Antídotos para o bloqueio criativo

Quinze meses após afastar-se do projeto de seu terceiro livro para enfrentar novos desafios profissionais, Patrick Schneider revela as estratégias que o ajudaram a vencer o bloqueio criativo

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Caminhos, memórias e possibilidades sempre estarão à nossa disposição para nos socorrer em momentos de dificuldades. Atravessar vácuos criativos, buscas por alternativas, transpor obstáculos, ultrapassar a linha da hesitação que pode nos levar à paralisia ante algo que nos desafia é algo árduo, sem dúvida.

Ando às voltas com meu terceiro livro já faz dois anos, uma jornada solitária da alquimia hesitante do pesquisador, uma imersão nos livros, cadernos de insights, clippings de jornais, revistas e repositórios. Uma travessia que repõe minha energia vital e complementa meus dois outros papéis profissionais, o de executivo de Recursos Humanos e o de professor na área de Gestão de Pessoas

Fiquei totalmente fora desse projeto por longos 15 meses, desde que assumi uma nova posição em uma companhia igualmente nova, que, já no segundo dia, me recepcionou com a maior greve da sua história e uma crise de reputação e credibilidade de marca. 

No início, tentei seguir meu roteiro literário, mas a profundidade da crise que enfrentava e a necessidade de imersão no tema me consumiam. Depois da primeira onda, vieram os reflexos, o rescaldo e as variantes da crise. Ainda que eu não seguisse o meu roteiro, a situação enfrentada seguia uma cadência quase que protocolar de seus passos esperados em situações como essa. 

A verdade é que durante todo esse tempo o projeto ficou na gaveta. 

Bem, após a recente decisão de retomar iniciativas que estavam pausadas, me deparei com um bloqueio criativo total diante do texto. O problema foi a reconexão com um trabalho que havia sido barrado em meus dias. 

Quando isso acontece, busco socorro imediatamente em um ritual que sempre colabora em situações similares: mergulhar ainda mais nas variadas expressões de arte disponíveis. 

E assim voltei a revirar a obra de Sebastião Salgado em seus livros Trabalhadores, Genesis e Amazônia, contaminando minha visão com a profundidade de sua obra. Na sequência, submergi nos cadernos de memórias de Drauzio Varella, O Exercício da Incerteza, e em toda a série de dúvidas que ele aporta de modo quase confessional. 

Agora, a novidade que tem ampliado significativamente minha forma de restabelecer a ordem em meio à desordem é a retrospectiva biográfica de Antônio Abujamra, escrita por Marcia Abujamra sob o título Rigor e Caos. Nela, a autora costura, como uma artesã, a imensidão que esse gênio foi, suas perturbações e dificuldades, a angústia criativa frente a textos complexos adaptados para o teatro, tudo reunido com uma densidade indescritível em palavras. 

A jornada de folhear esses materiais preciosos, como se estivesse caminhando por calçadas e fazendo uma pausa para me distrair em uma vitrine que me absorve para uma cena de um manequim em movimento, sempre colaborou muito em minhas atividades tanto dentro quanto fora de empresas. 

Ouvindo um episódio do podcast (igualmente antibloqueio criativo) do Clemente Magalhães, que revela os bastidores da indústria fonográfica e apresenta anônimos fundamentais para a construção de obras irretocáveis da música brasileira, me deparei com os métodos de desbloqueio de Batman Zavareze. 

O designer, responsável por grandes obras culturais no Brasil e pela assinatura por trás de palcos como Tribalistas, Marisa Monte e o encerramento das Olímpiadas do Rio revela: “Meu ponto de partida sempre está em dedilhar a obra de artistas e autores que me emocionam. Isso silencia a bagunça dentro de mim e me prepara para o novo”. Ouvir isso, de alguma forma, validou meu “processo”, ainda que isso não fosse necessário. 

O fato é que sentir-se bloqueado é algo que, invariavelmente, nos acompanhará ao longo de nossa trajetória. Por isso, ter nossos antídotos para lidar com essa condição é fundamental. 

Diante de um novo projeto que trate de um assunto ainda inexplorado – ou até mesmo algo já realizado, mas em outro contexto – há sempre uma oportunidade de mergulharmos internamente em busca da inspiração, que será o combustível da transpiração nos dias subsequentes.

Entendo que muitas pessoas fazem pouco esse exercício e partem automaticamente para a repetição de fórmulas já existentes, desconsiderando que o que funcionou em determinado contexto, pode não dar certo em um outro cenário. 

O estabelecimento desses processos traz possibilidades infinitas de trilharmos novas jornadas, nos experimentando por caminhos inéditos e, por eles, dando saltos maiores. 

Sinto-me preparado diante de uma trilha nunca antes experimentada. Quanto ao livro, ele está dando seus primeiros novos passos, uma ótima notícia em meio à ansiedade com que o vácuo criativo tenta nos embriagar.

Patrick Schneider

Executivo de RH, escritor e pesquisador na temática futuro do trabalho.

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