Construir uma cultura digital é o próximo desafio das empresas

Com os funcionários isolados em casa, os valores corporativos serão os responsáveis por manter o engajamento e a conexão com o trabalho

Em tempos de pandemia, as paredes, mesas e cadeiras são aquelas que cada um tem em casa, improvisadas para o home office. Nas reuniões, os chefes não se sentam mais na cabeceira – eles são mais um quadradinho no meio dos outros rostos planos que aparecem na tela do computador.

O home office também acabou com a interação no café e no almoço, a roda do pessoal de vendas, a caminhada ao lado do chefe, a formação de alianças estratégicas, a energia dos encontros.

Menos de um ano se passou, mas o universo do trabalho mudou radicalmente. E o retorno ao escritório continua uma incógnita.

O que acontece com a cultura corporativa em um cenário em que os empregados ficam isolados em casa? 

A cola que manterá as pessoas distantes e unidas será a dos valores. “Hoje, o estado da arte da cultura organizacional está voltado aos artefatos intangíveis, à dimensão da psicanálise, à semiótica dos discursos”, diz Anderson Sant’Anna, professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas de São Paulo

Nesse processo de construção de uma cultura digital, a presença da alta liderança e dos fundadores ganha ainda mais importância. Na fabricante de produtos de construção Tigre, Felipe Hansen, neto do fundador, e Otto von Sothen, CEO, ampliaram sua presença em eventos digitais, enquanto outros líderes intensificaram as conversas individuais com membros de suas equipes.

A convenção de vendas, antes exclusiva para os melhores, foi virtual e, pela primeira vez, todos puderam participar. O evento pulou de 500 para 1 mil convidados. “A cultura não enfraqueceu, mas o esforço para mantê-la é maior”, avalia Patricia Bobbato, líder de pessoas, comunicação interna e sustentabilidade da Tigre.

Na mineradora Vale, com a covid-19, quem conseguia realizar as tarefas remotamente foi para casa e lá ficou. A empresa decidiu que os funcionários não voltarão ao escritório e está devolvendo dez dos 15 andares do prédio-sede no Rio de Janeiro. Os demais andares serão convertidos em espaço de convivência, para os empregados irem quando precisarem e quiserem. 

Outros “hubs” de interação serão abertos em bairros próximos de onde os profissionais moram. “Vamos juntar as pessoas, não os times”, diz Beto Coutinho, líder global de transformação do RH da Vale. O mote da nova Vale é “mesmo longe, estamos perto”. “Queremos fazer uma digitalização humanizada. Podemos não estar no escritório, mas estamos o tempo todo com você.” 

4 cuidados para a cultura digital

Inclusão digital. Para que a empresa desenvolva uma cultura digital, primeiro é necessário incluir todos os empregados no novo ambiente. A dificuldade de algumas pessoas em manusear a tecnologia é uma das barreiras a serem vencidas.

Líder relacional. Em seu novo papel, o chefe tem consciência que reter a informação não traz poder: tem mais força quem a faz circular.

Frequência e repetição. É preciso repetir constantemente os rituais que fortalecem os valores corporativos. As reuniões individuais entre líder e liderado, as celebrações, os town halls – tudo pode continuar online.

Conexão pessoal. Se a preocupação é promover interação para além das videoconferências, a empresa pode pensar em outras alternativas além do antigo escritório, como restaurantes, hotéis e parques.

Cultura Digital foi o tema explorado na Think Forward (nossa newsletter premium quinzenal, com conteúdos exclusivos para assinantes) de 12 de fevereiro. Para ter acesso ao conteúdo completo, assine o Think Work Lab.

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