Em sua estreia na Today, Fernando Sollak argumenta que o futuro da gestão de pessoas não está na escolha entre IA ou humanos, mas na união dos dois

Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) deixou de ser apenas uma tendência tecnológica para se tornar protagonista nas discussões estratégicas das empresas — especialmente no RH. A promessa de eficiência, precisão e agilidade impulsionou uma corrida pela automação, mas também trouxe um dilema equivocado: máquina versus humano.

O verdadeiro papel da liderança de RH não é escolher um lado, e sim construir uma integração inteligente, onde a tecnologia e as pessoas atuem de forma complementar para gerar resultados sustentáveis, bem como criar mecanismos para que ambas se fortaleçam mutuamente. 

A história da humanidade mostra que, a cada revolução tecnológica, o trabalho não desaparece, ele se transforma. A IA precisa ser vista como meio e não como destino final.

No centro de qualquer estratégia bem-sucedida estarão sempre as pessoas, com suas habilidades únicas, liberadas de tarefas repetitivas para se dedicarem ao que nenhuma máquina pode replicar: visão estratégica, criatividade e conexão genuína.

Podemos ver essa colaboração de forma prática em processos como o de atração e seleção. A IA oferece ganhos inquestionáveis de agilidade, analisando um volume de dados que o filtro humano dificilmente alcançaria com a mesma velocidade. A tecnologia otimiza, automatiza e nos entrega insumos valiosos. 

Contudo, a IA por si só é fria. É aí que a capacidade humana entra para garantir a melhor experiência, o acolhimento do candidato e a análise crítica necessária para o preenchimento da vaga. É o toque humano que transforma um processo seletivo em uma jornada de desenvolvimento, oferecendo insights que, inclusive, enriquecem o candidato, ainda que ele não seja selecionado.

Essa abordagem fortalece a marca empregadora e cria uma experiência tão positiva que o profissional pode se tornar um promotor da empresa no mercado.

Enquanto a IA cuida da eficiência, as pessoas se tornam guardiãs da empatia, do pensamento crítico, da comunicação e da colaboração. Essas human skills se tornam ainda mais valiosas em um cenário de crescente complexidade, com equipes multigeracionais, no qual diferentes visões de mundo e expectativas de carreira convergem.

A tecnologia nos dará os dados sobre a equipe, mas caberá a nós, humanos, transformar essa informação em estratégia, cultura e desenvolvimento de talentos.

Isso nos leva a um ponto crucial: a preparação das lideranças. Em um mundo onde respostas técnicas podem ser encontradas em segundos com a ajuda da IA, o papel do líder se desloca da gestão de tarefas para a gestão de pessoas em sua plenitude.

O desafio é fomentar líderes que inspirem, que criem ambientes psicologicamente seguros e que saibam navegar pela complexidade das relações humanas. O líder do futuro é menos um supervisor e mais um mentor ou um facilitador do potencial de sua equipe.

Nesse contexto, o RH precisa assumir seu papel de arquiteto dessa transformação. Deve ser o catalisador de programas de desenvolvimento que não foquem apenas em ferramentas, mas na essência das habilidades humanas.

Mais do que isso, cabe ao RH promover uma ampla capacitação sobre o uso prático e estratégico da inteligência artificial, garantindo que os profissionais, de todas as áreas, saibam como aplicar as novas ferramentas em seu dia a dia para serem mais eficientes e inovadores.

O papel do C-level, e em especial do CHRO (Chief Human Resources Officer), é ser o guardião desse equilíbrio. É preciso fomentar uma cultura que abrace a inovação sem abrir mão da essência humana, investindo tanto em ferramentas de ponta quanto na capacitação contínua de nossas equipes. 

A mensagem é clara: não é sobre substituir pessoas, pelo contrário, é sobre potencializá-las. O resultado não é apenas um RH mais produtivo, mas uma organização mais estratégica, resiliente e humana.