Como encontrar o par ideal?

Para a Today, Matthias Wegener escreve sobre os principais fatores de atração no mercado de trabalho e como empresas e candidatos podem encontrar o match ideal

Logo Today

Todo mundo já ouviu em algum momento o ditado popular ‘trabalhe com o que você ama e nunca mais precisará trabalhar na vida’, não é mesmo? Embora tenha quem concorde e quem discorde desta afirmação, uma variável importante fica de fora desta frase: o local onde trabalhamos.

Trabalhar com o que se gosta certamente é importante. Mas ter um ambiente agradável, contar com pessoas em que se possa confiar e ter uma conexão afetiva com a empresa certamente são alguns aspectos que podem tornar o dia a dia ainda mais prazeroso.

Ao escolher uma companhia, todos nós levamos em consideração diferentes aspectos, que dependem muito da motivação, do momento de vida e dos objetivos profissionais de cada um. 

Mas existem algumas características que hoje se destacam entre os brasileiros quando o assunto é procurar emprego. A pesquisa Think Work Market | Momento Profissional, coletada em outubro de 2022, teve como um dos seus objetivos mapear os principais fatores de atração no Brasil, ou seja, entender porque as pessoas escolheram as empresas onde estão atualmente.

Neste mapeamento, se destacaram como principais fatores as oportunidades de aprendizado e desenvolvimento (30%), o compartilhamento de valores entre a empresa e os candidatos (23%), a remuneração oferecida (22%) e a necessidade de trabalhar (19%). 

Enquanto os fatores voltados para desenvolvimento, compartilhamento de valores e remuneração já são figurinhas carimbadas entre as primeiras opções em pesquisas como esta, chama a atenção o fato de quase um em cada cinco respondentes ter optado pela sua empresa atual por conta da necessidade de trabalhar e não por uma escolha pessoal. 

Este dado certamente reflete os cerca de 9,5 milhões de desempregados medidos pelo IBGE no 3º trimestre de 2022, que muitas vezes optam por uma oportunidade de trabalho muito mais guiados pela necessidade do que por uma escolha baseada em seus desejos e anseios de carreira.

Mas se tanta gente não tem a oportunidade de escolher o seu empregador ideal, o que será que as pessoas gostariam de encontrar nas suas empresas dos sonhos?

Segundo a pesquisa citada anteriormente, na empresa ideal as pessoas iriam compartilhar dos mesmos valores que a organização (35%), receberiam um bom pacote de benefícios (30%), teriam boas oportunidades de aprendizado e desenvolvimento (29%), ganhariam um bom salário (26%) e poderiam contar com horários flexíveis (25%). 

Até que é uma boa pedida, né?! E, de fato, alguns fatores parecem condizentes com o que as pessoas citaram entre os aspectos que as motivaram a entrar nas suas empresas atuais, não é mesmo?!  

Entretanto, quando comparadas as respostas entre os três principais fatores de atração para a empresa atual e a empresa ideal de cada respondente, em apenas 1% dos casos as respostas foram iguais. Ou seja, só 1% das pessoas consideram ter encontrado na sua organização atual as características da sua empresa dos sonhos. Por outro lado, para 36% dos participantes, nenhum dos três fatores da companhia atual deram match com a empresa ideal. 

O reflexo desta desconexão desde o início da relação entre organização e funcionário é que a empolgação e o encantamento do novo emprego logo passam. Enquanto 79% dos profissionais com até seis meses de casa afirmaram na pesquisa que estavam felizes no trabalho na maioria ou em todos os dias, este percentual chegou a apenas 40% quando selecionados aqueles com entre um e dois anos na mesma companhia. 

Com isso, o mais natural é que os profissionais se abram para novas possibilidades e fiquem de olho em outras opções disponíveis por aí. A ‘sorte’ das empresas é que no momento o mercado não anda lá aquelas coisas, tanto que 24% dos respondentes afirmaram que permanecem no emprego atual por conta da estabilidade percebida, o segundo principal aspecto nesta pergunta, por sinal. 

Mesmo assim, 54% das pessoas afirmaram que, apesar de não estarem buscando emprego no momento, estão abertas a receber contatos de recrutadores e ouvir ofertas de outras empresas. E, somando com outros 23% que afirmaram estar buscando ativamente outras opções, temos mais de três quartos dos respondentes dispostos a mudar de emprego, caso encontrem algo que seja mais vantajoso ou que faça mais sentido.

E onde esta bola de neve vai parar? Isto, pelo andar da carruagem, não sei dizer. Mas alguns insights de outra pesquisa conduzida pela Think Work em dezembro de 2021 sobre os principais desafios do RH para 2022 podem ajudar. 

Nela, perguntamos para as empresas quais seriam os principais fatores de atração esperados para o último ano. E a resposta para dois terços das empresas foi o alinhamento dos candidatos com a cultura organizacional e os valores corporativos. 

Perceberam?! Temos um ponto em comum entre o que a empresa quer dos candidatos no mundo ideal e o que os candidatos querem das suas empresas dos sonhos.

Então, o que fazer para que isso vire realidade? A verdade é que as duas partes têm um pouco de culpa no cartório nesta história. 

Por um lado, as companhias precisam encontrar maneiras de tornar suas ofertas de vagas mais autênticas, de forma que os seus valores, cultura, pontos fortes e fracos fiquem mais claros para os candidatos, para que eles possam conhecer melhor o lugar que estão avaliando antes de se candidatarem e eventualmente começarem a trabalhar. Sem isso, fica difícil que as pessoas possam conhecer melhor o possível empregador e, assim, escolham as vagas mais adequadas para se candidatar. 

Os candidatos, por outro lado, ainda precisam encontrar a melhor forma de apresentar em seus currículos e redes corporativas as suas características pessoais e seus valores, de forma que as empresas possam também avaliar com mais clareza e facilidade se existe este alinhamento de valores e cultura. 

Vale destacar que as companhias podem ter um papel fundamental neste aprendizado dos candidatos, mesmo que eles não venham a ser efetivados. Para isso, um bom feedback após o processo ou até mesmo alguns conselhos e ensinamentos ainda durante a seleção podem ser muito úteis. 

Este foi, por sinal, um dos pilares do programa de atração e seleção da YouX Group, reconhecido como destaque no Prêmio Think Work Flash Innovations.

Outra questão fundamental é que, antes de mais nada, as empresas precisam garantir aos seus funcionários as condições básicas para um bom trabalho e uma qualidade de vida adequada. Sem um salário condizente com a função, um ambiente que garanta um mínimo de estabilidade e segurança psicológica e uma liderança adequada, por exemplo, a tendência é que esta busca por melhores oportunidades continue a existir, mesmo quando houver o compartilhamento de valores esperado por ambas as partes.

Mas a mensagem que fica é: empresas e candidatos estão atualmente buscando as mesmas coisas. Então, resta agora encontrar a melhor forma de fazer com que pessoas e companhias alinhadas aos mesmos valores e objetivos possam se encontrar e oferecer o que têm de melhor uma para a outra.

<strong>Matthias Wegener</strong>
Matthias Wegener

Especialista em clima organizacional e modelos de gestão de pessoas, é head de pesquisas e benchmarking na Think Work.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.