Para a Today, Rafael Souto escreve sobre a importância das organizações estimularem a curiosidade para que os funcionários engajem em uma cultura de aprendizagem
A cultura de aprendizagem como condição para a sustentabilidade das empresas não é uma novidade. Já na década de 1990, o autor Peter Senge destacava a importância do incentivo organizacional à aprendizagem em todos os níveis da companhia, no clássico “A Quinta Disciplina”. O livro se baseia na ideia de que as empresas deveriam ser encaradas como organizações que aprendem.
Nos últimos trinta anos, a abordagem de Senge ganhou um componente importante: a velocidade exponencial da transformação digital e seus efeitos na agilidade de resposta exigida das empresas e suas equipes.
A adoção de uma cultura de aprendizado contínuo e ágil torna-se imprescindível para que as organizações e profissionais possam se adaptar rapidamente às mudanças do mercado e manter sua competitividade em um ambiente cada vez mais dinâmico e desafiador.
Conhecimentos e habilidades relevantes hoje podem não ser mais suficientes para enfrentar os desafios e oportunidades de amanhã. Um relatório do Fórum Econômico Mundial, publicado em outubro de 2020, já mostrava como a pandemia de covid-19 havia acelerado a necessidade da aprendizagem ao longo da vida. O chamado lifelong learning entrou para a lista de habilidades mais demandadas até 2025, destacadas à época.
No fim de 2022, tivemos uma amostra tangível do impacto da velocidade de avanços tecnológicos no mercado. O lançamento do Chat GPT, pela Open AI, é só o prenúncio de uma grande transformação em que só os curiosos vencerão.
A curiosidade é o motor essencial do aprendizado e uma das mais potentes armas humanas para turbinar a capacidade de solução de problemas complexos – outra habilidade destacada pelo Fórum Econômico Mundial.
A professora da Harvard Business School, Francesca Gino, tem se dedicado nos últimos anos a explorar o papel crucial da curiosidade no aprendizado e no desenvolvimento de uma cultura organizacional que fomente a inovação e a adaptação às mudanças do mercado.
Em uma pesquisa realizada por Gino e sua equipe, foi descoberto que os funcionários que demonstraram mais curiosidade no trabalho tiveram melhores desempenhos e foram mais propensos a encontrar soluções criativas para problemas complexos.
Característica natural de grande parte das pessoas, a curiosidade pode ser sufocada e até extinta em ambientes sem segurança psicológica, tolerância aos erros e liberdade para a livre experimentação. Essas são, aliás, premissas para a sustentação da cultura de aprendizagem e protagonismo nas organizações. É preciso estar à vontade para fazer perguntas, propor ideias e explorar novas abordagens e habilidades.
Um dos pontos mais destacados atualmente em relação a employee experience é a oferta de uma jornada de aprendizagem. Em uma recente pesquisa realizada pela Universidade de Phoenix, nos Estados Unidos, 70% dos profissionais afirmaram que, se suas empresas lhes dessem mais oportunidades para aplicar novas habilidades, eles seriam mais propensos a permanecer nela ao longo de suas carreiras.
Destacam-se as organizações que oferecem as melhores e mais completas ferramentas. Um portfólio de soluções atraentes e diversificadas que permita a formação de diferentes rotas educacionais. Cada indivíduo monta o seu plano de desenvolvimento, a sua trilha, a partir das próprias reflexões e dos diálogos sobre carreira com suas lideranças e mentores.
Há muito, o mundo do trabalho deixou de ser linear e vertical e é preciso ampliar a visão. Os novos modelos de carreira e formatos de trabalho são a expressão de uma nova lógica de trabalho com mais autonomia e protagonismo individual na caminhada de desenvolvimento. Ainda bem!