Um olhar sobre o Olimpo 

Matthias Wegener escreve sobre como ter uma relação mais próxima dos líderes das empresas pode motivar e inspirar as equipes

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O dia 27 de outubro foi marcado por um dos principais eventos do mundo esportivo: a final da Copa do Mundo de Rugby. Nela, a África do Sul se sagrou campeã pela quarta vez em sua história vencendo a Nova Zelândia, seleção popularmente conhecida como All Blacks, em frente a mais de 80 mil pessoas presentes no Stade de France em Paris.

Não estive presente na final, mas felizmente pude realizar um grande sonho de poder assistir alguns jogos presencialmente. Foram 8 no total, incluindo a quartas de final entre África do Sul e os donos da casa (França) que, para muitos, foi um dos principais jogos desta Copa do Mundo e também um dos grandes jogos dos últimos tempos. Foi realmente uma experiência incrível que jamais esquecerei.

Minha paixão pelo esporte vem de longa data. Comecei a jogar rugby aos 14 anos e rapidamente me apaixonei. Tive o prazer de jogar em um dos maiores clubes do Brasil (SPAC Rugby), onde pude ser campeão brasileiro de 2013 ao lado de grandes atletas, incluindo 5 jogadores que representaram o Brasil nos Jogos Olímpicos do Rio em 2016.

Mesmo jogando no nível mais alto que havia na época no Brasil, sempre soube que – em termos mundiais – eu e meu time estávamos muito distantes dos grandes jogadores dos principais clubes e seleções dos países com maior tradição no esporte, a ponto de parecer às vezes até um outro jogo. 

Para quem não tem muita familiaridade com o rugby, o Brasil nunca foi a uma Copa do Mundo e disputa historicamente com o Chile para ser a terceira força da América do Sul, atrás do Uruguai e da Argentina.

Por aqui, raramente temos a visita de uma grande seleção. Mesmo a Argentina, que é uma potência no esporte, não usa sua seleção principal para disputar torneios no continente. Assim, a única opção para acompanhar os principais jogadores a nível mundial acabam sendo as transmissões esportivas. 

Estas transmissões, como em todo esporte, acabam trazendo ângulos e focos do jogo que enfatizam as melhores ações, o melhor enquadramento do jogo e replays detalhados de cada lance. 

Com isso, por um lado podemos acompanhar em detalhes cada jogada, mas também temos um olhar enviesado sobre o jogo como um todo, não tendo como ver muitas vezes o que acontece longe do local onde está a bola ou uma visão mais ampla sobre o que o time inteiro está fazendo naquele momento, por exemplo. 

Isso certamente corrobora para a sensação de que aqueles que estão em campo são os melhores jogadores, uma vez que sempre que aparecem na tela eles estão ativamente participando de uma jogada, de um lance de destaque.

Entretanto, ao acompanhar os jogos in loco, algo que me saltou aos olhos logo no primeiro jogo foi: eles jogavam o mesmo jogo que eu. Por mais que a intensidade dos contatos entre os jogadores e a velocidade do jogo fosse outra, fiquei com a clara sensação de que aquilo que estava sendo feito ali também poderia ser feito pela minha equipe ou pela seleção brasileira, mesmo precisando de muito treinamento e desenvolvimento para chegarmos lá.

Mas já não era mais outro jogo. 

E instantaneamente me senti ainda mais conectado com tudo que estava acontecendo ali. 

Já não jogo mais. Mesmo assim, tenho certeza de que se jogasse, a inspiração de ver e sentir que estes jogadores estavam jogando o mesmo jogo que eu teria feito com que eu me sentisse mais motivado para treinar cada vez mais e chegar ao nível em que eles estão.

Minha reflexão olhando para o mundo corporativo é sobre o quanto as principais lideranças das empresas não estão sendo vistas pelos funcionários da mesma forma como eu via estes jogadores internacionais de rugby. 

Será que você está sendo visto pelos membros da sua equipe só nos momentos de destaque e de glória da empresa ou será que eles conseguem te enxergar como um ser humano completo? Será que seu nome só aparece na intranet quando se está celebrando um resultado ou um prêmio conquistado ou será que você também está lá para acompanhar os perrengues e para colocar a mão na massa e fazer a coisa acontecer?

Principalmente se a sua empresa tem maior dispersão geográfica e/ou uma grande quantidade de funcionários sobre a sua supervisão, é preciso ter cuidado para não ser visto só como o herói ou o ídolo pela equipe, mas também como um ser humano igual aos demais, pois é isso que os inspira para crescerem e se desenvolverem cada vez mais. 

É isso que verdadeiramente te aproxima da sua equipe e te torna um líder inspirador. 

<strong>Matthias Wegener</strong>
Matthias Wegener

Especialista em clima organizacional e modelos de gestão de pessoas, é head de pesquisas e benchmarking na Think Work.

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