Para a Today, Karen Kanaan escreve sobre o potencial da força de trabalho das mulheres para acabar com a escassez de talentos em tecnologia
Para permanecer competitiva no crescimento tecnológico e na inovação, a Europa deu início a um processo consistente de treinamento e recrutamento de mulheres. A proposta é capacitá-las para que assumam funções-chave em empresas que atuam com as tecnologias mais demandadas em um futuro próximo.
O nome disso não é pensamento estratégico; é “corre que deu x@%”! Esses líderes europeus perceberam, na prática, que para construírem vantagens competitivas e garantirem o crescimento da indústria precisam responder rapidamente ao desafio da lacuna tecnológica com profissionais não masculinos.
Quando eles olharam para o setor, viram que apenas 22% de todas as funções são ocupadas por mulheres, segundo a pesquisa Women in Tech (Mulheres na Tecnologia), conduzida pela McKinsey & Co.
Em um momento em que a tecnologia sustenta grande parte da inovação e do crescimento no mundo, lidar com o déficit de profissionais é a coisa certa a fazer não apenas por uma necessidade econômica, mas por um imperativo de equidade de gênero. Hoje, mundialmente, há uma queda significativa no percentual de mulheres em carreiras STEM (sigla, em inglês, para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática).
Se há uma demanda do futuro para essas carreiras, as sociedades têm que garantir que as mulheres – cisgênero e transgênero – tenham oportunidades igualitárias. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que a previsão da população mundial até 2100 será de mais de 10 bilhões de pessoas, das quais metade serão mulheres; se considerarmos os indivíduos não masculinos, esse número sobe ainda mais. Ou seja, a conta da equidade tem que fazer sentido!
No Brasil, na 42 – que tem origem na École 42, da França – não apenas há mulheres entre as fundadoras, como a escola considera esse tema (e o da diversidade) visceral para tornar tangível o impacto social do negócio.
Cinquenta por cento dos campi no mundo são geridos e formados por mulheres, seja como cadetes (alunas), seja como profissionais do staff. Nas unidades de São Paulo e do Rio, elas superam em 30% os homens nos postos de trabalho, inclusive na liderança; entre os estudantes, há um contínuo esforço para que seja 50 a 50.
Para tal, ações afirmativas são constantemente empreendidas não somente para captar alunas, mas para criar um ambiente propício para elas. Iniciativas como “Minas, Manas e Monas” e “Chá das Minas” – eventos para troca de experiências e de inspiração – são conduzidas como parte da estratégia de impacto social.
Acreditamos que para resolver problemas complexos – sobretudo, os que ainda não surgiram – é fundamental ter um coletivo diverso. Hoje, a nossa comunidade de cadetes é formada por mais de 18 mil alunos no mundo dentro de uma construção que valoriza e celebra a riqueza da diversidade.
Como uma organização social inovadora, que tem transformado o cenário global do ensino de engenharia de software, a 42 foi criada com o objetivo de oferecer uma alternativa educacional para formar pessoas (Human Coders) com escala e excelência, para que estejam preparadas para serem protagonistas no mundo digital. A nossa visão, no Brasil e no mundo, é que a resposta para a escassez de profissionais no setor da tecnologia está, de fato e de direito, na formação de mais profissionais diversos.
Karen Kanaan
Sócia da Escola 42, conselheira e mentora, especialista em empreendedorismo e liderança nas universidades de Harvard e MIT, e pós-graduada em inteligência emocional pelo Instituto Albert Einstein.