Que legado você quer deixar nesta vida? 

Para a Today, Tatiana Sendin faz uma reflexão sobre o legado de líderes inspiradores que cruzaram sua trajetória, relatando suas principais características, qualidades e efeitos nas organizações

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Em quase três décadas de carreira, cruzei com vários tipos de executivos. O mais comum era o narcisista, aquele que se apresentava como se tivesse a resposta para todas as questões do mundo. Era perfeito, incontestável – e alheio à realidade do povo comum. Outro perfil bastante frequente era o cortador de custos. Totalmente focado em vendas, só enxergava números como origem e solução dos problemas. Esquecia que por trás de cada número há pessoas, a verdadeira causa de os índices subirem ou caírem.

De vez em quando, encontrava executivos que se destacavam. Diferenciavam-se já na postura – simples, apesar do alto cargo. Esse tipo de líder fala de forma direta e pragmática, e “humana”. Ou seja, são conscientes de que causas e efeitos no mundo corporativo vêm de nós, seres humanos.

Lembro de algumas lições passadas por esses executivos. Houve o que simplificou os processos da companhia porque percebeu que, pela ineficiência – e pelo desejo de controle –, os funcionários acabavam trabalhando mais horas do que as necessárias. Outro tinha consciência de que um dos maiores desafios do mundo corporativo era quebrar os silos, porque eles impediam que as pessoas trocassem e se comunicassem. Um foi publicamente defender nas redes sociais que as empresas contratassem pessoas negras. Enquanto outro me ensinou que seu maior aprendizado era que os funcionários sempre buscavam entregar o melhor, mesmo quando ficavam abaixo do esperado. Um verdadeiro líder deveria reconhecer e agradecer por esse esforço, ao invés de tentar punir quem entregava abaixo da expectativa.

Em comum, esses executivos entendiam as pessoas. E, ao compreender os indivíduos, agiam em resposta às suas necessidades, desafios e potencial. Esses líderes “diferentes” demonstravam ter o que o O.C. Tanner Institute, em seu Relatório de Cultura Global de 2024, chamou de “empatia prática”: a capacidade de converter sua conexão com os outros em ações de apoio e suporte – uma habilidade ainda rara no mercado. Segundo o documento, menos de 60% dos funcionários sentem que as manifestações de empatia de seus chefes resultam em práticas significativas e concretas.

A visão centrada no humano interfere na forma como esses homens e mulheres administram os negócios, no que definem como prioridade e para o que dizem “sim” ou “não”. Ao manter uma abordagem focada nas pessoas, esses líderes conseguem reduzir o burnout e aumentar a sensação de pertencimento, realização e conexão dos trabalhadores com a empresa. Criam um ambiente no qual tanto subordinados quanto supervisores se sentem apoiados e conectados. As diferenças, em comparação com outras organizações ou áreas, são nítidas.

Em um mundo cada vez mais aficionado pelo imediatismo, se destacam também os gestores que têm a sabedoria de olhar para o futuro. Quando a pesquisa global da PWC alerta que 40% dos CEOs estão incertos se suas organizações sobreviverão à próxima década, ter um executivo que busca a sustentabilidade do negócio é imperativo. Nesse cenário de mudanças constantes e complexas, se reinventar é crucial. E as pessoas são – de novo –, a base para construir realizações que resistam ao teste do tempo e às disrupções.

Nos próximos três anos, o relatório da PWC aponta que as companhias sofrerão maior pressão das inovações tecnológicas, das mudanças climáticas e das transformações da sociedade como um todo. Líderes mais atentos são conscientes de que essas megatendências terão impactos significativos na competitividade, na produtividade e na sustentabilidade da empresa, além de afetarem a qualidade de vida das pessoas. Mais uma vez, ao exercerem a empatia prática e colocarem os indivíduos no centro de suas decisões, saem na frente.

Esses executivos diferenciados desempenham um papel central nas respostas das corporações às crescentes demandas da sociedade, como inclusão, diversidade, equidade e justiça, em meio a mudanças climáticas, transformações demográficas e uma revolução tecnológica que tem alterado profundamente a forma como interagimos, compramos e trabalhamos.

Em nossa trajetória profissional, encontramos líderes que nos motivaram a ser melhores, mais justos e produtivos – e conscientes de nosso papel, fosse na nossa equipe, fosse na companhia ou mesmo na sociedade. Nem sempre essa pessoa inspiradora comandava a companhia, como nem sempre as melhores decisões sobre gestão de pessoas vinham da área de recursos humanos. Esses líderes, que agora são chamados de empáticos pelo mercado, podem estar em qualquer posição e comandar qualquer área. Eles deixam sua marca por onde passam, mesmo após saírem da organização, graças à sua consciência “humanocentrista”.

Infelizmente, esses executivos e executivas ainda são raros. Para dar visibilidade aos líderes que colocam as pessoas no coração de suas estratégias, a Think Work criou o prêmio Think Work Legacy, que vai reconhecer aqueles que estão deixando um legado inspirador em suas organizações. Ao colocarmos no palco os homens e as mulheres que fazem a diferença, esperamos incentivar outros líderes a adotar uma abordagem mais sustentável, responsável e humana, impulsionando o desenvolvimento empresarial e social como um todo.

Na Think Work, acreditamos que os Líderes Legacy conseguem equilibrar as necessidades das pessoas e do negócio, utilizando a tecnologia como uma aliada estratégica. Eles ajudam a organização a alcançar todo o seu potencial, sem prejudicar a vida dos consumidores, fornecedores, parceiros e, principalmente, dos trabalhadores.

Um Líder Legacy se baseia em três pilares:

– Atenção às mudanças na sociedade e como elas podem afetar os negócios e a gestão de pessoas;

– Inovação na administração da empresa e incentivo à transformação na gestão de recursos humanos;

– Mentalidade digital, que vê a tecnologia como uma aliada estratégica, inclusive no RH.

No contexto empresarial, a construção de legado pode se manifestar tanto na defesa de uma bandeira, uma causa, quanto no trabalho para garantir a viabilidade de longo prazo da organização, tornando-a mais forte, produtiva e valiosa do que antes, sempre em harmonia com o bem-estar das pessoas e do mundo.

Qualquer pessoa pode indicar um líder para concorrer ao prêmio Legacy. Executivos C-level (ou equivalente) de qualquer área, que estejam atuando ou já tenham deixado a organização onde realizaram um projeto marcante, também podem participar.

Deixar um legado é, sem dúvida, uma das realizações mais impactantes que se pode ter na vida. É uma forma de influenciar o futuro ao inspirar as próximas gerações.

Esse é nosso legado. Qual é o seu?

Augusto Galery, colunista

Augusto Galery

Professor e pesquisador em Psicologia Social e Sociedade Inclusiva.

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