Mobilização empática: skill chave para o futuro do trabalho

Para a Today, Patrick Schneider escreve sobre uma habilidade essencial para as empresas, exclusivamente humana: a mobilização empática

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A segunda metade de 2022 somada ao primeiro semestre de 2023 tem apresentado uma característica alarmante: o alto número de pessoas impactadas por layoffs, reorganizações, diminuição de níveis organizacionais e decisões internas em busca de meios para a entrega de resultados financeiros. 

Os números sobre impactados não são precisos e confiáveis, entretanto demonstram crescer a cada novo fechamento de mês. O que lhes impulsionam são os motivos que remontam um caminho pavimentado por uma guerra por território, a baixa no preço das commodities alavancada por uma dificuldade de escoamento da produção total do planeta, inflação vivida por países pouco ou nada familiarizados com este termo, o final de uma pandemia marcada pela desinformação, uma crise global no papel de lideranças governamentais, o enfraquecimento de instituições fortes e criadas para a atuação em situações de crises globais como a OMS no caso da pandemia ou a ONU na questão ucraniana, entre outros.

Há um lampejo de esperança em meio a esta situação puxada pelas redes de suporte criadas por profissionais impactados ou que acompanham os impactos dos layoffs de perto. Este é o caso da plataforma Layoffs Brasil, que compartilha vagas na área de tecnologia e dados acerca das empresas que vêm demitindo no território nacional, e a TheLayoff.com, site que compartilha notícias, experiências de profissionais que foram impactados pelos movimentos organizacionais, especulações e rumores sobre empresas, atualizando o que vem sendo dito no mercado de trabalho sobre uma gama grande de organizações presentes no mundo todo.

No entanto as ações que mais têm chamado minha atenção são os posts realizados nas redes sociais sobre esses movimentos. São pessoas compartilhando suas experiências ao ver os colegas deixando a organização e o quanto estas pessoas farão falta, outros compartilhando materiais e fazendo recomendações de ex-colegas que foram impactados, ou ainda, profissionais empregados fazendo curadoria de vagas da área em que atuam para colaborar com a recolocação de ex-colegas.

São movimentos como estes que me fazem acreditar em um futuro do trabalho que nos permita manter os elementos humanos em vantagem frente às máquinas. Nossa capacidade de colaboração mútua e de sensibilizar-se com a necessidade de outras pessoas, ainda que isso não nos impacte diretamente, é fundamentalmente uma potência humana. 

Todo o desenvolvimento de tecnologias no mundo busca a rentabilidade ou o oferecimento de soluções que venham a aplacar problemas ou necessidades que ainda nem sabemos que temos em nossas rotinas. Todavia isso seja uma verdade, existem elementos imponderáveis que nos circundam diariamente, e que somente o olhar empático e a capacidade de emocionar-se frente a uma situação que passa desapercebida aos algoritmos pode receber a atenção do mais complexo sistema de inteligência já apresentado ao mundo que habitamos, que é o ancorado no indivíduo e desenvolvido pelo convívio em sociedade. 

O grande risco é exatamente o afastamento orquestrado pelos sistemas artificialmente desenvolvidos pela indústria de tecnologia, onde timelines são roladas por horas dando visibilidade e relevância para criadores de conteúdos irrelevantes, em contraponto a tamanha diversidade cultural produzida no Brasil. Sempre me impressionou o anonimato de Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti ou Guinga, ante o massivo sucesso de outros artistas efêmeros consumidos vorazmente em vídeos de não mais do que 30 segundos levados para dentro da casa de milhões de pessoas.

Dentro das empresas, o mesmo tem sido reproduzido em menor escala, porém com alto impacto. Profissionais que aportaram projetos fundamentais para um determinado momento da organização, mas que tornaram-se nomes desconhecidos a partir da chegada de um novo líder levado a um cargo por uma reestruturação em meio ao ambiente pandêmico, e que neste “anonimato”, possam ter perdido seus empregos em uma decisão pautada muito mais por um viés de economia, do que de investimento em talentos e em um processo robusto de gestão destes, que poderiam inclusive aportar soluções para a situação atravessada pela empresa. 

O movimento de união e colaboração visto a partir do momento da perda do posto de trabalho nas redes, poderia ser potencializado pelo reconhecimento das contribuições aportadas por estes profissionais internamente, garantindo decisões com maior racionalidade e ancoradas nas capacidades dos profissionais que ali trabalham. 

A verdade é que retrações mercadológicas puxadas por recessões globais, regionais ou locais potencialmente sempre existirão, bem como pandemias, catástrofes naturais e guerras por território. O grande diferencial em minha visão é o que os seres humanos não impactados em seu dia-a-dia por estes fenômenos farão pelos impactados. 

Talvez esta seja uma das grandes necessidades humanas em um futuro do trabalho que se avizinha em velocidade acelerada, a mobilização empática enquanto skill e os seus importantes efeitos para a sociedade.  

<strong>Patrick Schneider</strong>
Patrick Schneider

Gestor de Recursos Humanos LATAM com 20 anos de atuação em companhias globais, autor e pesquisador na área de futuro do trabalho.

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