A geração dos talentos ESG

José Renato Domingues escreve, para a Today, sobre a importância das práticas ESG para a atração e retenção de talentos do futuro

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Passar as férias na Patagônia fez parte de um plano ambicioso para me aprofundar nos temas ambientais, um dos pilares das práticas ESG – mais especificamente entender como a preservação da natureza em parques nacionais é crucial para o nosso futuro. Foi uma lição de humildade, de reconhecer nossa condição de passageiros na Terra. E trouxe alguns insights, os quais irei compartilhar aqui com vocês.

Meu foco tem sido em olhar para as soluções necessárias para reverter o aquecimento do planeta – chamadas de Climate Actions pelos especialistas. Um dos guias importantes nessa busca foi o livro e o trabalho de John Doerr “Speed & Scale”, enumerando alternativas e as contribuições de Jeff Bezos, Bill Gates e Al Gore, de forma prática e instrumental. 

John fez um TED brilhante sobre sua própria busca por essas soluções desde 2006. Outra fonte incrível de soluções vem da recente publicação do livro de John Elkington “Green Swans” – mostrando que negócios criados para solucionar essas questões serão os grandes impulsionadores econômicos e de inovação nas próximas duas décadas. E, por isso mesmo, grandes atratores de talentos.

Os consultores e recrutadores especializados, assim como as equipes internas de talent acquisition, têm trazido a cada dia dados e informações detalhadas aos CHROs sobre a dificuldade de se encontrar os funcionários necessários para suas corporações. 

A difícil competição pelos melhores profissionais do mercado começa no desinteresse deles pelo mundo corporativo (visto como inflexível e com baixa adaptabilidade), passa pela grande diferença do que se propaga como os valores de diferentes gerações no mundo do trabalho e termina com a capacidade das startups em construir sua marca empregadora baseada em propósitos com alto impacto na sociedade e sobre o meio ambiente. 

Quem é brilhante, talentoso, com boa capacidade de comunicação e uma mente inquieta, curiosa, criativa e com atitude positiva quer trabalhar por grandes causas e influenciar na solução dos grandes problemas da humanidade, sejam eles sociais, econômicos, ambientais ou relacionados a igualdade e equidade de direitos. 

Não são facilmente atraídos pelos melhores salários, bons benefícios e ferramentas modernas e inovadoras para trabalhar – muito menos ainda pela “oportunidade” (ironia, minha, me perdoem) de serem guiados, liderados por profissionais com grande experiência naquela empresa ou naquele mercado. 

Como o que buscam resolver é inédito (aquecimento do planeta, inclusão de grupos minorizados, preservação de recursos naturais) é muito claro para esses talentosos jovens que a experiência dos líderes corporativos não lhes servirá de guia. Ao contrário, vai acabar diminuindo a velocidade da solução dos problemas. Daí a necessidade de preparar esses gestores para liderarem de uma nova e engajadora maneira – pauta de um futuro artigo por aqui.

Ou seja, você que é o responsável pelas práticas de gestão de pessoas na sua empresa, precisa construir uma marca empregadora que seja suficientemente forte e motivadora para que os melhores queiram ir para a sua companhia. E para que os que já são os seus melhores queiram permanecer. Você pode enxergar essa situação como uma ameaça ou uma linda oportunidade. 

Ao estudar os temas ambientais que estão no centro dos desafios climáticos, ficou evidente para mim que a soluções em escala planetária não virão somente da mudança na forma como o Norte do globo consome e produz (embora seja importante fazer isso), mas sim em usar o potencial do Sul global para gerar as soluções em escala citadas por John Doerr em seu livro. 

Soluções para preservar as florestas existentes abaixo do Equador, para conciliar a produção industrial e agropecuária de forma sustentável e principalmente produzir, armazenar e distribuir energia a partir de fontes renováveis no hemisfério austral. 

Logo, se a sua empresa está no Brasil ou na América do Sul, ela precisa descobrir (se é que não fez isso ainda) como articula e executa uma estratégia ESG nitidamente alinhada com as Climate Actions. E ao assumir esse desafio, comunicar claramente isso aos seus talentos alvo. Isso é construir uma marca empregadora alinhada com o que mais motiva as próximas gerações a trabalhar em seu negócio. 

Mas porque poucas têm conseguido? Por que essa clareza entre as metas ESG da sua empresa e a estratégia de atrair e reter talentos para ela ainda não foi articulada e comunicada de forma simples e direta para dentro da empresa e para o mercado. 

Essa tarefa é sua, CHRO. Vincular o sucesso da sua empresa com os compromissos pelo futuro do planeta e das próximas gerações é uma atribuição dos profissionais de gestão de pessoas. Quem falha hoje nesse tema já perde muitos talentos e quem falhar nos próximos anos não será visto pelos profissionais de destaque como uma empresa viável para se trabalhar.

Aliás chegou o momento de redefinir o que é um Great Place to Work ou uma Melhor Empresa para se Trabalhar. Não tem mais nada a ver com salários, benefícios, carreira, progresso, estabilidade e crescimento. Ser uma das melhores empresas para se trabalhar nas próximas décadas está intimamente ligado ao tipo de gente que compõe essas empresas. E as melhores pessoas irão escolher aquelas que contribuem de forma evidente para um planeta melhor, mais preservado, limpo e menos quente. 

<strong>José Renato Domingues</strong>
José Renato Domingues

É conselheiro, executivo e investidor anjo em startups. Atua como conselheiro de administração em grandes empresas e é vice-presidente corporativo na holding da CTG. Escreve sobre as mudanças na sociedade para a Think Work.

Comentários A geração dos talentos ESG

  1. Ana Carolina Medina disse:

    Excelente provocação e reflexão sobre os grandes desafios para atração das novas gerações!!! Empresa é feita de pessoas….

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