Evento em SP discute a inserção de jovens no mercado de trabalho

Evento promovido pela Fundação Itaú gira em torno da importância da educação profissionalizante para os jovens, vista como caminho para a inclusão social e a redução da violência e como combustível para a economia

Especialistas em educação, juventude e mercado de trabalho se reuniram na tarde desta quinta-feira em um evento na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, para falar sobre o investimento educacional em jovens, com vistas à inserção na economia. 

Promovido pela Fundação Itaú, o Encontro Educação e Trabalho – Perspectivas da Educação Profissional e Tecnológica apontou para a necessidade de se dobrar a aposta na capacitação de jovens, como meio para incluir o Brasil na nova economia mundial, e ao mesmo tempo diminuir a exclusão, a violência e o desmatamento.

O evento teve no comando a psicóloga Ana Inoue, superintendente do Itaú Educação e Trabalho. Já na cerimônia de abertura, Ana ressaltou a importância de se pensar de forma estratégica. A questão da geração “nem-nem” – que nem trabalha nem estuda – não se resolve com a criação de cursos à revelia do desejo do seu público-alvo. 

É preciso escutar os jovens, entender o que eles querem e construir soluções conjuntas, por vezes intersetoriais, com a participação de diversos segmentos da economia.

Como exemplo, Ana citou o caso de uma formação profissionalizante de pedreiro oferecida na periferia. Ao lado, um DJ local colocou uma plaquinha, pintada na hora, em que se lia: “Curso de DJ a 100 reais”. Logo se formou uma fila de jovens ali, muitos munidos dos comes e bebes oferecidos pela formação para a construção civil. 

Curiosa, Ana entrou na fila para saber por que ela fazia tanto sucesso. Ouviu dos jovens que eles não queriam ser pedreiros, como o pai ou o avô. “Os jovens sabem o que querem”, disse Ana. “Temos de pensar nas propostas que possam avançar.”

Ou, como lembrou o Secretário Nacional da Juventude do governo federal, Ronald Sorriso, na mesa do evento sobre os desafios atuais dos jovens no mundo do trabalho, eles sabem o que não querem. E isso já é o suficiente para quem quer investir nessa população em idade economicamente ativa. 

“Saber o que não se quer é às vezes mais importante do que saber o que se quer. Aquilo que o jovem não rejeita ele muitas vezes ele não conhece, e nós podemos apresentar”, afirmou Ronald. 

Segundo ele, a secretaria que comanda nasceu em 2005, a partir do reconhecimento de que juventude não era um estado de espírito, mas “uma população que precisa de direitos, criados por política pública”. Foi na esteira da criação do órgão que nasceu o ProJovem, Programa Nacional de Inclusão de Jovens, voltado à reintegração educacional de jovens urbanos de 18 a 29 anos, que recentemente ganhou um braço voltado ao campo. 

Seja onde for feita a aposta, para Ronald, a solução passa pela conexão entre o regional e o universal. “Precisamos canalizar os investimentos para o desenvolvimento local, conectando-o ao desenvolvimento global.”

A potencialidade negra

Em participação por vídeo, a filósofa e ativista Sueli Carneiro, fundadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, organização negra e feminista independente de São Paulo, reforçou o papel da educação profissional como arma contra a desigualdade social e a violência.

O Geledés hoje oferece cursos como o de multimídia, em que os jovens não apenas aprendem a produzir narrativas com apoio da tecnologia, mas a repensar seu lugar no mundo, sua atuação dentro da própria família, da comunidade a que pertencem e no país, como um todo.

“As mulheres negras são o segmento da população brasileira que tem realizado o maior esforço de escolarização. É preciso que encontrem acolhida nas empresas”, afirmou Sueli, no vídeo enviado para a produção do evento. “O único antídoto contra a violência que se abate contra o jovem negro no Brasil é o investimento nesses jovens, a possibilidade de desenvolverem seus múltiplos talentos. Vale a pena investir na juventude negra. Pode crer.”

A participação do Geledés foi marcada por uma homenagem à professora Solimar Carneiro, irmã de Sueli que fundou com ela o Geledés. Solimar, que faleceu neste ano, faria aniversário nesta quinta. “Uma vez, uma professora me disse que, entre a vida e a morte, existe a obra”, disse Ana, emocionada.

A proposta do Geledés, aliás, vai ao encontro do que propõe Ana, quando fala em ouvir o que o jovem deseja. Inspirado no hip-hop, que nega as práticas educacionais convencionais, desenvolvidas para repetir o modelo das culturas dominantes, o instituto faz uso de uma pedagogia que valoriza a cultura local, de cada grupo. A chamada pedagogia hip-hop vai virar livro em breve.

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