tomar para evitar que a Síndrome de Burnout apareça em seus trabalhadores é avaliar as situações que estão gerando estresse e fazer todo o possível para tentar reduzi-lo.

Isso envolve melhorar a gestão, além de ter um psicólogo organizacional para detectar a tempo aqueles trabalhadores ‘esgotados’ com o trabalho. 

Por parte do trabalhador, é importante trabalhar o autoconhecimento, autoestima, adotar hábitos saudáveis, procurar ter um bom relacionamento pessoal e adequar as expectativas profissionais ajustando-as à realidade. 

A importância da saúde mental no trabalho

Atualmente cada vez mais empresas oferecem apoio psicológico e programas de saúde mental para seus funcionários. 

Porém, uma pesquisa da Think Work sobre saúde mental no trabalho mostrou que 72% dos profissionais brasileiros que buscaram tratamento para a saúde mental não contaram com o apoio das organizações.

Para o trabalhador afetado será cada vez mais difícil resolver problemas ou realizar tarefas aparentemente simples, que acabarão por ter impacto no seu desempenho. 

Empresas e funcionários devem, portanto, se conscientizar do problema e aplicar as medidas necessárias para preveni-lo.

Embora pequenas mudanças possam ter um impacto positivo, às vezes é necessário tomar medidas mais drásticas, como mudar de emprego ou desistir de determinados objetivos.

Ao receber apoio, muitas pessoas começam a se sentir bem rapidamente. No entanto, se não for tratado, o burnout aumenta o risco de desenvolver transtornos psiquiátricos e problemas físicos no futuro.

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