Onda de demissões evidencia caráter estratégico do RH contemporâneo

Rafael Souto escreve, para a Today, sobre as habilidades necessárias ao RH contemporâneo no cenário atual do mercado

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Pressionada por transformações cada vez mais rápidas na dinâmica de gestão de pessoas, a área de RH vive um paradoxo. Mesmo com carreiras integrando a lista de cargos mais requisitados, profissionais de recursos humanos são alguns dos mais afetados pelas recentes demissões em massa. 

O departamento de recursos humanos da gigante Amazon, por exemplo, foi massivamente afetado pelo corte que, ao todo, atingiu 18 mil funcionários da companhia. Em janeiro, profissionais de todas as áreas, inclusive do RH, começaram a receber e-mails com a notícia de que “infelizmente, a sua função foi eliminada”. 

A empresa fundada por Jeff Bezos não foi a única big tech a se reajustar. Com cenário econômico incerto e a necessidade massiva de corte de custos, ainda no fim de 2022, Meta e Twitter já haviam dispensado outros milhares de profissionais. Se somados, os demitidos nos últimos meses passam de 150 mil e a onda de reestruturações também engole startups em todo mundo.

Se em todos os casos profissionais de RH estão entre os demitidos, o que explicaria a presença de funções de gerentes de análise de recursos humanos, diversidade, benefícios e experiência do funcionário na lista de carreiras promissoras para este mesmo ano de 2023? Segundo o levantamento, elaborado pelo LinkedIn, das 25 profissões mais demandadas nos Estados Unidos, seis estão ligadas à gestão de pessoas.

Na esteira desses números, uma pesquisa realizada pela Think Work reforça a sensação de apagão de talentos na área. Mais de um terço (34%) dos entrevistados acreditam que faltam profissionais qualificados na área de RH. 

De fato, as transformações no jeito de contratar, desenvolver, formar e reter talentos geram um sentimento de urgência nas organizações. O sintoma mais evidente dessa inquietude é o turnover na área de recursos humanos. 

O aparente descompasso prova o caráter estratégico e crítico do tema. Muitas empresas ficam mudando seus RHs, em vez de mudar velhas práticas de negócio que justamente impedem o desenvolvimento e a retenção de talentos, tidos como um dos maiores desafios das companhias. Líderes sem agenda para pessoas e gerentes soterrados pela operação não têm espaço para falar sobre gestão de carreira, um dos fundamentos da liderança inspiradora contemporânea. Sem diálogo de carreira, o engajamento cai e os talentos vão embora.

Responsabilizado pelo aumento do turnover, o RH paga por um pênalti que, na maior parte das vezes, não cavou. Para evitar isso, é preciso buscar causas (em vez de tratar sintomas) e forçar a reflexão na organização.

Tenho defendido a seguinte tese: o que mundo corporativo quer do profissional de RH é coragem para articular mudanças culturais profundas. Habilidades de gestão de carreira são mandatórias para líderes de todas as áreas. Fora o tempo de agenda, a prática necessita de formação e treinamento dos líderes para o diálogo de carreira.

Além do papel de articulador, é preciso estar em sintonia com as intensas transformações tecnológicas da área de RH. Basta retornar à lista de carreiras que mais crescem em demanda para perceber a forte presença de competências ligadas a people analytics nas funções de RH.

Conhecimentos sobre implementação de sistemas de gestão de recursos humanos eficientes e a utilização de análise de dados para tomar decisões estratégicas têm sido cada vez mais solicitados nos descritivos de oportunidades no mercado de gestão de pessoas. O sucesso pertence àqueles mais atentos ao gap de oportunidades e às zonas de transformação da área.

Uma carreira competitiva pressupõe a leitura de mudanças, ajuste de rotas e atualização constante. Esse é o único antídoto contra a obsolescência em qualquer profissão, e com o RH não é diferente. O que cada um deve fazer é essa pesquisa inquieta sobre as transformações e tendências na área.

O alerta ao gap de oportunidade, ou seja, à diferença entre o que o mercado exige e o que o profissional dispõe, é um chamado ao lifelong learning, o necessário aprendizado para a vida toda. Muito embora o e-mail de demissão enviado aos funcionários da Amazon informe que a respectiva função do profissional tenha sido eliminada, a verdade é que carreiras não desaparecem, elas se transformam.

<strong>Rafael Souto</strong>
Rafael Souto

Fundador e CEO da Produtive Carreira e Conexões com o Mercado e membro do conselho da AMCHAM, é referência nacional no tema carreira e ministra palestras sobre o assunto.

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