É hora de reacender a chama do futuro

Danilca Galdini convoca líderes para construir um futuro mais inclusivo, esperançoso e tangível para todas as gerações

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A maneira como as diferentes gerações projetam o futuro é moldada pelas experiências vividas. E isso não é algo interessante só do ponto de vista individual. Traz também implicações diretas e profundas para o planejamento estratégico das organizações.

O século passado foi marcado por uma euforia futurista. Avanços tecnológicos, científicos e sociais, globalização como alavanca de crescimento econômico e uma cultura vibrante alimentavam a crença em um futuro promissor. Problemas existiam, mas o olhar estava fixado na aceleração, expansão e possibilidades.

Esse otimismo moldou as identidades pessoal e profissional da maioria dos líderes organizacionais atuais, que frequentemente visualizam o futuro como repleto de oportunidades. Nosso cérebro trabalha a partir de previsões fundamentadas em experiências passadas, atuando como um “piloto automático” que reforça esse viés otimista.

Então veio o século 21 e a maneira de perceber o futuro mudou. As guerras, as crises econômicas, políticas e ambientais, a pandemia, a crise de saúde mental, assim como tantas outras questões nos fizeram encarar os próximos anos com uma sensação inquietante de que “não haverá futuro”. É nesse contexto que os jovens moldam suas identidades pessoal e profissional, vivendo um presente de experiências líquidas, onde até promessas de solução, como a tecnologia, se tornam ameaças.

Veja essa diferença de percepção evidenciada nos dados sobre apatia por gerações:
GeraçãoSentem apatia sempre ou frequentemente
Baby Boomer13%
Geração X18%
Millennials25%
Geração Z40%
Fonte: Carreira dos Sonhos 2024

Apatia se define pela ausência de interesse que atinge todos os aspectos da vida, resultando em uma postura de indiferença diante de qualquer evento, seja bom ou ruim. O Fórum Econômico Mundial classifica o desencanto juvenil como um risco global significativo, já que afeta o desenvolvimento humano, o engajamento social e a inovação.

O sociólogo Fred Polak afirmava que a prosperidade cultural de uma sociedade depende de visões positivas de futuro. Assim, quando essas visões se dissipam, a vitalidade cultural também enfraquece. Movimentos como Quiet Quitting e Quiet Ambition são sinais dessa perda de vitalidade. Claro que temos que tirar todo o apelo midiático desses termos, entender o quanto eles refletem o nosso contexto e a realidade de qual público brasileiro. Mas, mesmo retirando essas camadas, são movimentos que devemos acompanhar, pois revelam como o futuro está sendo percebido. 

Precisamos resgatar a euforia futurista usando nosso conhecimento coletivo para tomar decisões no presente que favoreçam a construção de um futuro mais positivo e justo para as pessoas. Planejar os próximos anos das organizações é também planejar futuros humanos, e isso exige sensibilidade para reconhecer que nem todos partem do mesmo ponto.

Sem esse entendimento, o risco é planejar estratégias com base em imagens de futuro que não ressoam com grande parte da força de trabalho. Ou seja, a falta de conexão entre a liderança e as gerações mais jovens pode resultar em perda de engajamento, aumento da rotatividade e dificuldade para inovar.

O desafio, portanto, é duplo: reconhecer a diversidade de experiências temporais e construir uma narrativa de futuro inclusiva, inspiradora e tangível para todas as gerações.

Por onde começar? A resposta está no presente. As lideranças devem investir em ações concretas que promovam qualidade de vida, desenvolvimento humano, bem como relações de confiança. Mais do que elaborar estratégias, é essencial criar condições para que o futuro possa ser imaginado e construído.

Entender a temporalidade das diferentes gerações é um convite para liderar de maneira mais consciente, respeitosa e, acima de tudo, transformadora. Afinal, o futuro das organizações é inseparável do futuro das pessoas que nelas trabalham.

Danilca Galdini

Head de Pesquisa na Cia de Talentos e jurada no prêmio Think Work Innovations.

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