Case da Editora Mol, a “Licença Menstrual” foi a grande vencedora da edição deste ano da premiação Think Work Flash Innovations 2023
Formada majoritariamente por mulheres, a Editora Mol não tem medo de inovar para dar atenção àquele que é o seu maior público interno – um público historicamente deixado de lado. No site, o slogan “Fazemos diferente pra fazer a diferença” define o posicionamento da companhia, fundada em 2007 com o propósito de gerar impacto social positivo, pelo qual destina doações anuais de 4,4 milhões de reais, via ONGs e causas humanitárias.
Em meio à luta, o reconhecimento. Em agosto, uma iniciativa de RH da MOL foi a grande vencedora do Think Work Flash Innovations 2023. A Licença Menstrual, implantada em março deste ano, levou o troféu de “Destaque do Ano” no prêmio, pensado para dar visibilidade a projetos inovadores no mercado. A cara da empresa, que ainda faturou a categoria Remuneração e Benefícios.
Abaixo, a gerente de gente e cultura da Editora MOL, Gisele Soares, diz como a Licença Menstrual foi criada para atender às necessidades das funcionárias, sem burocracia ou constrangimento. Confira:
Think Work: Como surgiu a ideia da Licença Menstrual?
Gisele Soares: Cerca de 84% do nosso quadro de funcionários é composto de mulheres. Então, quando olhamos para nossos benefícios e programas, também focamos com atenção no público feminino, além do masculino. Em fevereiro, vimos que algo como a licença menstrual já era realidade na Espanha e em países orientais, mas ainda havia entraves. Aqui no Brasil, havia uma tentativa de Projeto de Lei. Nós queríamos uma iniciativa simples. Sem tabus.
Como os homens da empresa reagiram à ideia?
O projeto foi super bem aceito. Os líderes o viram como uma mudança bastante positiva para as relações da empresa.
Como a Licença Menstrual funciona?
As trabalhadoras que sofrem com o período menstrual têm direito a passar até dois dias do mês afastadas do trabalho. Não é preciso laudo ou atestado, basta avisar à liderança para que a demanda seja redistribuída. Nós entendemos que a menstruação gera desconfortos. Então, por que não ajudá-las?
Por não requerer laudo ou atestado, se cultivam relações de confiança na empresa?
Muitas pessoas pensam que as mulheres podem utilizar a licença para não trabalhar, mas aqui existe uma relação de transparência dos dois lados. Em tudo o que fazemos, pensamos em nossos funcionários.
Como tem sido a adesão?
No começo, foi estranho para elas. Em março, o primeiro mês, só tivemos um pedido. Em abril, dois. Em maio, já foram quatro. Somando os oito meses, foram 22 solicitações.
Que melhorias que vocês enxergam com a implementação?
As melhorias são mais relacionadas à motivação e ao engajamento. Para a MOL, a produtividade não está ligada à quantidade de horas trabalhadas.
Na sua opinião, por que falta interesse de outras companhias pela medida?
Poucas empresas no Brasil têm direção feminina. A maioria é masculinizada ou com resquícios da cultura do machismo. Por isso, enxergam a iniciativa como “desnecessária”. A CEO da MOL, Roberta Faria, diz que, “se os homens menstruassem, a licença já seria lei há muito tempo”.
Por que você acha que o projeto chamou atenção no Innovations?
Muitas pessoas pensam que inovação é sinônimo de tecnologia e alto investimento. E, na verdade, não. Inovar é trazer melhorias para os funcionários. Às vezes, a diferença vem das coisas simples.
Qual dica você daria para quem quer inovar como vocês?
O primeiro passo é entender a individualidade dos funcionários. As pessoas são diferentes, a cultura e as necessidades da empresa, também. O ambiente de trabalho também precisa ser leve, com foco na saúde e bem-estar. Isso não pode ser apenas marketing, precisa ser vivenciado diariamente.
Quais são os próximos passos?
Nas licenças de maternidade e paternidade, além do tempo previsto na legislação, a MOL concede mais 90 dias aos funcionários. São 30 dias de afastamento e 60 dias em regime de meio-período, com remuneração integral. Em breve, nós estaremos testando a semana de 4 dias de trabalho. Quem sabe no futuro possamos ser reconhecidas por inovar nisso também.