O paradoxo da solidão em tempos de hiperconexão

Explore com Rafael Souto como a hiperconexão tecnológica aumenta a sensação de solidão e desconexão no trabalho

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Era paradoxal essa a que vivemos. Nunca estivemos tão conectados digitalmente, com ferramentas que nos permitem interagir com pessoas ao redor do mundo a qualquer hora. No entanto, a sensação de solidão e desconexão parece estar crescendo, especialmente no ambiente de trabalho.

A hiperconexão tecnológica, em muitos casos, se tornou um entrave à construção de conexões pessoais reais, tão essenciais para o desenvolvimento profissional e para o bem-estar.

Recentemente, no Gartner ReimagineHR Conference, um importante evento global para CHROs e lideranças na Flórida, foi apresentado um dado interessante: apenas 38% dos colaboradores que trabalham remotamente se sentem conectados a seus colegas. Além disso, 20% desses funcionários relataram sentir muita solidão no dia anterior. Esses números ressaltam a importância de abordar a solidão no ambiente de trabalho, tanto do ponto de vista individual quanto organizacional.

Aqui, não proponho um olhar pessimista em relação à conexão tecnológica. É um caminho inevitável, sem o qual não teríamos conseguido ultrapassar a pandemia e atingir novos patamares de negócio. No entanto, é impossível negar que o modelo de trabalho remoto amplificou esse paradoxo.

Embora ofereça flexibilidade e autonomia, o home office muitas vezes limita as oportunidades de interação espontânea, como conversas informais nos corredores, almoços em grupo e trocas de ideias no cafezinho. São essas conexões casuais que muitas vezes geram insights inesperados, impulsionam a criatividade e fortalecem laços profissionais.

O Dr. Warner Burke, autor de Learning Agility, caracteriza isso como aprendizagem social, uma forma de agilidade fundamental para o desenvolvimento profissional. Observar, aprender com colegas experientes, compartilhar experiências e receber feedback são parte de um processo de aprendizagem que ocorre naturalmente em ambientes de trabalho colaborativos. E quando digo colaborativos, refiro-me tanto aos modelos 100% presenciais quanto aos que combinam bem os ambientes on e offline.

A motivação também sofre com a falta de conexões significativas. O relatório State of the Global Workplace 2023, da Gallup, mostrou que apenas 23% dos funcionários se sentem engajados no trabalho. Os números são um alerta. Sentir-se parte de uma equipe, ter um senso de pertencimento e receber reconhecimento pessoal são fatores essenciais para o engajamento e a produtividade. A distância emocional – não apenas física – impõe barreiras à construção de relacionamentos mais fortes, impactando negativamente o sentimento de equipe e a motivação individual.

O futuro da carreira também é afetado. Conexões pessoais são fundamentais para abrir portas para novas oportunidades, seja por meio de networking, recomendações ou mentorias. Em um ambiente virtual, onde as interações são mais superficiais e menos frequentes, as chances de acessar essas oportunidades podem diminuir significativamente.

É crucial repensar como construímos relacionamentos profissionais em tempos de hiperconexão. Embora a tecnologia seja uma ferramenta poderosa, ela não deve substituir o contato humano. É preciso buscar alternativas para manter as conexões pessoais reais, investindo em encontros de qualidade, fomentando a colaboração em equipe e criando espaços virtuais que estimulem a interação genuína, não apenas a troca de informações.

O sucesso profissional não se resume à produtividade isolada; ele também depende da construção de uma rede sólida de relacionamentos, baseada na confiança, no respeito mútuo e na interação humana. A tecnologia deve ser uma ferramenta a serviço da conexão, e não um substituto para ela.

<strong>Rafael Souto</strong>
Rafael Souto

Fundador e CEO da Produtive Carreira e Conexões com o Mercado e membro do conselho da AMCHAM, é referência nacional no tema carreira e ministra palestras sobre o assunto.

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