O medo da obsolescência no mercado de trabalho pode ser um fator positivo? Rafael Souto acredita que esse receio pode estimular a busca por aprendizado contínuo
Em um cenário de transformações aceleradas, impulsionadas pela inteligência artificial (IA) e outras inovações disruptivas, emerge um sentimento cada vez mais presente no mundo corporativo: o FOBO.
A sigla, que representa Fear of Becoming Obsolete (medo de se tornar obsoleto), reflete a crescente preocupação de profissionais e de organizações em se manterem relevantes diante de um futuro do trabalho em constante redefinição.
A velocidade com que novas tecnologias surgem e outras habilidades se tornam indispensáveis gera, antes de mais nada, um senso de insegurança. A percepção de que o conhecimento e as competências atuais podem rapidamente se tornar defasados é um desafio que não pode ser ignorado.
O cenário tem nos mostrado alguns casos reais que acentuam esse medo. A IBM, uma das primeiras empresas a começar a onda de demissões em massa há dois anos, explicou que trocaria cargos por IA, afirmando que pelo menos 30% de sua força de trabalho seria substituível.
Em seguida, assistimos a outras gigantes, por exemplo, Google, X e Spotify, cortando vagas. E, mais recentemente, a Microsoft também reduziu o seu quadro em cerca de 5 mil colaboradores.
Uma pesquisa feita pela Gallup com trabalhadores dos EUA, em 2023, apontou que 22% dos entrevistados estavam preocupados com a possibilidade de seus empregos se tornarem obsoletos por causa da tecnologia. Em 2021, o índice era 15%. Isto é, observamos uma crescente preocupação e receio que pode se acentuar nos próximos anos.
Novo sentido
Portanto, é crucial ressignificar o FOBO, transformando-o de um fator paralisante em um catalisador para a evolução profissional. Esse medo, quando bem canalizado, pode impulsionar a aquisição de novas habilidades e a adoção de uma postura de aprendizado contínuo.
Nesse contexto, o papel do RH e da liderança é fundamental. Cabe a esses agentes a responsabilidade de criar um ambiente que encare o FOBO de forma produtiva, estimulando a adaptação, a inovação e o desenvolvimento ininterrupto.
Outro ponto crucial: é importante reconhecer que o FOBO pode desencadear ansiedade. Dessa forma, pode ser mais um dos gatilhos a acender o alerta para líderes e RH quando falamos tanto de NR-1 e saúde mental. Cada organização deve oferecer o suporte necessário para que os profissionais enfrentem esse sentimento de forma construtiva.
Em última análise, o medo da obsolescência é um lembrete da importância da atualização constante. Apenas profissionais e organizações que abraçam a mudança, cultivam a curiosidade e buscam a inovação contínua poderão prosperar no futuro do trabalho.