Líderes viciados em microgerenciar equipes estão exacerbando esse comportamento durante o trabalho remoto. E o RH tem um papel fundamental para impedir que os times adoeçam nesse contexto
Quem trabalha em ambientes tóxicos pode até ter sentido certo alívio na mudança para o trabalho remoto, no começo da pandemia de covid-19. Mas esse sentimento durou pouco tempo. Com o passar dos dias, o isolamento social e a distância do escritório acabaram provando que uma dinâmica de trabalho desagradável pode acompanhar o funcionário até sua casa. E, em muitos casos, inclusive piorar.
Com o time disperso, a obsessão de alguns líderes por controle parece ter aumentado e eles começaram a querer microgerenciar cada aspecto das horas de trabalho dos subordinados. Tem aqueles que ligam de surpresa para exigir que o funcionário compartilhe a tela do computador. E tem até os que pedem para a equipe gravar toda a atividade do PC durante o dia. O resultado? Times enlouquecendo coletivamente, sabendo que a qualquer momento o chefe pode aparecer cobrando algo.
Para a professora em gestão de recursos humanos da Nottingham University Business School, Aditya Jain, uma cultura de trabalho tóxica ocorre quando os trabalhadores são expostos a riscos psicossociais. Eles podem ter pouco ou nenhum suporte organizacional, relacionamentos interpessoais pobres, alta carga de trabalho, falta de autonomia, recompensas pobres e falta de segurança no emprego.
As consequências disso são abrangentes – vão dos impactos individuais na saúde física, como doenças cardíacas ou distúrbios musculoesqueléticos, problemas de saúde mental e esgotamento, a consequências organizacionais, como redução de frequência dos funcionários, queda no engajamento, produtividade e inovação.
A maioria das culturas de trabalho tóxicas origina-se de uma má gestão, cujos maus hábitos podem ser contagiosos. Os comportamentos destrutivos no topo gotejam. Se os líderes se envolvem em comportamentos tóxicos, os demais colaboradores presumem que esse comportamento é aceito e também o praticam. Logo o clima tóxico está formado.
Antes da pandemia, esses comportamentos tóxicos ocorriam pessoalmente, durante reuniões, apresentações ou interações casuais. Agora, eles acontecem por meio de ligações e mensagens – e, às vezes, é mais fácil enviar uma mensagem rude ou ameçadora do que dizê-la pessoalmente.
Aumentou também a dificuldade dos funcionários em lidar com o comportamento tóxico do chefe uma vez que estão em casa, sofrendo de falta de interação social, sensação de exaustão emocional e desequilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Isso sem falar em todo o estresse causado pela própria pandemia de covid-19.
No trabalho remoto, o funcionário pode não ser capaz de obter apoio social informal de seus colegas ou recorrer a mecanismos de reclamação por meio da área de RH, simplesmente porque está isolado e se sente menos empoderado. Em outras palavras, cabe ao RH buscar mecanismos para monitorar eventuais desgastes e manter a satisfação dos times – mesmo a distância.