Rafael Souto aborda como o futuro do trabalho pede mais colaboração e adaptação e menos competição feroz
As mudanças estão bem à nossa frente no mundo do trabalho e exigem não apenas novos modelos ou sistemas de gestão, mas, principalmente, uma revisão de cultura empresarial.
Se, de um lado, ainda encontramos quem sustente que oferecer apenas uma política de cargos ascendentes é o suficiente para atrair e reter talentos – e, a reboque, alcançar melhores resultados –, por outro, a ideia de uma cultura de crescimento tem se mostrado mais alinhada com os tempos que estão surgindo.
Baseada na teoria da psicóloga americana Carol Dweck, professora na Universidade Stanford e autora de Mindset: a nova psicologia do sucesso, a ideia por trás da cultura de crescimento é que ela demonstra que as habilidades e a inteligência podem ser desenvolvidas por meio do esforço, aprendizado contínuo e resiliência.
Ou seja, não nascemos predestinados a um futuro limitado de competências. Não é como diziam os antigos: “quem nasceu para cinco nunca chega a dez”. Pode chegar e até ultrapassar, a depender de onde está.
O tema ganhou ainda mais destaque com o lançamento recente de Mary C. Murphy, uma renomada psicóloga social e pesquisadora, pupila de Carol. Em Cultures of growth: how the new science of mindset can transform Individuals, teams, and organizations (Culturas de crescimento: como a nova ciência da mentalidade pode transformar indivíduos, equipes e organizações, em tradução livre), ela desenvolve com mais detalhes a questão da cultura de crescimento no contexto do futuro do trabalho. Mary parte das ideias de Carol sobre mentalidades “fixas” e “de crescimento”.
Em linhas gerais, o mindset fixo entende que a inteligência, a personalidade e o caráter de uma pessoa são traços inerentes, sendo determinados no nascimento, e não mudam com o tempo.
Além disso, tem uma grande propensão a evitar o fracasso, não o compreendendo como uma oportunidade de mudança ou de melhoria.
A partir dessa observação, fica fácil inferir que esse mindset não é propício a críticas e feedbacks, encarados como algo negativo, e muito menos à busca por novos desafios.
Na mentalidade de crescimento, temos um cenário bem diferente. Nela, o indivíduo não fica predestinado a um futuro já traçado, pois mostra que o desenvolvimento é contínuo e o potencial individual é descoberto com aprendizado, trabalho e perseverança. Feedbacks, críticas e desafios são encarados como oportunidades de aprendizado. A ideia de lifelong learning costura todo esse pensamento.
E o que o futuro do trabalho nos acena? Um mundo mais propício à cultura de crescimento e não a de cargos. O sucesso não está apenas em galgar posições mais elevadas ou manter o status e poder atrelados a uma estrutura fixa e antiga.
Assistimos à entrada de novas gerações no mercado de trabalho que trazem consigo a importância de trabalhar em uma organização que esteja alinhada aos seus valores, que ofereçam oportunidades e experiências de desenvolvimento pessoal e profissional e de criar impactos positivos na sociedade.
Presenciamos a evolução e a adoção cada vez mais veloz da tecnologia, como a Inteligência Artificial, que permite rever processos de trabalho que já vinham em desabalada mudança com a expansão do trabalho remoto e, agora, do modelo híbrido, a partir da pandemia.
O que tem permitido e incentivado ainda mais as empresas a fomentar ambientes inclusivos e de colaboração – dois fatores importantes para a inovação e sobrevivência em um mercado altamente competitivo.
O futuro do trabalho se apresenta como de crescimento, de possibilidades e de abundância. O mindset já começa a mudar a partir desses três conceitos.
Uma mentalidade de cargos alimenta o medo de arriscar, a disputa muitas vezes desnecessária entre equipes e profissionais em busca de mais poder e status, deixando a organização de lado. É como criar um estado no qual o homem é o lobo do homem, lembrando a ideia do filósofo inglês Thomas Hobbes.
Os gatilhos que o mundo oferece para as mudanças organizacionais ajudam a eliminar esse personagem corporativo que habita as empresas. Esse lobo-homem cujo sucesso ficou no passado das histórias que começavam com “era uma vez”.