A importância da existência – e da resistência – do profissional de RH

A gestão de RH enfrenta uma revolução tecnológica enquanto luta pela existência e resistência dos profissionais. Saiba como encontrar o equilíbrio neste artigo de Patrick Schneider

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Já parou para pensar como é a gestão de pessoas quando o foco é o próprio profissional de Recursos Humanos (RH)?

A área de RH é constantemente demandada a acompanhar o lançamento de novas ferramentas, a chegada da inteligência artificial (IA), as tendências que despontam como o último hype, possibilidades que nos levam a tatear corredores enevoados de um mundo que se transforma ao vivo.     

Não podemos esquecer que o tamanho da revolução que enfrentamos supera, em muito, as que a precederam. Praticamente todas – seja a invenção da eletricidade, da máquina a vapor, ou sejam outras menores que colaboraram para a evolução do ambiente organizacional – chegaram em ciclos longos que permitiram nos adaptar e organizar uma espécie de manual sobre como operar e nos comportar frente ao novo. Agora isso não existe. Presenciamos, com hiperconectividade segundo a segundo, os avanços propostos pela ciência e a tecnologia.  

Antes mesmo de se consolidar o conhecimento a respeito da IA generativa, o machine learning já colabora para a construção de um data lake profundo e veloz, permitindo aos profissionais de gestão de pessoas acelerar a reformulação de propostas de valor. 

Por exemplo, operaciona-se a gestão do absenteísmo e o cruzamento de dados desestruturados sobre a utilização do plano de saúde, o que permite identificar os altos riscos de sinistralidade e a necessidade de atuação preventiva/preditiva para cuidar da saúde e bem-estar dos funcionários de uma empresa.

Mas será que essas inovações têm ajudado quem se dedica ao RH?

Os profissionais de RH vêm de um ambiente de pressão por parte de funcionários insatisfeitos, influencers que amplificam essa insatisfação, tomadores de decisão que exigem o tempo recorde do task over task e que retroalimentam esse ciclo. 

Vale citar ainda que pesquisas publicadas no início deste ano apontam que a expectativa de alguns CEOs é a de que gestor de RH venha de uma outra área e que tenha sido reconhecido como destaque na gestão de pessoas. Isso tudo sob a alcunha de que ainda precisamos entender mais do negócio — mesmo que nosso conhecimento sobre clientes, P&L, mercado e concorrência tenha evoluído muito desde quando o termo Human Resources Business Partner (HRBP) foi cunhado algumas décadas atrás. 

Para completar esse cenário, estamos na arena para sermos julgados, tanto por quem define o retorno ao escritório quanto por quem resiste a tal decisão.

Estes tempos recentes revelam que o profissional de RH precisa de uma pausa. Um respiro. Um tempo para si, para o entorno, para gerar caminhos e opções novas. E se possível uma pausa com uma fermata libertadora acima da decisão.

São tempos que apontam para a necessidade de acolhimento entre os pares do RH e de nos enxergarmos uns nos outros sem julgamento, mas como apoio.

Me lembro do primeiro evento que participei como painelista no pós-pandemia, em 2022. Em um auditório lotado, sob o olhar embaçado por óculos espremidos pelas hoje obsoletas máscaras faciais, eu pedia ao fim de minha fala uma salva de palmas a todos os profissionais de RH. Aqueles que não foram aplaudidos nas sacadas dos prédios por terem evacuado os edifícios e silenciado os elevadores comerciais em velocidade recorde. Aqueles que reduziram a densidade de restaurantes fabris para garantir a manutenção da produção em andamento. Aqueles que tiveram que escrever repetidos obituários sobre a perda de colegas e atuaram no impossível conforto de familiares.

Superado esse cenário, hoje eu pediria as mesmas palmas para esses  profissionais, que acreditam em meios de proteção da saúde mental ante uma agenda repleta de reuniões e decisões que não podem esperar. Que tratam números de burnout, sentindo que as já definidas seis horas de sono não serão suficientes para se recuperar da carga imposta pela rotina. Que precisam explicar que Recursos Humanos não é como a piscina de bolinhas de um shopping center, onde se “estacionam” pessoas para que outro indivíduo tome conta e entretenha aquelas que gostariam de receber um feedback estruturado.

Existimos dentro das organizações, existimos dentro do mercado e, mais do que apenas existirmos, resistimos a todos os percalços e desapontamentos que possam surgir.

Deixemos, portanto, de ser sobreviventes, ou pior, sobras viventes como menciona Luiz Antonio Simas em suas obras. 

Precisamos de uma coalizão de gestores de RH por um mundo melhor, dentro e fora das organizações. Porque enquanto se entender que trabalho é elemento de potencialidade humana, lá estarão profissionais de RH olhando estrategicamente para um futuro promissor, com olhos no horizonte e raízes firmes alimentada por sua trajetória.

Patrick Schneider

Executivo de RH, escritor e pesquisador na temática futuro do trabalho.

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