Trabalhadores que cuidam: o crescimento de um grupo invisível nas empresas

Com a população idosa em alta, 73% dos trabalhadores já exercem algum tipo de atividade de cuidado, segundo a Harvard Business Review

Com o envelhecimento acelerado da população, cresce também um grupo de profissionais que vêm exigindo mais atenção das empresas: os trabalhadores que acumulam responsabilidades de cuidado com familiares.

No Brasil, essa realidade já começa a se impor. De acordo com o IBGE, de 2000 a 2023, a proporção de idosos (60 anos ou mais) quase dobrou, passando de 8,7% para 15,6% da população. A estimativa é que, em 2070, cerca de 37,8% dos brasileiros serão idosos.

Esse é um cenário que intensifica o número de pessoas que, além do trabalho, cuidam de pessoas mais velhas, como pais e avós.

Segundo estudo da Harvard Business Review, os cuidadores já são a população de funcionários que mais cresce: 73% dos trabalhadores exercem algum tipo de atividade de cuidado.

O problema é que grande parte deles sequer se reconhece como cuidador. Tarefas como acompanhar consultas, gerenciar medicações ou fazer compras são vistas como parte do papel familiar, mas tomam tempo e energia que podem impactar o trabalho ou ao autocuidado.

E esse reflexo é evidente. Dados da ComPsych mostram que 20% dos funcionários que se afastaram para cuidar de alguém precisaram, depois, se ausentar por problemas próprios de saúde, sendo a saúde mental o principal motivo. Depressão, ansiedade e burnout são mais frequentes entre quem cuida de outros.

No trabalho, o desafio também pesa. Um em cada cinco cuidadores já pediu demissão ou aceitou uma posição inferior para dar conta da rotina. Muitos continuam no emprego, mas com queda de produtividade e engajamento, o que afeta diretamente os resultados das empresas.

O papel das empresas

Apoiar os cuidadores não é apenas uma ação de responsabilidade social, é uma estratégia para a retenção de talentos e sustentabilidade dos negócios. A boa notícia é que há várias formas de começar:

  • Flexibilidade de horário: permitir jornadas flexíveis ou escalas adaptáveis pode ajudar os cuidadores a conciliarem compromissos de saúde e cuidados com o trabalho.
  • Trabalho remoto ou híbrido: quando possível, a possibilidade de trabalhar de casa diminui o estresse logístico e amplia a produtividade.
  • Apoio emocional estruturado: programas de assistência ao empregado, com suporte psicológico e orientação sobre saúde mental, são fundamentais.
  • Grupos de afinidade e redes de apoio internas: criar espaços de escuta e troca entre cuidadores permite acolhimento e reforça a cultura de pertencimento.

Não se trata de criar um modelo único. Cada empresa deve adaptar as soluções à sua realidade e à de seus times. O mais importante é reconhecer que os cuidadores estão entre nós e que sua sobrecarga, quando invisibilizada, custa caro: aumenta o adoecimento, o turnover e o risco de colapsos individuais e coletivos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.