Verdades óbvias que (infelizmente) precisamos continuar falando

Para a Today, Silene Rodrigues escreve sobre velhos estigmas e conceitos que continuam minando a produtividade e a felicidade dos trabalhadores

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Publiquei recentemente no LinkedIn algumas reflexões sobre o mundo do trabalho e questões como relações humanizadas, maternidade, excesso de reuniões, entre outras, e confesso que fiquei surpresa com a repercussão e o interesse das pessoas nesses temas, compartilhando inclusive suas histórias reais. 

Honestamente eu preferiria não ter que falar sobre coisas tão óbvias como respeito, equidade, empatia. Esperava que em pleno século XXI, no ano de 2023, nós estivéssemos focados em entender como vamos continuar avançando e oferecendo condições de trabalho condizentes com as necessidades dos indivíduos, considerando temas como mobilidade, flexibilidade, desenvolvimento

Ao invés disso, sinto que estamos ainda falando sobre temas do passado. Sim, problemas que ainda ocorrem no ambiente do trabalho, mas que deveriam fazer parte de um tempo que já passou, afinal de contas já nos libertamos do Taylorismo, Fordismo, e outros “ismos”, não é mesmo?

O que importa onde e a que horas o trabalho é executado, desde que os resultados sejam os desejados? Que ideia é essa de que uma mãe não vai se comprometer e se dedicar ao trabalho? Que futuro temos se ainda há profissionais que precisam se desculpar por estarem enfermos? Ou pior, que se sentem na obrigação de contar detalhes de sua vida ou sua saúde que deveriam ser privados, para justificarem uma ausência ao trabalho?

Eu detesto ser repetitiva, mas pelos comentários que recebo em minhas postagens, sinto que precisamos continuar falando, discutindo e buscando alternativas. Mais do que isso, precisamos continuar nos preocupando com a educação de empresas, lideranças e trabalhadores para que, de verdade, as relações de trabalho sejam mais humanizadas. 

Nós não somos a Corey, robozinho do Teams, e tampouco fazemos parte da família do ChatGPT. Somos todos seres humanos buscando, acima de tudo, a felicidade.

E por falar em felicidade, existem sim estudos que tratam da felicidade no trabalho, que envolve praticar a positividade e priorizar as pessoas, possibilitando o atingimento do sucesso, a liberação da criatividade, sociabilidade, engajamento, produtividade e, sobretudo, saúde mental e física. Todos merecemos ser felizes no trabalho, fator que nos leva ao estado de “flow”, mas este merece um artigo à parte.

É importante, contudo, reconhecer que a felicidade representa coisas diferentes para pessoas diferentes. Alguns cientistas utilizam o termo “bem-estar subjetivo”, que sugere dois fatores importantes:

  1. “Subjetivo” porque estamos falando em grande parte sobre como as pessoas se sentem, o que significa que perguntar à elas o quão felizes são é um método válido
  2. “Bem-estar” porque os cientistas estão tipicamente estudando emoções positivas, mas também algo mais profundo e duradouro: um senso de satisfação e significado para a vida.

Também é fundamental reconhecer que a felicidade é influenciada por aquilo que pensamos e fazemos, e isso representa aproximadamente 40% dela. Ou seja, felicidade é majoritariamente uma escolha, um estado mental que requer exercício diário. 50% da felicidade está relacionada a fatores genéticos. Apenas 10% é resultado das circunstâncias da vida, isso porque nos acostumamos com as situações, quaisquer que sejam, e elas passam a não ter um impacto significativo. A neuroplasticidade nos permite reprogramar nosso cérebro para sermos felizes com aquilo que pensamos e fazemos.

Isso tudo para dizer que sim, o ambiente e as pessoas ao nosso redor, inclusive no trabalho, têm um papel importante na nossa satisfação e realização, e devemos nos indignar com o que não está certo. Mas não podemos nos tornar reféns. Cabe a cada indivíduo entender os seus limites e colocar barreiras para que nada, ninguém, nenhuma organização interfira em sua habilidade de ser feliz. 

Eu, do meu lado, vou continuar criticando os ambientes e pessoas tóxicas ao mesmo tempo que busco a felicidade em meu interior.

<strong>Silene Rodrigues </strong>
Silene Rodrigues

Diretora de recursos humanos na Adidas.

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