O obstáculo da mobilidade interna

Explore com Rafael Souto como o medo da liderança impacta o crescimento dos talentos

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Há tempos temos observado uma crescente nas discussões sobre carreira em nuvem, squads e várias outras estratégias para aumentar o engajamento de pessoas e, naturalmente, a própria evolução e crescimento das empresas. No entanto, quando falamos em mobilidade de talentos, ainda existem questões importantes que precisamos considerar.

Apesar de ser fundamental para o crescimento de qualquer organização, permitindo que colaboradores explorem novas áreas, desenvolvam novas habilidades e contribuam para a inovação, um dado preocupante emerge: a resistência da liderança em incentivar essa mobilidade.

Em uma pesquisa global do Gartner, 78% dos funcionários entrevistados em 2022 e 2023 não se sentiam incentivados pela liderança a buscar mobilidade interna. Em 2024, esse número saltou para 82%, indicando uma piora significativa na situação.

Mas por que essa resistência? A resposta reside em um medo profundo, muitas vezes inconsciente, por parte das lideranças: a preocupação de não conseguir entregar os resultados se seus talentos se moverem internamente.

Apenas 45% dos líderes entrevistados acreditam que atingiriam suas metas incentivando a mobilidade de talentos dentro de suas equipes. Esse medo se manifesta de diversas formas: falta de preparo para a sucessão, resistência à mudança e a visão equivocada de que a mobilidade é uma ameaça à posição do gestor.

A mobilidade interna, portanto, é muitas vezes ameaçada pela própria liderança, aprisionando talentos e limitando o potencial de crescimento da organização.

Somente ter consciência disso não muda o problema. A verdadeira questão aqui é como reverter esse cenário. A solução não reside em simplesmente encorajar a mobilidade, mas, sim, em criar um ecossistema que a apoie e a valorize.

Isso exige uma mudança de cultura e de mentalidade em vários níveis:

1. Reconhecimento à liderança que desenvolve pessoas: para iniciar essa mudança, as empresas podem reconhecer e recompensar, inclusive financeiramente, as lideranças que se destacam na formação de sucessores. Criar um sistema de premiação que valorize a capacidade de desenvolvimento de lideranças pode ser um impulso para mudar a percepção da mobilidade interna como algo negativo.

2. Formalização do desenvolvimento de lideranças nas metas: incluir metas explícitas de desenvolvimento de lideranças nos objetivos de avaliação dos gestores, garantindo que o desenvolvimento de pessoas seja parte integrante da performance do líder, e não como uma atividade secundária ou opcional.

3. Implementação de modelos internos de preparação de sucessores: desenvolver programas estruturados para preparar sucessores, minimizando o temor da liderança quanto à perda de talentos e garantindo a continuidade das operações.

4. Construção de times com prioridades organizadas: com o objetivo de sanar o temor da liderança em não atingir suas metas, vale implementar metodologias e ferramentas que auxiliem na organização de prioridades e na distribuição de tarefas, reduzindo a sensação de sobrecarga e o medo de perder controle com a mobilidade interna. 

Por trás de tudo isso, o grande eixo central é promover uma mudança cultural que valorize a mobilidade interna como fator crucial para a inovação, o crescimento e o desenvolvimento dos colaboradores. Incentivar a cultura de feedback, o mentoring e o coaching contribui para criar um ambiente mais favorável à movimentação interna de talentos. 

Outro ponto importantíssimo é entender que garantir a mobilidade interna dos talentos é um dos ativos mais importantes de uma marca empregadora forte. A mobilidade interna é mais do que um desafio financeiro ou numérico; é fundamental para formar pessoas e construir uma marca empregadora atraente. Empresas com processos de mobilidade interna complexos e gestores que não apoiam essa prática ficam obsoletas e fora do tempo. 

Uma transformação potente na forma como encorajamos a mobilidade interna é urgente. Somente assim as empresas poderão aproveitar todo o potencial de seus colaboradores e impulsionar seu crescimento sustentável.

<strong>Rafael Souto</strong>
Rafael Souto

Fundador e CEO da Produtive Carreira e Conexões com o Mercado e membro do conselho da AMCHAM, é referência nacional no tema carreira e ministra palestras sobre o assunto.

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