Viva o espremedor de batatas!

Para a Today, Daniela Moreira escreve sobre como a inovação no RH das empresas não precisa ser um processo complexo ou tecnológico

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A caminho do aeroporto, na minha última viagem ao Brasil, parei numa lojinha de bairro para comprar uma lembrança para uma amiga norte-americana que mora aqui na Inglaterra. Não foi uma cachaça nem um par de havaianas. Foi um espremedor de batatas, daqueles que se encontram em qualquer feira de rua ou loja de um real em São Paulo.

Ela, que trouxe dos Estados Unidos alguns dos gadgets culinários mais sofisticados que eu já vi na vida – incluindo um multiprocessador de alimentos que mais parece um transformer -, ficou maravilhada ao me ver usando esse simples acessório de “lata” que se encontra em qualquer cozinha brasileira.

Pensei comigo: “não é possível que não tenha uma coisa dessa por aqui”. Fui imediatamente procurar na Amazon – e me dei conta que não sabia nem como escrever o nome disso em inglês. Depois de algumas tentativas frustradas, encontrei um similar por nada menos que 10 libras, na época, a bagatela de quase 70 reais. 

Um assalto a mão armada – nunca paguei mais de 15 reais num espremedor de batatas. Inconformada, falei pra ela que traria um do Brasil – não é só pelas 10 libras, virou uma questão de honra.  

Não preciso nem dizer que o presente foi um sucesso. Ela comentou super animada que passou a fazer “hash browns” todos os dias pro marido (um dos truques que eu aprendi com a minha mãe, brasileira, e ensinei pra ela: usar o espremedor para tirar a água da batata ralada, o que facilita muito na hora de fazer esse prato típico americano de café da manhã).

E o que essa história tem a ver com inovação no mundo do trabalho (tema desta coluna de hoje, por incrível que possa parecer)?

Bem, uma das coisas que ouvimos frequentemente dos RHs é que a empresa deles não é inovadora em práticas de gestão de pessoas.

Esse é um mito que vem de algumas pressuposições equivocadas.

Primeiro, a ideia de que inovar tem a ver com tecnologia. Não tem, necessariamente – ou pode até ter, porque um espremedor de batata, por exemplo, não deixa de ser uma “tecnologia”. 

Mas uma “tecnologia” nada mais é do que um recurso para fazer algo de forma diferente. Um recurso que até então não estava disponível para a minha amiga americana – que têm acesso aos aparelhos mais high tech do mercado.

Um recurso que simplificou a vida dela e permitiu que ela inclusive mudasse de hábito, podendo fazer o café da manhã favorito do marido todos os dias.

E essa é outra premissa que, para nós aqui da Think Work, define inovação no RH: é algo que muda e melhora a vida das pessoas, deixa elas mais felizes, mais produtivas, facilita o trabalho delas.

Outra suposição que nem sempre se sustenta é a de que inovar custa caro. Acho que ilustrei muito bem esse ponto acima, né? Inovar pode custar muito barato, ainda mais se a gente souber onde “comprar” a inovação.

E inovar não significa, necessariamente, construir algo do zero. A inovação pode vir da prateleira. A simples introdução de uma ferramenta nova em um ambiente em que ela não estava sendo usada pode causar uma disrupção. E isso é inovar. 

Um simples espremedor de batata – no lugar e momento certo – pode ser altamente disruptivo.

Outro ponto que essa simples história ajuda a ilustrar é que a inovação pode vir de qualquer parte. 

Com a nossa eterna síndrome de vira-lata, estamos acostumados a essa ideia de que tudo que vem de fora – especialmente se for dos Estados Unidos ou da Europa – é melhor.

Mas a verdade é que a necessidade é a mãe da invenção, por isso nós, brasileiros, somos experts em criar soluções criativas para problemas complexos. Não sei se o espremedor de batatas foi inventado por nós, mas sem dúvida ele é muito mais popular no nosso Brasilzão que aqui na Inglaterra – que é a terra da batata.

Por isso acreditamos tanto que é importante dividir boas experiências – tenham elas nascido em uma grande startup de tecnologia internacional ou em uma pequena empresa familiar de produtos artesanais do interior do Brasil.

Inovação boa é aquela que a gente pode copiar e adaptar à nossa realidade. Inovação boa é inovação compartilhada. Algo que sua empresa faz há 40 anos, pode ser algo completamente novo e transformador para uma outra organização.

Por isso, no Prêmio Think Work Flash Innovations, aceitamos todo tipo de inovação. E na hora de julgar as iniciativas, não estamos procurando projetos caros, complexos ou grandiosos. Estamos olhando para inventividade, impacto, simplicidade, eficácia.

O convite que faço a vocês nessa Today de hoje (aliás, uma inovação simples e eficaz para compartilhar as boas ideias e práticas do RH, que chega hoje à sua 100ª edição) é: olhem para as organizações e vejam tudo que vocês estão fazendo de bacana, que faz as pessoas felizes, que dá orgulho, que facilita vida dos funcionários, tudo aquilo que provocou mudanças no dia a dia.

Muito provavelmente, por trás dessa iniciativa, tem algo de novo a ser aprendido. E se tem aprendizado, vale a pena ser dividido.  

Olhando por essa lente, tenho certeza que tem várias inovações na sua empresa que você ainda pode inscrever no Innovations 2023. A pedido de vocês, prorrogamos as inscrições em mais uma semana, então dá tempo de participar.

Se, apesar de tudo, você ainda está pensando “mas será que isso aqui que a gente faz é inovador mesmo?”, meu conselho é: inscreva-se de qualquer forma.

Na pior das hipóteses, você vai receber um feedback nosso – todas as empresas que completam o processo recebem uma folha de avaliação comparando sua nota com as demais da mesma categoria. E nesse simples material, você já encontra insights e ideias para inovar dentro dessa categoria na sua empresa.

Mesmo que não seja finalista, seu projeto pode garantir uma certificação de RH Inovador para sua empresa – basta garantir a nota mínima de 70 pontos. 

E se você já inscreveu uma iniciativa, inscreva mais! As empresas que submeterem os seis projetos permitidos concorrerão ao prêmio de RH Mais Inovador. Se você já inscreveu uma prática, sabe que é simples e rápido. Por que não tentar? O que você tem a perder? Talvez você descubra que sua empresa é muito mais “inovadora” do que você imagina.

Parece bom demais pra ser verdade? Pois é, esse é o espírito do Innovations. Queremos espalhar e celebrar a inovação no RH, queremos que todo mundo participe, queremos que vocês enxerguem esse processo não como uma mera competição – em que só entra quem pode vencer -, mas em um grande momento de troca, em que todo mundo que participa aprende e sai ganhando.

Convencido de que vale a pena participar? Então bora procurar o “espremedor de batatas” que tá escondido aí na sua gaveta!

<strong>Daniela Moreira</strong>
Daniela Moreira

Fundadora e COO da Think Work, jornalista especialista em tecnologia e mestre em Mídia, Comunicação e Desenvolvimento pela London School of Economics and Political Science.

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