As habilidades essenciais para o século XXI

“A habilidade para colocar toda a potência que envolve a interação cérebro-máquina a serviço da marcha evolutiva exige mais do que diplomas em escolas luxuosas”, escreve Patrick Schneider

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Se sua jornada em RH transitou pela virada dos anos 2000, invariavelmente seu desafio passou por implantar gestão por competências dentro das organizações. Foi como uma revolução.

Lembro dos livros de Dave Ulrich e Maria Odete Rabaglio que revelavam o universo de entrevistas, avaliação de desempenho e jogos corporativos por competências, além dos diversos dicionários de habilidades que ganhavam forma para todos os lados. Havia teóricos que desenhavam acrônimos complementares ao CHA (Conhecimento, Habilidades e Atitudes). Nesta toada, me agradava muito a ideia do professor Luiz Carlos Cabrera, que abordava em 2002 o conceito de CHAVE, adicionando ao CHA, Valores e Entorno.

O tempo foi passando e a gestão por competências manteve-se firme por anos. Justamente na chegada da segunda década do século XXI, pouco a pouco, a necessidade de pensar sob a perspectiva de qualificações necessárias para lidar com a complexidade embarcada na sociedade contemporânea foi aflorando.

Em 2020, um mês antes da pandemia chegar ao Brasil, Austin Kleon já anunciava em um evento fechado da Ohio Art Education Association que o posicionamento, aprimoramento e colaborações criadas a partir da conexão humana ao redor de habilidades era um caminho sem volta. Quase que profetizando, afirmou que as organizações poderiam procurar profissionais com base em suas competências, mas que as habilidades para lidar com a complexidade rapidamente se sobressairiam e o desalinhamento com esta forma de pensar custaria caro em termos de despesas com desligamentos.

E então vieram os capítulos mais dramáticos da história moderna nos anos de 2020 e 2021, onde mesmo carreiras tradicionais, como a medicina ou a ciência molecular, demandariam pessoas com habilidades exclusivas que não cabiam dentro de um conjunto de qualificações somente. E foi assim que estudantes de medicina no ano de formatura foram chamados ao fronte e avaliados quanto às suas capacidades para lidar com tudo o que tiveram de enfrentar.

A jornada da Diversidade, Equidade e Inclusão ajudou muito a alavancar esta dinâmica. Segundo o relatório 2023 Census Bureau Report, colocou-se luz na dificuldade que pessoas negras e hispânicas têm em completar uma graduação universitária. Entretanto, pessoas egressas de ambientes em que a linha entre viver e sobreviver é de traçado muito tênue poderiam ter habilidades que pessoas mais privilegiadas não conseguiriam coletar em espaços por onde circulavam.

Nesse sentido, o artigo da Harvard Business Review intitulado “What Companies Get Wrong About Skills-Based Hiring” insiste que a lógica de pensar em competências colhidas em bancos universitários limita muito o acesso potencial de talentos de uma mesma faixa etária, excluindo dramaticamente grupos da sociedade com um conjunto de habilidades sociais muito caras, como lidar com a ambiguidade, elevar a diversidade e inclusão ou uma tomada de decisão rápida.

A exponencial escalada do uso de inteligência artificial no dia a dia das empresas passa por reforçar ainda mais esse entendimento. A habilidade para colocar toda a potência que envolve a interação cérebro-máquina a serviço dessa marcha evolutiva exige mais do que diplomas em escolas luxuosas e treinamentos técnicos intermináveis, substituindo essas formações por jornadas imersivas em grandes auditórios ou hackathons temáticos voltados para a solução de problemas complexos presentes ao redor do planeta.

Entendo que um dos papéis contemporâneos da área de Recursos Humanos passa por colaborar apontando caminhos para que as pessoas continuem mantendo-se relevantes dentro do ambiente de trabalho. Pensar nos mais diversos caminhos possíveis para que a requalificação profissional pautada por habilidades possa tornar-se viável, independente do tempo de experiência, formação e aspiração quanto à carreira, é um flanco fundamental ao profissional de gestão de pessoas.

Evolução. Parece algo tão simples, mas que colocado em perspectiva colabora fundamentalmente com o futuro do trabalho. Pensar quais são as habilidades que compõem o conjunto fundamental dos profissionais de RH contemporâneos parece crítico.

O universo individual de cada mercado, segmento empresarial, cadeia à qual faz parte, elementos territoriais, sociais e culturais parece-me relevante demais. E é aqui que acredito que o momento atual mais se destaca do modelo originário de competências: esta capacidade de ser volátil e adaptativo conforme a realidade da organização, dos times impactados e dos gestores atentos a tudo o que está rolando em ritmo acelerado.

Patrick Schneider

Executivo de RH, escritor e pesquisador na temática futuro do trabalho.

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