Deixar a câmera fechada em reuniões seria visto como sinal de pouco engajamento – especialistas criticam a ideia
Se algo veio para ficar depois da pandemia foram as reuniões online. Mesmo com a volta ao escritório, muitas reuniões continuam sendo feitas dessa forma, com frequência para incluir funcionários que estejam em outras localidades ou trabalhando remotamente.
O problema, indicam pesquisas, é que para muitos líderes, desligar a câmera na reunião tem sido visto como um sinal de pouco engajamento e de presenteísmo. Segundo uma pesquisa da empresa de tecnologia Vyopta, para 22% dos executivos, pessoas que desligam as câmeras durante as videoconferências não permanecerão muito tempo nas empresas.
Outro estudo, desta vez da plataforma HRMorning, aponta que 93% dos líderes dizem que funcionários que desligam as câmeras durante as reuniões são menos engajados. Destes, alguns acreditam que os empregados estão navegando na internet (43%) ou mesmo jogando online (35%) ao invés de prestar atenção nas reuniões.
Mas, se a ideia até fazia sentido antes, agora ela estaria equivocada, para especialistas.
“No começo da pandemia, fazia sentido as pessoas quererem aparece no vídeo, porque estávamos supondo que aquela era uma pausa de duas semanas em nossas vidas, então pensávamos, ‘Queremos ver todos mundo, queremos nos contectar”, disse à BBC Allison Gabriel, professora de gestão e organizações na Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, e que estudou os efeitos da “fadiga do Zoom“.
Como não foi esse o caso e o virtual tomou conta do cotidiano, não faria mais sentido pensar nisso, para ela. Ainda mais que ligar a câmera pode ser efeitos negativos no bem-estar dos funcionários.
É isso que está por trás do fenômeno da fadiga do Zoom, nome dado ao cansaço e desgaste gerados pelo fato de passar muitas horas preocupado em como sua aparência está no vídeo e a tentativa de interpretar sinais não-verbais através das reuniões online. Ele por si só já seria bom motivo para os funcionários quererem desligar as câmeras, defende Allison – e não uma suposta falta de engajamento.
Quando líderes exigem que a câmera seja ligada isso também aponta microgerenciamento e falta de confiança na cultura organizacional: os comportamentos controladores do ambiente do escritório, nesse caso, são transferidos para o ambiente virtual. “Se você é um gestor, você está acostumado com o modo antigo de trabalho, quando você podia meio que ‘dar uma volta’ e ver se as pessoas estavam em suas mesas trabalhando”, disse Allison.
Para Winny Shen, professora associada de estudos organizacionais na Univesidade de York, no Canadá, outro problema de ligar a câmera é uma produtividade reduzida. “Em vez de focar nas reuniões, as pessoas focam em si mesmas e em como elas podem estar sendo percebidas”, diz. “Na verdade, o que se estaria fazendo, [enquanto ouve], é tomar notas, pesquisar algo e tentar filtrar informações para ver se tem algo para contribuir na reunião”.