Mentoria: quem desenvolve quem?

Para a Today, Ana Paula Franzoti escreve sobre o potencial de aprendizado mútuo de processos de mentoria bem conduzidos

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Começo este artigo com uma provocação sobre o processo de mentoria: quem desenvolve quem?

E esta provocação vem de uma reflexão sobre o exercício de liderar, mas também de uma crença profunda do poder que este processo tem para o desenvolvimento de profissionais nos diferentes momentos e vivências durante a trajetória profissional.

De acordo com David Clutterbuck, fundador da The Mentoring Foundation e autor de vários livros sobre o tema, “mentoria é uma relação interpessoal na qual uma pessoa experiente (o mentor) guia outra pessoa menos experiente (o mentorado) em um processo de aprendizado e desenvolvimento pessoal e profissional”. 

Simon Sinek, autor conhecido por seus livros sobre desenvolvimento de lideranças, destaca a importância de ter mentores como parte do processo de aprendizado e desenvolvimento. Ele afirma que a mentoria pode ser uma fonte valiosa de orientação e aconselhamento, e que ter uma pessoa mentora pode acelerar o processo de crescimento.

Sem querer questionar as definições acima e a de tantos outros autores e especialistas no tema, pois concordo com elas, a perspectiva e reflexão que quero trazer passam por outras variáveis e, que venho compartilhando desde meu primeiro artigo por aqui. A ideia não é questionar o processo, mas sim pensar com uma outra lente.

Compartilho com muita humildade, perguntas que tenho me feito:

  • Como uma pessoa da geração X, mentora uma pessoa Millenium?
  • Como uma pessoa binária, mentora uma pessoa trans ou LGBTQIAP+?
  • Como uma pessoa sem deficiência, mentora uma pessoa com deficiência?
  • Como uma pessoa branca, mentora uma pessoa auto declarada negra ou parda?

A vida profissional, os ambientes de trabalho e a relação com o trabalho mudaram de forma drástica e o que antes era definido pelo tempo (experiência), hoje é definido pelas vivências em que cada um de nós é exposto. A experiência pode nos dar alguma referência, mas esta referência pode se tornar incrivelmente “antiga” em questão de dias, se não formos capazes de aprendermos e reaprendermos o tempo todo.

É a capacidade de aprender e reaprender a nova forma de “ter experiência”: é assim que ampliamos nossa visão e percepção do mundo.

Nas situações que relato acima, em uma situação de mentoria, quem será que aprende com quem? Se nos concentrarmos somente nas demandas profissionais para termos êxito nestes processos de mentoria, não estaremos em um processo de mentoria, afinal a mentoria é uma relação interpessoal. Se uma pessoa binária mentora uma pessoa trans ou LGBTQIAP+, para que este processo seja profundo, produtivo e principalmente empático, esta pessoa mentora terá que buscar entendimento sobre o tema e, este processo de mentoria também irá transformá-la.

É por isso que tenho incentivado a prática da mentoria reversa, ou seja, uma forma de mentoria em que o mentorado é alguém mais experiente em questões tecnológicas culturais ou com vivência social diferentes do que o mentor. 

O objetivo da mentoria reversa é permitir que o mentorado compartilhe seus conhecimentos e perspectivas com o mentor, ajudando-o a se atualizar e a se adaptar às mudanças no ambiente de trabalho. 

Essa abordagem pode ser uma forma eficaz de promover a diversidade e a inclusão na empresa, além de incentivar o aprendizado e o desenvolvimento mútuo entre trabalhadores de diferentes gerações e níveis hierárquicos. 

Embora pareça algo da “modernidade”, o conceito de mentoria reversa surgiu na década de 80, onde uma empresa enfrentava uma mudança tecnológica significativa e percebeu que muitos dos funcionários mais jovens tinham conhecimentos atualizados e inovadores, enquanto os executivos mais velhos estavam lutando para se adaptar às mudanças. A troca e o aprendizado entre eles fez com que houvesse mais rapidez no processo de mudança. 

Minha provocação para você é: se você está mentorando alguém, e não está aprendendo nada… Pare e reflita: alguma coisa está errada. E se você não está mentorando ninguém e não buscou uma mentoria reversa para algum tema que não tem repertório ou vivência… Pare e reflita: você pode estar atrasado!

Ana Paula Franzoti

 

Diretora de Desenvolvimento Organizacional e Equidade, Diversidade & Inclusão. Na Think Work, escreve sobre carreira, diversidade e inclusão nas empresas e no mercado de trabalho.

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