Análise de dados de funcionários trata mais problemas que previne

O baixo percentual de projetos inscritos na área de People Analytics levanta questão sobre o verdadeiro significado da inovação na área de análise de dados

Falta ousadia na análise de dados, nas empresas. Das 415 iniciativas inscritas no Prêmio Think Work Flash Innovations 2023, apenas 4% concorriam pela categoria de People Analytics, um número que é quase uma reprise de 2022, quando o nicho somou 3%. Como diz o nome, a ferramenta permite a análise de informações das pessoas, uma forma de entender e atender melhor o universo de uma empresa.

A falta de investimento em people analytics é comprovada por outro dado do Prêmio Innovations. A ferramenta é usada, sobretudo, de forma reativa: para mitigar problemas, e não para evitá-los. As empresas certificadas que utilizam a análise de dados o fazem mais para obter diagnósticos e resolver problemas (71%). Apenas 14% chegam a análises preditivas. Ou seja, as companhias não atendem ao velho ditado de que é melhor prevenir do que remediar.

De acordo com uma pesquisa da PwC Brasil com a Fundação Dom Cabral (FDC), menos de um terço das empresas (29%) destacaram a adoção de iniciativas relacionadas a people analytics em 2023, priorizando a coleta e análise de dados para decisões estratégicas e ferramentas de business intelligence.

Em um cenário ideal, a ferramenta de people analytics seria utilizada em benefício dos profissionais, seja para instaurar um ambiente de trabalho saudável ou para entender melhor a satisfação dos trabalhadores. É possível fazer muito com ela. Segundo dados do Innovations, 40% das companhias que fazem uso da análise de dados no recrutamento também a utilizam para a seleção de talentos.

Mas esta é uma minoria. Hoje, a ferramenta é mais usada para contabilizar demissões – em vez de ajudar a enxergar os caminhos para evitá-las. Hoje, menos de 15% das empresas acompanham com frequência o feedback fornecido aos profissionais, somente 21% medem a produtividade dos funcionários, e 29% acompanham a evolução de causas trabalhistas.

O setor que recebe um pouco mais de atenção é o da sinistralidade em planos de saúde, priorizada em 36% das companhias.

Apesar da falta de iniciativas originais, o People Analytics é uma das maiores tendências de transformação digital no RH, ocupando o terceiro lugar da lista (56%) dos temas que estiveram presentes na construção de uma gestão de pessoas mais tech no Innovations 2023.

People analytics em 2023

No ano passado, entre as iniciativas de destaque no Prêmio Innovations, quase metade – 43% – correspondia a adaptações de práticas já inseridas na rotina da cultura organizacional. Será que não há nada de novo no front? Felizmente, há sim.

A Suzano, gigante do setor de celulose e papel, criou um Portal de People Analytics para o apoio estratégico em gestão de pessoas. Formulado em 2018, a partir da fusão da companhia com a Fibria, o portal atendeu à necessidade de reestruturação da área de RH, sem afetar os quase 20 mil funcionários de ambas as empresas. Nele, é possível encontrar informações e dados estratégicos para o suporte às equipes de RH e outros departamentos.

O Grupo Boticário, da indústria de cosméticos, também apostou em ter uma visão sistêmica da empresa por meio da análise de dados de funcionários. A ideia de “deixar tudo na mesma página” foi o que propiciou a criação do Painel Integrado de Dados do RH.

Com ele, os gestores podem acessar os perfis das equipes e consultar diversos dashboards – com dados ligados a setores como a diversidade e plano de carreira. O painel ajuda a situar a equipe dentro das metas da empresa. Para quem está no comando, ele disponibiliza dados referentes a engajamento, promoções e capacitação profissional, visando a uma maior eficiência de todos e todas.

De olho no turnover

É fato que investir em People Analytics acelera as estratégias do RH, otimiza processos e impacta a retenção de talentos, reduzindo, consequentemente, o turnover – critério mais monitorado pelas empresas (93%).

Para colocar essa teoria em prática, a Ecolab, do setor químico, propôs a criação de um sistema capaz de cruzar dados referentes ao risco de demissões nas empresas – o Talent Retention. As informações cruzadas também relacionam outros dois tópicos: a performance e o salário das equipes.

A plataforma fornece informações para a avaliação de desempenho dos profissionais e verifica se a concorrência tem chances de “roubar” a equipe com remunerações maiores. Com os gráficos nas telas, o gestor tirou um peso das costas, pois passou a ter ajuda do Talent para analisar se algum profissional deve ser promovido. Antes, a decisão era feita apenas pelas convicções do chefe, sem embasamento de dados.

Por conta dos avanços na gestão empresarial, o time de RH obteve o aval para um orçamento extra superior a 1 milhão de reais para o projeto, o qual auxiliou na diminuição da defasagem salarial entre os profissionais. O resultado surtiu efeitos positivos, visto que 13% dos funcionários tiveram reajuste na remuneração.

A tecnologia, como mostram esses casos, pode ser uma grande aliada das empresas. E do RH.

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