Autora do conceito de ‘Radical Candor’ ou ‘Empatia Assertiva’, Kim Scott ensinou à Adidas como a dose certa de desafio e humanidade conduz ao crescimento

Há alguns dias, participei de uma reunião regional com os diretores da Adidas em todos os países da América Latina. É um momento importante para nós, uma oportunidade de estarmos juntos e entendermos o momento do negócio, as melhores práticas de cada país, os desafios, a visão de futuro. Esses eventos são pautados pela cultura da empresa: somos sempre encorajados a praticar alguma atividade física juntos, por exemplo. Nós, brasileiros, fizemos uma hora de exercícios funcionais antes da reunião, que neste caso era virtual. E, na reunião, recebemos um convidado especial para falar de cultura.

Desta vez, quem esteve conosco por quase duas horas foi Kim Scott, autora de Radical Candor: Be a Kick-Ass Boss without Losing Your Humanity (no Brasil, editado como Empatia Assertiva: Como Ser um Líder Incisivo sem Perder a Humanidade, pela Alta Books) e co-fundadora da empresa Radical Candor. Ela nos contou histórias e experiências sobre feedback e por que a sinceridade radical é a melhor maneira de conduzir indivíduos e organizações à alta performance.

Radical Candor (Sinceridade Radical) é um conceito desenvolvido pela própria Kim Scott, e diz respeito a uma abordagem de comunicação direta e honesta no ambiente de trabalho. É uma forma de feedback que combina empatia e clareza, permitindo que os líderes forneçam orientações construtivas e eficazes para suas equipes.

A ideia central do Radical Candor é a de que os líderes devem se importar profundamente com as pessoas que lideram, ao mesmo tempo em que devem ser diretos e honestos em suas comunicações. Em resumo, devem fornecer feedback sincero, mesmo quando difícil ou desconfortável, desde que seja feito com empatia e respeito, para ajudar os outros a crescer.

São quatro os componentes principais do Radical Candor: o interesse genuíno pelas pessoas; a capacidade de oferecer feedback honesto e específico, sem rodeios; o foco nos comportamentos e resultados sem ataques à identidade ou personalidade de alguém; e a oferta de sugestões construtivas e oportunidades de aprendizado.

Também o feedback, segundo Kim, pode ser dividido em quatro quadrantes:

1. Radical Candor: Quando atuam neste quadrante, os líderes, ao mesmo tempo em que desafiam seus times rumo ao desenvolvimento, demonstram alto nível de cuidado com as pessoas. Eles se importam profundamente com os outros, por isso fornecem a eles feedback honesto e direto. Essa é a abordagem ideal, por combinar empatia e clareza.

2. Empatia Danosa: Quando há grande cuidado pessoal, mas se evita o desafio. Ao desviar do feedback honesto para agradar às pessoas ou evitar conflitos, um líder pode gerar problemas de desempenho não resolvidos e comprometer o aprendizado e o desenvolvimento de uma pessoa.

3. Agressão Obstinada: Diretos e críticos em sua comunicação, mas sem cuidado pessoal, os líderes desse quadrante podem ser agressivos, insensíveis ou até mesmo humilhar as pessoas em sua abordagem. Isso cria um ambiente de trabalho hostil e prejudica a confiança e a colaboração, comprometendo a segurança psicológica da equipe.

4. Falsidade Manipuladora: Quando os líderes não demonstram cuidado pessoal e evitam o desafio direto. Eles podem evitar dar feedback ou ter conversas difíceis. O desempenho insatisfatório não é resolvido e o desenvolvimento fica prejudicado.

Não resta dúvidas de que o Radical Candor é a melhor opção, certo? Mas vale lembrar que ela é uma construção diária e que um mesmo líder, de acordo com a situação e a circunstância, pode se mover pelos quatro quadrantes. O importante é ter ciência do seu estilo de comunicação e do tipo de feedback de que o liderado precisa no momento – se mais direto ou mais cuidadoso. 

Ouvir Kim Scott me deixou ainda mais convencida de que há dois ingredientes essenciais para uma boa liderança: o autoconhecimento e o interesse genuíno pelo ser humano.

E você, o que pensa quando pensa sobre isso?