Segundo especialistas, batalha entre home office e presencial tem feito com que empregadores queiram baratear funcionários e acabar com vínculos trabalhistas
A guerra entre empresas e funcionários pelo home office parece ter ganhado mais um capítulo: aquele em que postos de trabalho integrais são transformados em trabalhadores temporários sem vínculos empregatícios.
A lógica que parece operar em algumas companhias parece ser a de que, se o trabalho pode ser remoto, pode ser uma boa ideia contratar os trabalhadores mais baratos do mercado. Não precisar se comprometer com os vínculos empregatícios, como no caso dos trabalhadores que não são regidos pela CLT, faz com que as organizações também tirem de sua responsabilidade alguns direitos e benefícios, como assistência médica, treinamento e desenvolvimento, estabilidade, entre outros.
Em uma pesquisa realizada pelo Atlanta Fed, em 2022, as empresas disseram que o trabalho remoto as levou a estocar funcionários de meio período, temporários, contratados independentes e cargos terceirizados, tanto no país quanto no exterior.
Segundo a pesquisa, as empresas que estão buscando opções de emprego mais baratas por causa do trabalho remoto, procuram por:
- Funcionários de meio período (23,3%);
- Trabalhadores independentes (18,4%);
- Terceirização dentro do próprio país (15,7%);
- Temporários (13,3%) e
- Terceirizados em outros países (7,3%).
“É a uberização da força de trabalho. Quanto mais remoto você é, mais uberizado é o trabalho e mais você recebe apenas pelo dia ou pela semana.”, explicou à Insider o professor da Universidade de Stanford e um dos economistas por trás da pesquisa do Fed de Atlanta, Nicholas Bloom.
“Se alguém entra em seu escritório cinco dias por semana, semana após semana, parece que é seu funcionário. Você quer dar a eles assistência médica, uma pensão, treiná-los, tê-los como plano de longo prazo da empresa. Mas assim que eles não estão no local, os gerentes pensam que não é tão óbvio que eles querem pagar todos esses custos adicionais. Os funcionários não estão se misturando, não estão falando sobre filhos durante o almoço. Eles podem ser menos leais à companhia. Eu ouço isso das empresas – quanto mais distante alguém é, mais transacional parece”, disse Bloom.
Uma pesquisa feita pela McKinsey estima que os trabalhadores independentes – uma categoria que inclui trabalhadores temporários, contratados e autônomos – agora representam 36% da força de trabalho dos Estados Unidos, um aumento de 27% desde 2016.
Outro ponto da pesquisa é que, em 2016, 14% dos entrevistados disseram ter concordado em trabalhar como freelancer ou como funcionário temporário, principalmente, “por necessidade de atender às necessidades básicas da família”.
Em 2022, essa participação saltou para 26%. Esse aumento indica que uma parcela crescente dos trabalhadores pode estar sendo forçada a fazer arranjos que não querem em empregos que não oferecem benefícios e nem oportunidades de desenvolvimento de carreira.
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