A colaboração entre empresas, que passou a ser uma realidade cada vez mais comum, inclusive no Brasil, escreve Lady Morais para a Today
Ao analisar com atenção, podemos perceber que as organizações e a sociedade se influenciam mutuamente ao longo de suas trajetórias. Da mesma forma que os valores e anseios que nos orientam enquanto cidadãos abrem espaço para que empresas atendam às demandas de diferentes extratos sociais; nós, enquanto indivíduos, também respondemos às tendências de uma economia em constante mutação.
Acho interessante perceber essa “simbiose” entre sociedade e companhias, quando observamos o avanço de uma perspectiva colaborativa. É notável que ela escoa em diferentes terrenos de nossas vidas enquanto profissionais, líderes e membros ativos de comunidades globalmente interligadas pelo poder da informação.
Você já parou para pensar, por exemplo, em como o conceito de economia colaborativa tem mudado a forma como enxergamos a posse de um bem? Como também tem difundido princípios relacionados a um maior desprendimento, o qual inclusive favorece a busca por sustentabilidade dentro de um contexto no qual sabemos que os recursos são finitos e devem ser preservados?
Ao mesmo tempo, esse novo olhar (social e econômico), impulsiona o surgimento de novas empresas e de inovações disruptivas que transformam as estruturas de diferentes mercados – do Uber ao Airbnb; das plataformas de streaming ao SaaS (software as a service) – e movimentam um ambiente de negócios que, já em 2019, gerou 373 bilhões de dólares em novos negócios e deve atingir 1,5 trilhões de dólares ao longo dos próximos dois anos, segundo dados da consultoria BCC Research.
A filosofia colaborativa, aliás, também se expande nas estruturas de trabalho das organizações e ganhou tração significativa a partir do trabalho híbrido, home office e work from anywhere. Tais modelos permitem que companhias não se limitem às fronteiras dos escritórios para formar equipes diversas e com talentos e skills complementares; além de fortalecer novos nichos de mercado, como os espaços de trabalho compartilhados – cuja busca cresceu 93% só no primeiro trimestre deste ano, de acordo com pesquisa da International Workplace Group (IWG).
Em outras palavras: além de um farol positivo para as relações sociais, a colaboração deve ser vista como um ativo valioso por empresas e lideranças.
A concorrência que não impossibilita a colaboração
Outra prova contundente do potencial da mentalidade colaborativa se encontra nos ecossistemas de inovação, onde a colaboração entre empresas – que poderiam apenas concorrer entre si – passou a ser uma realidade cada vez mais vista, inclusive no Brasil.
Segundo dados do Panorama da Open Innovation & Startups no Brasil, os projetos de inovação aberta cresceram 222% entre 2019 e 2021, fato que deixa claro o quanto as estruturas colaborativas são um dos vetores para a corrida tecnológica no país.
Tal cenário traz ao menos dois ensinamentos importantes para o atual ambiente de negócios:
- Primeiro, competir não significa derrubar pontes para a colaboração entre empresas – e, sobretudo, que a ética corporativa é um valor central e não é necessário, então, ferir valores ou incentivar uma competição predatória para crescer;
- Segundo, esse novo contexto implica também uma nova perspectiva por parte das lideranças, que precisam dominar a arte da integração cultural e da difusão de valores colaborativos entre seus times.
Colaboração corporativa para a construção de carreiras de sucesso
É possível perceber a necessidade de líderes mais atentos ao poder da colaboração quando observamos, por exemplo, a demanda no mercado por soft skills ligadas, justamente, a uma maior sociabilidade, capacidade de integração e empatia, conforme definição da Unesco. A colaboração corporativa é, nesse sentido, um norte para o sucesso, além de dar vazão à ideia de que é possível crescer com união de propósitos mútuos.
Não por acaso, segundo estudo da ZipRecruiter com empresas brasileiras divulgado este ano, a comunicação, atualmente, é a virtude mais procurada por empregadores; ao passo que um estudo internacional de 2020 (Businessolver) apontou que 76% dos funcionário se sentem mais motivados dentro de companhias empáticas.
A empatia que sustenta o futuro
A empatia, aliás, é um sustentáculo para o futuro tanto de nossa sociedade quanto de nossa economia. Por que empatia é entender o mundo com alteridade, com o olhar do outro; bem como é se preocupar com a realidade (ambiental, social e humana) que nos cerca. E esse paradigma, como vimos no início, também influencia as empresas.
Assim, novos valores para o ambiente de negócios do futuro serão necessários. Não se trata apenas de uma questão idealista, mas que traz retornos concretos: 35% dos consumidores estão dispostos a pagar mais por produtos sustentáveis, segundo a IBM; enquanto nada menos que 97% acreditam que as empresas devem contribuir para a resolução de problemas sociais, de acordo com a Edelman.
Porque colaborar, por fim, não se trata da ausência de gana por crescimento, mas do entendimento de que as jornadas de sucesso não precisam – e geralmente não o são – construídas por viajantes solitários.