Longas jornadas de trabalho, além do tempo necessário para se estabilizar na profissão, tem feito com carreira e maternidade sejam escolhas antagônicas para as trabalhadoras da saúde
Uma em cada quatro médicas que tenta ser mãe nos Estados Unidos é diagnosticada com infertilidade — o dobro da taxa para o público em geral.
E, mesmo para aquelas que conseguem, o caminho é árduo. Cerca de 42% das cirurgiãs americanas sofreram aborto espontâneo e quase metade enfrentou complicações na gravidez, índices também superiores à média.
Até mesmo entre residentes, mais jovens e em início de carreira, os dados são desanimadores. Elas também enfrentam problemas de saúde, muitas entram em trabalho de parto prematuro ou abortam devido às longas horas de trabalho e ao estresse do trabalho. Mesmo assim, espera-se que as residentes grávidas trabalhem em turnos de 28 horas, sem dormir.
A razão para esse cenário é uma só: o trabalho. Para começar, leva em torno de dez anos para as médicas se estabilizarem na profissão, por isso muitas precisam adiar a gravidez. Fora isso, a rotina puxada, com longos e frequentes turnos noturnos, estresse e falta de sono, trazem prejuízos para a saúde reprodutiva das profissionais.
Diante do cenário generalizado, médicas americanas estão se reunindo em grupos e associações para aumentar a conscientização sobre o tema e fornecer informação para as médicas em início de carreira, como a possibilidade de congelar seus óvulos.
A American Medical Women’s Association é um desses grupos. Além das reinvindicações acima, a entidade está propondo novas regras de trabalho para as médicas grávidas, como permitir que elas completem suas pesadas cargas de trabalho no início de sua residência, se sinalizarem que querem ter um bebê mais tarde.
Diversos estudos ligam doenças e a dificuldade de engravidar à rotina de trabalho. Por isso, mais do que criar programas para sanar o problema, como oferecer tratamentos para infertilidade, o certo seria mudar a crença de que a gravidez prejudica o emprego.