Rafael Souto reflete sobre o equilíbrio entre carreira e vida — e mostra por que isso tem mais a ver com sucesso profissional do que a corrida por cargos
Por muito tempo, a carreira foi vista como uma corrida em uma escada linear, uma sucessão de degraus a serem escalados rumo ao topo. O objetivo era claro: o próximo cargo, a próxima promoção, o próximo salário. Nesse modelo, o sucesso era medido pela velocidade e pela posição alcançada, e a vida pessoal, com todas as suas nuances, frequentemente era vista como um obstáculo ou uma distração. Mas, felizmente, a percepção está mudando, e com razão.
O que as organizações e os líderes precisam entender é que falar de bem-estar não é um tema “à parte”, um benefício extra para o funcionário ou um assunto a ser tratado apenas pelo RH. Falar de bem-estar é falar de carreira. E, de forma ainda mais profunda, é falar sobre a qualidade de vida que cada profissional busca construir.
A carreira não pode ser dissociada da jornada humana. O tempo dedicado ao trabalho, a energia investida e a busca por um propósito devem estar conectados com as aspirações de cada pessoa: sua saúde física e mental, seu tempo de qualidade, sua conexão com o que realmente importa. Se a carreira é vista apenas como uma escada a ser escalada a qualquer custo, o resultado é o esgotamento, a frustração e, em muitos casos, o abandono da jornada.
Essa busca por uma carreira que se alinha à vida já é uma realidade para a maioria dos profissionais. Uma recente pesquisa do LinkedIn mostrou que 61% dos funcionários estariam abertos a buscar novas oportunidades no mercado caso não percebam chances de desenvolvimento na empresa em que trabalham.
E o que é “desenvolvimento” hoje? É a possibilidade de cada profissional construir sua carreira com liberdade e apoio da liderança, indo muito além do próximo cargo. É a oportunidade de criar uma narrativa profissional que faça sentido, que seja um “trampolim” para a vida, e não uma barreira.
Nesse contexto, os líderes e as organizações enfrentam um desafio crucial: romper com a lógica de que protagonismo no discurso e o desencantamento na prática são aceitáveis. A mobilidade interna, que já se mostrou como um pilar de engajamento, com empresas que a promovem tendo 2,3 vezes mais chances de ter colaboradores altamente engajados, é uma das formas mais concretas de aliar carreira e bem-estar. Ela oferece a possibilidade de o profissional construir seu próprio caminho, transitar por áreas e ampliar seu escopo, em vez de ficar preso à rigidez dos processos.
Atualizar o sistema de reconhecimento e mobilidade não é apenas uma questão de justiça individual. É, acima de tudo, uma estratégia de engajamento e sustentabilidade. Uma empresa que exige fluidez dos seus profissionais precisa abandonar os modelos de reconhecimento rígidos e entender que o bem-estar e a satisfação pessoal são o verdadeiro motor da carreira.
No fim das contas, a carreira de sucesso no século XXI não é a que leva ao topo da escada. É aquela que permite construir uma vida plena, equilibrada e com propósito, em que o profissional e o ser humano caminham juntos.