Matthias Wegener escreve, para a Today, sobre dados levantados pela pesquisa Think Work | Parentalidade no mercado de trabalho
A expressão ‘o dito pelo não dito’ traz a ideia de que, após uma discussão, os envolvidos não chegaram a nenhuma conclusão.
Como a maioria dos ditos populares, sua origem é incerta, mas sua mensagem é clara. Nestes casos, por mais que se coloque argumentos na mesa e converse sobre o tema, normalmente um lado não quer ceder e deixa o tema morrer. E, normalmente, este lado é o que tem mais poder na discussão.
Trago o significado dessa expressão para introduzir uma importante discussão sobre um dos pontos observados em nossa última pesquisa.
Entre os dados gerados pela pesquisa Think Work Market – Parentalidade no mercado de trabalho, muitos chamaram atenção, como mostram a Forward especial e o e-book que produzimos a partir deles.
Mas um deles se destaca por normalmente passar quase que despercebido em uma pesquisa: a distribuição de respondentes por sexo.
Embora as pesquisas da Think Work tenham normalmente uma pequena predominância de mulheres como respondentes devido às características da área de RH, normalmente esta proporção é de cerca de 60%-40%, sendo esta diferença bem superior ao que foi visto nesta pesquisa.
A predominância de mulheres respondendo o questionário mostra que claramente o tema da parentalidade não desperta o mesmo interesse entre os sexos.
E isso, por si só, já é um dos principais achados da pesquisa. E também mostra porque é tão difícil que este tema avance nas empresas, assim como muitas outras temáticas ligadas à diversidade.
Abrir uma discussão sobre um tema é o primeiro passo para que a gente possa evoluir. E, no momento, parece que nem isto os homens estão dispostos a fazer.
O cenário se torna ainda pior porque vivemos em um país onde a vasta maioria das lideranças nas organizações ainda é ocupada por homens, o que reduz muito as chances de sucesso de qualquer iniciativa ligada à parentalidade sem que haja o envolvimento e patrocínio dos executivos das empresas.
Mas, pensando em trazer uma agenda positiva para este artigo, espero que este dado possa ajudar os homens (que muitas vezes atendem também pela palavra ‘pai’) a refletirem sobre o seu papel na construção de um ambiente e de práticas que permitam um melhor equilíbrio entre as demandas parentais e profissionais de mães e pais nas organizações.
Por enquanto, a grande mensagem passada pelo que não foi dito pelos homens que não se interessaram em participar da pesquisa é de que eles não querem se envolver nesta discussão.
Espero que os dados da pesquisa e a reflexão deste artigo ajudem os homens a entenderem que, sim, eles precisam se envolver nessa temática, seja no seu papel de pai, de líder de gestão de pessoas e como executivos de empresas.
Porque, por hora, a sensação que fica é a de que mesmo com tantos dados conclusivos levantados pela pesquisa, tanto sobre os benefícios da parentalidade na vida profissional e sobre os impactos negativos que a maternidade ainda tem na carreira das mulheres, por enquanto a tendência é de que o tema ainda fique no ‘dito pelo não dito’, mais uma vez, nas organizações.