Até agora, nenhum país atingiu a promessa de igualdade de gênero prevista pelos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) da ONU para 2030
A desigualdade entre homens e mulheres permanece como um desafio global e, em muitos casos, está piorando. É o que aponta o SDG Gender Index, divulgado pela Equal Measures 2030, uma coalizão de ONGs.
Entre 2019 e 2022, cerca de 40% dos países analisados estagnaram ou retrocederam em avanços para a equidade, afetando mais de 1 bilhão de mulheres e meninas.
O relatório ainda revela que mais de 850 milhões delas vivem em países classificados como “muito pobres” nesta seara, enfrentando abusos como gravidez forçada, casamento infantil e restrições à educação. Além disso, mais de 1,5 bilhão estão em nações avaliadas como “pobres” nesses quesitos.
Regiões como África Subsaariana, Oriente Médio e partes da Ásia lideram o ranking negativo, enquanto a Suíça foi o único país a alcançar a classificação “muito boa”. O Brasil está na categoria “pobre”, ao lado de nações como México, Peru e Índia.
O levantamento entende que, nesse ritmo, a isonomia só será alcançada no século 22.
Uma corrente de retrocessos e uma luz no fim do túnel
O SDG Gender Index aponta que conflitos armados, mudanças climáticas e ameaças à democracia estão contribuindo para a retração.
“Da explosão da violência doméstica durante a pandemia ao retorno do Talibã ao poder no Afeganistão, os direitos das mulheres estão sendo corroídos”, disse Chiara Capraro, diretora do programa de justiça de gênero da Anistia Internacional do Reino Unido, ao The Guardian.
Segundo o relatório “Progresso nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: O Panorama de Gênero 2024“, divulgado pela ONU Mulheres e pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU, além do óbvio impacto na vida das mulheres, a desigualdade também pesa no bolso das nações: países que não educam adequadamente suas populações jovens perdem mais de 10 trilhões de dólares anuais, e as discrepâncias de gênero podem gerar prejuízos de 500 bilhões de dólares nos próximos cinco anos.
Mas, apesar do cenário alarmante, ainda há espaço para reverter a situação.
O estudo da ONU destaca o aumento da participação feminina nos parlamentos (uma em cada quatro cadeiras) e a redução da parcela de mulheres e meninas em extrema pobreza. Além disso, foram implementadas 56 reformas legais desde o primeiro Panorama de Gênero, visando reduzir desigualdades.
Para especialistas, como Heather Barr, da Human Rights Watch, essa ampliação da participação de mulheres em cargos de decisão, tanto em governos quanto em empresas, é essencial para virar o jogo.
Em entrevista ao jornal britânico, ela disse: “Esta é a melhor maneira de garantir que realizamos as mudanças reais necessárias para alcançar a igualdade de gênero, em vez de apenas falar sobre isso”.