Tomar consciência da extensão dessa nossa capacidade pode impulsionar o ser humano ao papel de protagonista do futuro, em um ambiente de trabalho cada vez mais imprevisível
Lembro da curiosidade que despertou em mim o termo “agilidade emocional”, que me chegou pela primeira vez por um artigo da Harvard Business Review (HBR). O texto propunha um assessment (avaliação ou exame) para medirmos se somos emocionalmente ágeis. Tempos depois, a inesperada pandemia de covid-19 se mostraria um assessment ainda mais poderoso para essa questão.
A descoberta da agilidade emocional fazia, então, muito sentido para mim, para o momento que eu vivia em minha carreira. Eu me perguntava como levar a área de recursos humanos a repensar o seu papel enquanto designer de soluções, sem antes compreender qual a abertura para as mudanças dentro da equipe.
Era difícil materializar um caminho em meio a tantas necessidades adaptativas. E adaptação requer justamente agilidade emocional, algo que todos demonstraríamos ter com a eclosão da pandemia de covid-19, quando, entre 2020 e os dois anos que seguiram, fomos obrigados a uma adaptação que antes sequer podia ser imaginada.
Agilidade emocional na pandemia
Foi um período muito desafiador para todos. Realmente, vivemos algo que nos demandou muito autoconhecimento nos anos de covid-19. Mas fica a dúvida: será que aprendemos algo de verdade neste período?
Por vezes, ao presenciar a impaciência no trânsito ou as mais variadas formas de intolerância recreativa que teimam em nos rodear, me parece que desperdiçamos uma oportunidade incrível de evoluir enquanto humanidade.
Mas o fato é que, se olharmos com atenção, descobrimos que somos capazes de adaptação, porque temos agilidade emocional, uma habilidade que tende a ganhar peso nos próximos anos.
Cada vez mais, seremos demandados a acionar tal capacidade no ambiente de trabalho. Seja pelo ecossistema, onde passam a interagir múltiplas gerações, seja pela retomada da vida no pós-pandemia, marcada por uma policrise com duas grandes guerras em curso envolvendo Ocidente e Oriente, que nos instiga a repensar a forma de fazer negócios.
Agilidade emocional e futuro
Na época em que conheci o termo “agilidade emocional”, aliás, havia acabado de sair o Originais: Como os Inconformistas Mudam o Mundo (Sextante), de Adam Grant. O livro foi publicado em 2016 – no ano seguinte, ganharia edição brasileira – e eu o devorei ainda em inglês, no ano do lançamento.
Eu o devorei justamente por estar ligado à ideia de inovação pautada em intraempreendedorismo – na participação ativa e intencional das pessoas, na nossa própria capacidade de agir – e impacto imediato percebido no cliente.
Para muitos autores dedicados a decifrar o futuro do trabalho, como Eric Mosley e Derek Irvine, esta capacidade é a pedra angular em uma ponte que conecta o profissional de hoje com aqueles que pretendem manter-se relevantes em um ambiente em que a interação cérebro-máquina nos levará para a maior revolução laboral dos últimos cinco séculos.
Mosley e Irvine são autores de Making Work Human – How Human-Centered Companies are Changing the Future of Work and the World (algo como “Tornando humano o trabalho: como as empresas centradas no ser humano estão mudando o futuro do trabalho e do mundo” em tradução direta; ainda sem edição no Brasil).
Eles defendem que humanizar a relação de trabalho passa por compreender o soar de um alarme interno sempre que somos acionados pelo desconhecido.
Agilidade emocional e autoconhecimento
À leitura da dupla, vale juntar a de Susan David, autora de Agilidade Emocional: Abra Sua Mente, Aceite as Mudanças e Prospere no Trabalho e na Vida (Cultrix, 2016), livro publicado no Brasil no mesmo ano em que passei a conhecer o termo que pauta este artigo.
Segundo a doutora Susan David, agilidade emocional e autoconhecimento estão irmanados. Ser emocionalmente ágil é “ser flexível com seus pensamentos e sentimentos para reagir da melhor maneira possível às situações do dia a dia”. Basicamente, é compreender seu próprio funcionamento, trazer o autoconhecimento para dentro da dinâmica “alarmática” das nossas emoções com os diferentes desafios do nosso caminho.
Outro autor importante, neste debate, Humberto Maturana, que infelizmente nos deixou recentemente, instituiu a “Biologia do Conhecer” e argumentou a favor de uma possível superação da dicotomia entre natureza e cultura ou entre biologia e sociologia. Essa superação teria implicações para a educação e para a capacidade de leitura (ou visão) de cada pessoa.
Uma alquimia com poder
A alquimia que surge entre os ensinamentos de Susan David e Humberto Maturana, dentro da sociedade em que vivemos, poderá nos permitir seguir encontrando os indivíduos “originais” destacados por Adam Grant, e a nos garantir um lugar no futuro, como preveem Eric Mosley e Derek Irvine.
Que indivíduos originais? Pessoas que conseguem transpor barreiras invisíveis impostas por nossa teimosia em desacreditar a capacidade adaptativa humana, ainda que tenhamos demonstrado tamanha plasticidade durante os anos pandêmicos.
Tomar consciência da extensão dessa nossa capacidade pode impulsionar o ser humano ao papel de protagonista do futuro, tornando mais uma vez a adaptação intencional uma via de diferenciação incrível da nossa espécie em um ambiente de trabalho cada vez mais imprevisível.
Talvez um dia seja anunciado que se adaptar e sentir (do modo limítrofe em que conseguimos verbalizar o que estamos passando) são juntas as colunas de sustentação do nosso DNA enquanto espécie no universo dos seres vivos.
Quem se arrisca a duvidar possivelmente não se emocionou como eu ao ver a batalha adaptativa para a qual fomos recrutados nos últimos três anos, e que provavelmente não voltaremos a ver nos próximos cem anos (assim espero).
Uma das maiores dificuldades administrativas, creio ser o domínio emocional. A inteligência emocional não é tão fácil ainda mais quando se é colérico e convivemos com outro igual ou não, tb…
Mas nos é de suma importância para termos um bom desempenho profissional e na vida, como um todo.