Empresário e produtor cultural KondZilla seduz ao mostrar a capacidade do setor, que oferece salários iniciais acima da média nacional e tem potencial para ser vitrine para o mundo, a exemplo dos jovens da Coreia do Sul
Se é preciso falar a língua dos jovens, e oferecer a eles o que desejam, como defendem Ana Inoue, Ronald Sorriso e o instituto Geledés, KondZilla é o cara. Konrad Dantas, o empresário e produtor cultural por trás da marca que se confunde com ele próprio, sabe o que está bombando. E mais: sabe como fazer para bombar.
Ao perder a mãe, uma professora da rede pública do Guarujá (SP), aos 18 anos, Konrad passou a viver com uma pensão de 3.100 reais por mês até completar 21. Com o dinheiro, sustentou a si e ao irmão e partiu para uma série de cursos. Alguns, fez mais de uma vez, ou por não ter absorvido o conteúdo como gostaria ou porque o programa havia sido atualizado. No final, abriu a cabeça e ampliou os horizontes e as sinapses. Tirou daí a lição de que a educação pavimenta caminhos, transforma.
Empresário bem-sucedido, com feitos como ter criado o canal do YouTube com mais acessos na América Latina e Sintonia, a série de língua não inglesa mais assistida no catálogo mundial da Netflix, ele entende que o país está cheio de talentos jovens a serem descobertos, encaminhados e lapidados. Que a tecnologia é um meio para isso e que um movimento consistente para abraçar e desenvolver esses jovens é o que de fato se poderia chamar de futuro.
“O meu maior concorrente hoje, é um moleque de 14 anos na periferia, com telefone chinês”, disse ao público do Encontro Educação e Trabalho – Perspectivas da Educação Profissional e Tecnológica, promovido pela Fundação Itaú nesta quinta-feira na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. “O Brasil é top 5 em audiência no Youtube, Netflix, Instagram, Spotify e TikTok. Temos mercado para absorver nossos talentos, e um mercado que oferece salário inicial até 40% maior do que outros.”
A confiança de Konrad na indústria criativa não é nada gratuita. Tudo o que esse recém-contratado apresentador da GNT tem, hoje, ele deve a esse setor. Não à toa, KondZilla, como é mais conhecido, abriu seu TED no evento da Fundação Itaú com uma defesa eufórica desse setor.
Agro x cultura
“O PIB do agro é muito importante”, começou dizendo. “Mas o mundo das ideias, também. O Brasil não enxerga a cultura como indústria, mas o nosso PIB representa 3,11% do PIB nacional e é maior que o da indústria automotiva.” A defesa da indústria tecnológica brasileira viria logo depois: urna eletrônica, ConectSUS, Receita Federal. Uma série de projetos inovadores made in Brazil, mas sem marketing para divulgação.
Pelo menos, a indústria criativa tem em Konrad um empenhado garoto-propaganda. A la Maria Bethania, que em sua versão de Carcará recitava indicadores sobre a emigração do Nordeste, ele elencou números do setor.
A Netflix fatura 9 bilhões de reais por ano no país e devolve 800 milhões de reais em produções. Quando chegaram aqui, os executivos da empresa viram que só tínhamos mão de obra para oito produções simultâneas, era preciso investir em formação”, disse, com o verbo “devolve”, mesmo. “Players vêm para cá com pensamento extrativista, de explorar nosso potencial criativo e faturar com produtos no mundo.”
“Hoje, o Brasil ocupa o 3º lugar no mundo em streaming de música, distribuindo 15.000 faixas por semana. Um dos KPIs (indicadores de desempenho) para o bônus dos presidentes das gravadoras é ter 20% do Top 200 do Spotify no ano.”
Apesar desses números vistosos, que são a soma de muitos estilos, propostas e vertentes, o Brasil ainda tem uma imagem reduzida no exterior. Para falar sobre isso, Konrad lançou mão de um trabalho próprio, o clipe do funk Olha a Explosão, Quando Ela Bate com a Bunda no Chão, de MC Kevinho, um dos mais vistos do país no mundo. Uma parte do vídeo foi exibida no evento: bumbuns balançando para baixo e para cima de biquíni, numa praia.
“Temos um filme escolhido para concorrer a uma vaga no Oscar. Alguém viu?”, desafiou, citando sem dar o título Retratos Fantasmas, do pernambucano Kleber Mendonça Filho. “O Brasil poderia ser conhecido por produções como essa, e não por obras como esse clipe que eu dirigi, que fala por si só. Mas falta marketing. E eu tenho lugar de fala aqui”, continuou, bem-humorado.
Como para mostrar a validade do que dizia, KondZilla emendou com o recente fenômeno da indústria cultural sul-coreana, que emplacou obras de repercussão global como a polêmica série Round 6, da Netflix, a banda de kpop BTS (kpop, aliás, significa korean-pop) e o filme vencedor do Oscar Parasita, de Bong Joon Ho. “Cultura é assunto de Estado”, disse. Na Coreia, o investimento em cultura foi um plano do governo, iniciado há 20 anos.”
Nessa perspectiva de Konrad, se há espaço para crescer, há também terreno para inserção de jovens trabalhadores. Como se diz nas novelas, o principal produto cultural brasileiro, a ver no próximo capítulo.
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