“Entre todas as perspectivas do futuro do trabalho, as pessoas estão no centro. Esse fato exige intensificarmos a busca por conexões humanas”, escreve Patrick Schneider

Quero saber se você vem comigo a não andar e não falar. Quero saber se ao fim alcançaremos a incomunicação; por fim, ir com alguém a ver o ar puro, a luz listrada do mar de cada dia ou um objeto terrestre e não ter nada que trocar. Por fim, não introduzir mercadorias como o faziam os colonizadores trocando baralhinhos por silêncio. Pago eu aqui por teu silêncio. De acordo, eu te dou o meu com uma condição: não nos compreender.
Quero Saber… – de Pablo Neruda

O poema de Pablo Neruda, um dos meus poetas preferidos, propõe a conexão pelo silêncio e pela percepção – a capacidade sensorial atribuída a seres vivos que se interligam por afinidades magnéticas, atribuindo um significado profundo ao conceito de conexão.

Há diversas formas de nos ligarmos a outras pessoas, construindo nexos entre propósitos similares. Em meio a tantas possibilidades dissonantes ao redor, encontramos na similaridade humana um caminho para estarmos próximos. No entanto, o silêncio proposto por Neruda parece distante em uma sociedade que permanece em ruído constante, estimulado pela intimidade virtual de estranhos passageiros nas timelines das redes sociais que propõem tudo, menos conexão.

O debate atual sobre redes sociais e saúde mental revela o impacto negativo de ver pessoas felizes em Ibiza, enquanto estamos de pijama no sofá ou acordando para mais um dia agitado na cidade.

O próprio networking se desmaterializou, tornando-se parte de uma timeline. Antes, as trocas ocorriam de modo espontâneo em eventos, muitas vezes aproximando-se pela eficácia de um sorriso e olhares que se cruzam. Hoje, a conexão se faz por meio de “olás” virtuais ou “pesca de arrastão” nas redes sociais.

Longe de ser um saudosista, reconheço os benefícios dos diversos formatos disponíveis para nos conectarmos. Porém, a escrita também está sendo substituída pelos prompts de inteligência artificial generativa. Embora eu adore coletar ideias da IA, não abro mão de compartilhar minha própria opinião. A produção de conteúdo que desafia e nos torna únicos dentro das organizações é vital para expressarmos nossa cultura no trabalho.

Amigos me conhecem por utilizar prompts que garantem “quem é que manda”, como a assinatura pessoal: “Antes de apresentar as respostas, me faça cinco perguntas para assegurar o seu entendimento”. Este método já está integrado na minha plataforma de ChatGPT. 

No livro O vento mudou de direção, a jornalista Simone Duarte relata, de forma crua e humana, o 11 de setembro, nos Estados Unidos. Ao nos encantarmos por algo ou uma causa, às vezes nos esquecemos de nos conectar conosco mesmos e passamos a atuar de modo “copiado e colado”.

Essa conexão, seja pela empatia ou pela possibilidade de nos enxergarmos no outro, foi amplamente experimentada em tragédias como a pandemia da covid-19, as enchentes de 2024 no sul do Brasil e a expansão da agenda de Diversidade, Equidade e Inclusão nas empresas.

O cinema também abordou a conexão humana em 2024, no filme O quarto ao lado, de Pedro Almodóvar. Por 1h47, duas personagens buscam intensamente o laço profundo entre amigas, muitas vezes sem diálogos, mas com expressões de hesitação, respeito, dúvida, tristeza e paz, que refletem a multiplicidade de emoções humanas.

O ambiente de trabalho vem mudando e apresentando diferentes tons como um pôr do sol. Entre todas as perspectivas do futuro do trabalho, as pessoas estão no centro. Esse fato nos exige intensificarmos a busca por reestabelecer espaços de conexão, como fazem as casas de blind meeting na China, onde qualquer luz que se registre no espaço encerra a reunião, por ter violado a principal regra de manter o foco na pessoa que está falando.

Essa prática é interessante, ainda que desafiada pelo trecho final do poema de Neruda: não nos compreendermos.