Na tentativa de modelar times para aprimorar as organizações, nem sempre as empresas têm tudo sob controle. Esse é o tema do artigo de Silene Rodrigues, diretora de RH da Adidas, para a Think Work Today
Imagine um time de futebol recém-formado. Ainda que sejam todos grandes futebolistas, é preciso de tempo para uma adaptação e aprendizagem de modo que possam dar o melhor de si e comecem a funcionar como uma verdadeira equipe, obtendo os melhores resultados.
Esse exemplo é clássico e não é necessário ser um guru de gerenciamento para fazer essa analogia com um time de executivos que lidera uma empresa.
Quando temos uma nova configuração da liderança sênior da companhia, também precisamos de tempo para nos comportarmos como uma verdadeira equipe e dirigirmos a empresa para o caminho desejado – não somente no que diz respeito aos resultados de negócios, mas, especialmente, quanto à cultura organizacional.
Há duas dimensões da cultura que devem ser tomadas em consideração: a Cultura Visível e a Cultura Invisível. A Cultura Visível se refere ao “jeito que nós dizemos que fazemos as coisas”, como visão, estratégia, objetivos, estrutura, valores compartilhados, políticas. Já a Cultura Invisível diz respeito ao “jeito que nós realmente fazemos as coisas”, como crenças, percepções, premissas compartilhadas, tradição, regras não-escritas, estórias, valores, sentimentos.
Não raro, assim como os times de futebol, nós na organização também contamos com apoio especializado para modelarmos a equipe, entendermos as fortalezas individuais e coletivas e alinharmos as regras do jogo, o estilo de comunicação etc. É comum ter um treinador facilitando sessões de imersão de autoconhecimento, conhecimento do outro, conhecimento do time, o que depois é cascateado para a organização.
A chave para o sucesso dessas medidas é o interesse genuíno no outro e aprender a trabalhar como um verdadeiro time, demonstrar vulnerabilidade e conquistar confiança. E, é claro, sair daí e honrar com os compromissos assumidos ou, como falamos, “walk the talk”.
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Às vezes, acontece, entretanto, de a crise chegar antes que você tenha a oportunidade de concluir essa sessão de construção de time. Eu tive essa experiência recentemente. Tínhamos tudo preparado: o lugar escolhido era bucólico, para dizer o mínimo, a mentalidade do coach estava perfeitamente alinhada aos nossos valores, as atividades estavam muito bem planejadas e o time, muito animado. Mas a verdade é que nós não estamos no controle. Uma situação completamente inesperada nos pegou de surpresa logo no início dos trabalhos, nos obrigando a cancelar o evento para lidarmos com algo inédito, para o qual nenhum de nós estava preparado ou tinha experiência.
No primeiro momento, foi difícil. Como era de se esperar, os diferentes cérebros tiveram reações distintas de luta, fuga ou congelamento. Levou algum tempo, talvez um dia inteiro, até que conseguíssemos nos organizar como uma orquestra, cada um com suas melhores habilidades, e começássemos a trabalhar coordenadamente, respeitando os demais, sem deixar de lado as próprias fragilidades e as dos colegas. Foi uma experiência única, sem julgamentos. Um verdadeiro exemplo de trabalho de equipe, com muita humanidade envolvida.
Vamos retomar a sessão com o coach que deixamos para trás, mas, agora, com um panorama diferente, nos sentindo muito mais conectados uns aos outros e mais à vontade para falar de nossa visão de mundo, anseios, frustrações, vulnerabilidades e como os demais podem nos ajudar. Vamos aprender, juntos, a trabalhar como um verdadeiro time, uma equipe que entra em campo para ganhar, jogando limpo entre si e com o adversário, mas com o mindset de vencedor.
Para mim, a maior lição que fica é que a máxima colocar as pessoas certas nos lugares certos é talvez a mais importante missão de RH, pois são essas pessoas que vão fazer as coisas acontecerem, independentemente das adversidades.
Excelente conteúdo. Inspirador.
Obrigada.
Regiane