Além de enfrentar a indignação de clientes, companhias que anunciaram o fim de políticas em prol da diversidade, equidade e inclusão podem enfrentar desafios nas vendas e retenção de talentos
Nos últimos meses, algumas empresas desistiram de suas políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I). A maioria delas adotou essa postura por conta das ameaças de boicote feitas por grupos “anti-DE&I”, um movimento que tem ganhado força principalmente nos Estados Unidos.
No entanto, ao fazer isso, essas organizações estão ganhando a antipatia de quem apoia a luta em prol da diversidade.
Uma dessas empresas foi a Tractor Supply, que oferece produtos para agricultura, criação de animais e estilo de vida rural. Joe Montello, ex-gerente geral de uma loja da marca, contou em entrevista à Forbes que uma cliente, que se identificou como mulher lésbica, disse a ele que não faria mais compras na loja.
Para Montello, um homem gay na casa dos cinquenta anos, a declaração o fez lembrar do preconceito vivido pelos homossexuais quando a AIDS começou a se espalhar nos anos 80. “Penso em todo o progresso que foi feito desde então e sinto que estamos voltando no tempo”, lamentou.
A National Black Farmers Association, que representa 130 mil agricultores nos EUA, também criticou a mudança e pediu a renúncia do CEO da Tractor Supply. Organizações como a Human Rights Campaign e GLAAD, que defende os direitos LGBTQ, expressaram indignação.
A decisão também gerou um grande descontentamento nas redes sociais, com muitos consumidores declarando que não voltarão a comprar na loja.
O impacto do posicionamento
Apesar de o impacto financeiro da Tractor Supply ainda não ser conhecido, o risco de perder clientes e talentos é cada vez mais provável para empresas que se colocam contra as políticas de inclusão.
Em contraste, promovê-las pode ser um caminho para elevar a criatividade, produtividade, pioneirismo e até a receita.
Uma pesquisa da Deloitte realizada com 355 empresas apurou que 96% delas perceberam que iniciativas de DE&I promovem ambientes mais acolhedores e 95% que melhoram a qualidade da força de trabalho e geram valor. Nove em cada dez respondentes também declaram que essas políticas contribuíram com a retenção de profissionais, com a inovação e o uso de novas tecnologias.
Já a McKinsey mostrou que companhias com maior diversidade de gênero e etnia em suas lideranças têm mais chances de superar concorrentes menos diversos. Sua análise mais recente aponta, inclusive, que empresas inclusivas têm mais probabilidade de conquistar melhor desempenho financeiro.