Líderes: quem não se comunica…

Neste artigo, Danilca Galdini mostra por que esse ditado popular nunca fez tanto sentido para lideranças que, mais do que informar, precisam escutar, orientar, acolher e inspirar

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Se há uma habilidade que define o sucesso da liderança no mundo atual, é a comunicação. Não a comunicação que informa, que “manda e-mail”, que organiza a pauta da reunião. Mas aquela que escuta, orienta, acolhe, inspira. Aquela que faz com que as pessoas saibam por que fazem o que fazem, sintam-se parte de algo maior e consigam atravessar momentos de incerteza com clareza, segurança e confiança.

Apesar de ser uma habilidade essencial, 50% das organizações enfrentam lacunas em liderança adaptativa e comunicação estratégica frente à volatilidade econômica, de acordo com o Fórum Econômico Mundial 2024. 

Nos últimos anos, diante do acúmulo de crises e transformações, muitas lideranças entraram, sem perceber, no modo silencioso. Deixaram de dar um feedback importante por medo de parecerem duras demais. Evitaram conversas difíceis para não gerar atrito. Silenciaram sobre o caminho da empresa porque, honestamente, também não tinham certeza sobre ele. Só que esse silêncio cobra um preço — e ele é alto.

A falta de engajamento das pessoas custa à economia global mais de 8 trilhões de dólares por ano, segundo a Gallup. E até 70% da variação no engajamento de uma equipe pode ser atribuída à liderança direta. O dado pode assustar, mas também ilumina: o papel da liderança na criação de vínculos, confiança e direção nunca foi tão determinante.

A pesquisa Carreira dos Sonhos 2024 oferece um panorama revelador sobre o impacto da liderança na experiência das pessoas. Quando a gestão direta reforça o valor do trabalho da equipe, conduz conversas genuínas para saber como as pessoas estão e oferece apoio real, os resultados aparecem. Mas, quando se ausenta desse papel, cresce a desconexão – e com ela, o desejo de ir embora: 83% dos jovens que não confiam na liderança direta dizem querer mudar de emprego.

A confiança, afinal, é o que sustenta tudo. E ela não se constrói em grandes eventos, mas nas microinterações do dia a dia: no olhar atento, na escuta sincera, na disponibilidade para conversar. É uma química literal: nosso cérebro libera ocitocina quando sentimos que podemos confiar. E essa confiança ativa nossa disposição para colaborar, aprender, nos comprometer. Sem isso, qualquer estratégia desaba.

É claro que precisamos considerar o quão desafiador é se comunicar em um contexto de ambiguidade e alta complexidade, ainda mais porque a liderança também tem dúvidas e está cansada. Mas é justamente nesses momentos que a comunicação mostra seu maior valor: não como um lugar de certezas, mas sim como um espaço de construção conjunta. É possível dizer “eu não sei, mas estou aqui com vocês”. É possível conduzir mesmo sem todas as respostas, desde que haja presença, escuta e intenção verdadeira.

Comunicar não é falar mais, é falar com mais intenção. É abrir espaço para a conversa que transforma, o feedback que desenvolve, a dúvida que aproxima, a troca que potencializa a segurança. É sobre estar disponível, mesmo que imperfeito, porque liderar é tornar-se presença significativa na trajetória de outras pessoas. E é impossível que isso aconteça sem uma boa comunicação.

Danilca Galdini

Head de Pesquisa na Cia de Talentos e jurada no prêmio Think Work Innovations.

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