Futuro do trabalho como um ambiente multitonal

Para a Today, Patrick Schneider propõe um olhar focado na diversidade multitonal para o futuro do trabalho

Não se conhece a real distância que estamos do horizonte apenas olhando para ele. Muitos são os fatores que nos fazem tentar descobrir esta medida: curiosidade, dúvida e incertezas nos movem a desafiar o desconhecido rumo a respostas para a falta de conhecimento em temas complexos. 

A cada novo passo que a pesquisa sobre o futuro do trabalho avança são ofertadas hipóteses que dão coloridos diferentes para este horizonte perseguido. No entanto, em todos eles eu busco me aproximar de um eixo centrado no ser humano, como pólo magnético para esta jornada, atraindo para si as reflexões em torno das inúmeras possibilidades atraídas por esta temática. 

Haverá espaço para que a liderança tenha o papel que conhecemos nos dias de hoje? Teremos tempo para que a área de Recursos Humanos encontre sua voz nesse debate? Estamos diante do maior ambiente de possibilidades ou na borda de um vale de desesperança para o trabalhador? 

Perguntas que têm guiado debates fervorosos em fóruns plurais sobre o tema ao redor do mundo, mas que ainda é inviável pensarmos como linha de chegada singular em nenhuma destas questões. Algo que me permito concluir é que teremos muitas possibilidades, já que com um acelerado processo de refrear a globalização, a sociedade pós-pandêmica e a reorganização em bolhas digitais afastam conclusões massivas sobre uma determinada matéria. 

Não se pode dizer que a semana de 4 dias é uma tendência mundial, tampouco a tão discutida extinção do trabalho híbrido, que mal chegou e em seus três joviais anos experimentado em larga escala, paulatinamente vem sendo mirado pelo retrovisor. 

Minha visão sobre esta não padronização de tais movimentos é muito otimista. 

Entendo que o mundo do trabalho vivido pelos escritórios de empresas multinacionais deixou de explorar a totalidade da diversidade cultural vivida no dia a dia das mais diversas cidades onde suas bases foram fundadas para empreender um padrão centrado em pouquíssimos países. 

Um exemplo disso poderia ser apontado como as culturas organizacionais centradas no modelo norte-americano que espalharam ao redor do planeta máquinas de café, colocando este hábito no dia a dia de muitos países onde a cultura de se consumir a bebida não é algo tradicional. 

Enquanto profissional de gestão de pessoas sempre me questionei se não fazia mais sentido no Brasil termos máquinas de sucos de frutas tropicais para tentar aplacar o severo calor imposto pelas altas temperaturas de nosso país. Me parece mais lógico do que servir o tradicional aditivo emergente de tirinhas de Dilbert, de Scott Adams. 

Pensar o futuro do trabalho como uma diversidade multifacetada e com possibilidades plurais aparentemente demonstra-se como um pórtico para ações que reflitam de fato uma cultura organizacional estabelecida por aquele ecossistema empresarial.

Compreender esta abordagem como um caminho viável amplifica e oportuniza pensamentos mais otimistas sobre as reflexões de pesquisadores como Jacob Morgan, que acredita que os líderes menos adaptáveis aos movimentos empreendidos pelo mercado não terão seu espaço garantido, ou, os “especialistas repetitivos” não entrarão em extinção a partir da soberania dos “generalistas criativos” pregado por Ian Beacraft em seus estudos, e neste sentido, teremos por muitos anos ainda os “monólitos digitais” de Amy Webb com funções compatíveis com seu nível de colaboração.

Imagine a pobreza que seria pensar em um futuro do trabalho desenhado a partir da visão monocromática que nos trouxe até aqui. Um ambiente em que a diversidade e inclusão precisa ser imposta top down em líderes que ainda vivem a era das piadas de mau gosto focalizadas em grupos sub representados nos espaços de poder.  Espaços de trabalho em que se abre a porta para referir-se a fantástica contribuição geracional, restringindo-a ao clichê “conflito de gerações”.

Ajustarmos as lentes que miram tal futuro para um espaço onde as individualidades organizacionais possam ser celebradas com ações que talvez não sirvam massivamente de benchmark para outras empresas, mas que ofereçam a primazia da inovação focada em ofertar soluções que solucionem questões críticas para os profissionais, comunidades próximas, clientes e fornecedores presentes no dia a dia destas organizações.

Eu não sei a que distância estamos deste horizonte, mas sem dúvida se não começarmos a pensar neste tempo vindouro, talvez sigamos vivendo estas transformações como expectadores que são tão somente ouvintes de narradores que, de tão enfáticos em seus pontos de vista, nos convencem de que estamos fadados a sermos substituídos por sistemas tecnológicos superinteligentes.

Me mantenho neste lugar de crença de que somos complexos, plurais e ao mesmo tempo carregamos conosco a beleza da individualidade de pensar e agir, elementos vitais para que exista algo a ser chamado futuro do trabalho. Um futuro com uma potente carga multitonal refletindo o tamanho de nossa presença no planeta. 

<strong>Patrick Schneider</strong>
Patrick Schneider

Gestor de Recursos Humanos LATAM com 20 anos de atuação em companhias globais, autor e pesquisador na área de futuro do trabalho.

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Comentários Futuro do trabalho como um ambiente multitonal

  1. Excelente artigo. Os conteúdos do Patrick nos levam sempre a questionamentos e possuem a capacidade de nos fazer refletir e despertar nossa atenção para o tema.

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