A motivação intrínseca e a inteligência emocional se tornam cada dia mais vantagens insuperáveis no mundo da inovação, escreve José Renato Domingues
Perseverance é um veículo robotizado da NASA que pousou em Marte em fevereiro e nos maravilhou com imagens incríveis desde então. A tecnologia envolvida em uma missão dessas é absurdamente alta e nos encanta por si só, mas o que cativou mesmo o público foram as minicâmeras – extraídas de smartphones de mercado – colocadas no módulo pelo gerente do programa da NASA Matt Wallace. Ele se inspirou em sua filha, que prendeu vários celulares pelo corpo enquanto executava suas rotinas de ginástica rítmica: “… assim as pessoas poderiam sentir como era fazer um salto carpado de costas como se fossem eu!”, disse ela ao pai, que relatou a história ao The New York Times.
Com essa ideia na cabeça, Matt conseguiu fazer milhões de pessoas na Terra “sentirem” como seria pousar e andar em Marte como se estivessem lá. Ele intuiu que o público se emocionaria da mesma forma que os engenheiros da NASA e quis compartilhar essa emoção. Pura empatia – capacidade de compreender o outro, se conectar e sentir o mesmo.
Um engenheiro da agência espacial norte-americana com esse nível de inteligência emocional? Isso não é mais uma exceção no mundo da tecnologia. Ao contrário, vem se tornando a regra.
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Nos grandes hubs de inovação que visitei (São Francisco, Singapura, Shenzhen, Dubai e Abu Dhabi) pude interagir com empreendedores, agentes públicos, executivos e investidores com ideias brilhantes. Todos usavam tecnologias disruptivas que estavam deslocando grandes concorrentes no mercado. E em todos encontrei essa mesma inteligência emocional que o pai da ginasta demonstrou.
Equipes, parceiros de negócios e até concorrentes descreviam os empreendedores como “sensíveis”, empáticos e com uma capacidade aguçada de desenhar produtos e serviços que tocariam o cliente. Seu foco era a qualidade da experiência emocional proporcionada ao consumidor, mas também aos colaboradores, fornecedores e até investidores. Um desses empreendedores era Dave Tai, cofundador da BeePlus.
Dave havia criado um negócio de montagem e aluguel de escritórios para startups com sede em Shenzhen e Hong Kong, com planos de crescimento para a província de Guangdong e o sul da China. Nossa primeira conversa aconteceu no escritório da Bee, na China, em volta de torneiras de cerveja, onde clientes e visitantes podiam se servir à vontade, a qualquer momento. Por que essa regalia? O sucesso da BeePlus, ele me explicou, era a capacidade de seus clientes construírem relações duradouras com os clientes deles − e nada mais gostoso do que celebrar os contratos em torno de uma boa cerveja. “Meus clientes me chamam para fazer um brinde à cada conquista. Vibramos juntos, torcemos uns pelos outros. Compartilhamos nossas emoções bem aqui”, disse Dave.
O autocontrole, a habilidade de perceber seu próprio humor, a motivação intrínseca e as habilidades sociais se transformam cada dia mais em vantagens insuperáveis no mundo da inovação e da alta tecnologia.
Em um ambiente visto como agressivo e egoísta, têm se destacado líderes como Satya Nadella, CEO da Microsoft, que transformou a cultura da empresa ao criar produtos e serviços mais inclusivos para deficientes. Indiano radicado nos Estados Unidos, ele se relaciona de maneira diferente com seu time, impactando a forma como outros executivos interagem com suas equipes – levando a uma mudança no relacionamento das pessoas da Microsoft de forma geral. Em seu livro Hit Refresh (Harper Business, 287 págs.), Satya dedica um capítulo inteiro sobre a necessidade de confiança entre as pessoas para que seja possível qualquer empreendimento humano. Ele também partilha sua visão sobre um crescimento econômico compartilhado por todos, destacando o papel de empresas globais, como a Microsoft, na construção dessa nova e necessária economia.
Muitos líderes de RH têm me questionado como eles podem fazer a diferença quando o tema é transformação digital, inovação e desenvolvimento de novos negócios. A minha resposta tem sido a mesma: use a inteligência emocional como o diferencial da estratégia tecnológica de sua empresa. Busque pessoas como o Matt, da NASA, e o Dave, da BeePlus. Oriente as organizações a crescerem como o Satya, da Microsoft. É aí que a gestão de pessoas faz o futuro tecnológico da companhia ser imbatível.
Concordo plenamente com seu artigo José Renato!
A empatia vai transformar cada vez mais o mundo, é o caminho para a solução pacífica de problemas e harmonia entre as pessoas.
Obrigado pelo comentário Nakao!