Miriam Branco, diretora de RH do Hospital Albert Einstein, fala sobre a construção de um ambiente propício à inovação nas empresas em entrevista à Think Work
Instituição com o maior número de projetos inscritos no Prêmio Think Work Flash Innovations, o Hospital Israelita Albert Einstein foi finalista entre os projetos de Liderança e ganhou o prêmio nas categorias Transformação Digital, Carreira e People Analytics.
Mas como funciona um ambiente com tantas inovações? Como é o fluxo de ideias e como as pessoas as recebem? Qual impacto isso tem no dia a dia da organização?
Em entrevista exclusiva à Think Work, Miriam Branco, diretora de RH do Hospital Albert Einstein, fala sobre a construção de ambientes de trabalho propícios à inovação e como ela se aplica até mesmo (ou ainda mais) em momentos de extrema dificuldade.
Think Work: O que é inovação para você? Qual a grande vantagem para que as empresas sigam buscando-a?
Eu acho que a inovação está muito relacionada à transformação da própria sociedade. A gente fala muito sobre isso hoje, e muitas vezes ela está mesmo muito relacionada a tecnologia, mas eu entendo a inovação como um conjunto de vários fatores. é aquilo que é feito de forma diferente que foi feito por outra geração, por um outro grupo. E a tecnologia é uma das ferramentas utilizadas para que a inovação possa acontecer.
A vantagem da inovação para as empresas é se manter vivo. Não tem outra alternativa. Ou você inova ou você está fadado a morrer na praia.
Porque o caminho da inovação está muito relacionado à dinâmica de identificar uma dor e a busca pela melhor maneira de resolver essa dor. Normalmente nós, pessoas comuns, percebemos até soluções diferentes e pensamos, podia ser assim, podia ser assado… Então isso é algo que incomoda, que poderia ser mais fácil, ou mais rápido, ou mais eficiente. E se as companhias não percebem essas dores e acompanharem essas soluções com seus produtos e serviços, elas estão fadadas a morrer na praia do dia para a noite.
Think Work: Como funciona a dinâmica da inovação no RH do Einstein? Vocês foram a empresa com maior número de projetos inscritos no Prêmio Innovations 2022…Como criar esse ambiente de inovação?
Inovação tem uma grande relação com a própria história do Einstein. Desde o princípio, foi uma instituição idealizada para ser diferente, e tudo que a gente faz a gente busca fazer diferente. Então quando a gente entra na saúde pública, por exemplo, a gente também quer fazer diferente. Isso está no nosso DNA: buscar novas formas de se fazer as coisas. E acaba que isso atrai muito as pessoas que gostam de inovação no dia a dia.
Nós recebemos o prêmio de empresa inovadora durante alguns anos, junto com empresas de tecnologia e tudo mais… Nós que somos uma empresa de saúde, uma área que tem tanto histórico de ser mais travada, mais atrasada mesmo…
O setor da Saúde é um dos que menos desenvolveu todo seu potencial em inovação, então temos muito orgulho de estar entre as mais inovadoras. Está no nosso sangue, é uma forma de pensar mesmo, está na cabeça das lideranças…
A inovação está no nosso dia a dia. E de onde parte o ímpeto de inovação? Primeiro do ato de ouvir. Ouvir quais são as necessidades das pessoas, quais as ideias das pessoas.
É aquela frase básica, que a gente ouve desde pequeno, mas no fim funciona muito: Ouve mais e fala menos. Então o que a gente vem fazendo? Ouvindo os nossos trabalhadores, ouvindo nossos gestores… Até porque nós somos uma instituição que tem que ter esse cuidado. Nós cuidamos de pessoas. Aqui é gente cuidando de gente.
E assim como nós ouvimos nossos funcionários, eles ouvem nossos pacientes para que assim a gente possa oferecer o atendimento mais adequado, mais próximo ao que eles precisam e desejam. É mesmo algo que está no nosso DNA, está no DNA dos fundadores, de quem atua e trabalha com a gente procurar sempre inovar com base no que a gente ouve. E claro, por causa disso, a gente tem um investimento para dar base a toda essa inovação.
Para você ter uma ideia, a gente tem um dashboard de people analytics que idealizamos e desenvolvemos internamente já há vários anos, pelo menos cinco, e hoje vemos empresas que nasceram só para construir essas ferramentas para outras companhias.
É legal a gente falar de analytics, porque está bem na moda hoje em dia, mas acho que não basta a gente simplesmente ter acesso às informações, números sobre isso, aquilo e aquilo outro.
Eu tenho a expectativa de ter respostas do tipo: bom, isso aqui está crescendo, porque aquilo e aquilo está diminuindo, sabe? A correlação entre as coisas. Se não, o número pelo número, o dado frio, não vale de nada.
Think Work: A pandemia de covid-19 com certeza representou um grande desafio para todos que trabalham em um hospital. Como foi para o RH do Einstein? Qual foi o impacto sobre os projetos em andamento?
Na verdade, a pandemia significou uma aceleração muito forte de muitos pontos de inovação que já tínhamos no RH do Einstein, mas que ainda não eram usados em grande escala.
Para começar, passamos de 200 trabalhadores em home office para 2.000 em 24 horas. A própria telemedicina, que já era um ponto que havíamos testado lá atrás e não tinha ido para frente… De repente, simplesmente tinha que dar certo.
E aí você acha que se nós não tivéssemos testado essas coisas, não tivéssemos já estruturas estabelecidas, daria para ter sido feito em tão pouco tempo?
Nós contratamos mais de 1400 pessoas em 15 dias, para atender o hospital de campanha do Pacaembu e outras demandas do Einstein.
E como a gente fez isso? A gente não acordou e pronto, tínhamos as fórmulas mágicas. A gente já vinha testando algumas coisas que naquela oportunidade foram valiosíssimas.
Think Work: Como funciona o fluxo da inovação dentro da empresa? De onde vêm as ideias, como os líderes lidam com essa diversidade de novas possibilidades e a necessidade de investimento?
Eu vejo isso muito relacionado a escolha das pessoas que compõem nossos quadros. E eu vejo de uma forma que isso vem desde a fundação. O hospital foi inaugurado em 1971,e se você pegar os principais hospitais de São paulo, o Einstein é um dos mais jovens, e um dos que mais se desenvolveu e cresceu nesse tempo. Outro ponto: boa parte dos hospitais ficam na região da avenida Paulista. E aí me diz: o que tinha no Morumbi em 71? Nada. Então só dos fundadores terem a visão de levarem o primeiro hospital da rede para lá já mostra a visão que eles tinham.
Outro ponto: quem veio trabalhar nesse hospital em 71? Será que os médicos mais badalados queriam trabalhar no Morumbi naquela época? Quem veio foram os jovens, cheios de ideias, que acreditaram naquele projeto. E todo mundo tinha ânsia de fazer diferente para que aquilo tudo fosse atrativo para os pacientes, não podia ser igual aos outros. E é assim que a gente faz tudo aqui dentro. E as pessoas que a gente contrata, a gente tem isso muito claro na nossa cultura organizacional, são pessoas que querem fazer parte de uma construção. A gente diz que somos obcecados por fazer diferente.
Não é porque a Saúde no Brasil tem várias limitações que a gente vai se ancorar nisso e não evoluir, né? A gente pode e faz diferente. E isso está no nosso dia a dia mesmo.