Ser humano

Em seu artigo de estreia na Today, Patricia Bobbato conta como os momentos mais difíceis podem ser de descoberta e superação

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Descobrir a nossa finitude nos deixa preparados para entender que a vida é agora.

Em 25 de outubro de 2021, descobri um câncer maligno na tireoide. Esse diagnóstico foi suficiente para eu entender que não sou uma máquina, que tenho meus limites e, o mais importante, que estou rodeada de pessoas especiais. 

Desde que a pandemia começou, venho ajudando de forma ininterrupta os profissionais nos lugares em que trabalho, assim como minha família e amigos. Após perder algumas vidas importantes para mim, aprendi que só temos essa possibilidade de viver essa vida. E, mesmo depois dessas perdas, que, para mim, a vida continuava… 

Sou mãe, psicóloga, executiva, filha mais velha, entre vários outros papéis, sempre tentando escrever a minha melhor versão em cada um deles. Mas só consegui entender que estava cansada e doente ao receber aquele laudo.

Mostrar a minha vulnerabilidade para todos esses papéis, ou seja, para o meu self, não foi fácil. Precisei me dar conta de que, sozinha, não seria possível encarar de frente. Mas, ao pedir ajuda, ao trazer a minha mais profunda dor, encontrei pessoas incríveis ao meu lado, que realmente foram tirando o meu melhor. 

Descobri com os profissionais que, entre os cânceres, o da tireoide era o mais comum, e que provavelmente não morreria desse diagnóstico. Mas também entendi que ter amigos ao meu lado me levou aos melhores profissionais para o meu caso e que continuar a fazendo a terapia me ajudou a me manter equilibrada. E o mais sensacional foi que, a cada pessoa para quem eu contava do diagnóstico, eu acabava consolando o outro. Descobri que a palavra câncer representa muitas coisas.

Assim, fui formando minha rede de apoio e me fortalecendo cada vez mais. Fui descobrindo em quem poderia contar e de quem deveria me afastar. 

No dia 18 de janeiro de 2022, fui embora do hospital após a cirurgia tendo a certeza de que tinha muitas outras possibilidades para a minha única vida e de que eu estava construindo um novo capítulo da minha historia.

Entendi a duras penas o que é me mostrar vulnerável para a minha família, mas também como isso me permitiu receber muito carinho.

E, ao demonstrar minhas fraquezas para a minha equipe, conseguimos ser mais fortes como time e ganhamos muito com isso.

Ao trazer para as pessoas meu diagnóstico, elas olhavam para mim e se surpreendiam porque achavam que era impossível eu ter tido câncer. Para mim, isso mostra o quanto criamos uma imagem do outro sem perguntar realmente como essa pessoa está. E mostra também que, mesmo quando a pessoa não está em seu melhor momento, é possível conseguirmos tirar o melhor dela, mas só quando ela tem uma rede de apoio. É com essa rede que conseguimos passar por tudo e ainda sair mais fortalecidos.

Agradeço imensamente a todos vocês que me ajudaram a sair mais corajosa, mais confiante e feliz de ter a oportunidade de viver esse agora. 

Sigo acreditando com fé nas palavras de Geraldo Eustáquio de Souza (hoje Letícia Lanz): 

“Desistir… eu já pensei seriamente nisso, mas nunca me levei realmente a sério; é que tem mais chão nos meus olhos do que o cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus passos do que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça.”

<strong>Patricia Bobbato</strong>
Patricia Bobbato

Diretora de Pessoas, Comunicação Interna e Sustentabilidade no Grupo Tigre, com mais de 18 anos de experiência em RH em vários negócios, como indústria, varejo e financeiro.

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Comentários Ser humano

  1. Artigo maravilhoso. Aprendizado e Coragem na vida. Obrigado por compartilhar.

  2. REGIANE ZANATTA disse:

    Patrícia, me identifiquei porque uma história semelhante aconteceu comigo em 2011 e pude contar com o apoio de bons médicos, família e amigos, infelizmente naquele tempos as empresas não tinha um olhar amplo para o que estava acontecendo e, dias depois, fui desligada. Mas outras portas se abriram e hoje tenho uma vida mais equilibrada, consciente e feliz. Obrigada por compartilhar sua história. Não somos e não estamos sozinhos.

  3. Laurene Agnes Meyer disse:

    Desejo pra vc toda força e boas energias, que você continue vivendo sua vida contando com essa rede de apoio sempre. Feliz vida pra vc Patricia. um abraço

  4. Me emocionei com seu artigo. Já havia te conhecido num Benchmarking que fizemos por intermédio do José Renato e agora com essa leitura fico ainda mais impressionada com sua capacidade de reinvenção e vulnerabilidade. Parabéns! Você inspira muitas pessoas!

  5. Edcarlos disse:

    Quem tem uma história de superação , não se entrega em Momentos de lutas..

    E essa pequena e passageira aflição que sofremos vai nos trazer uma glória enorme e eterna, muito maior do que o sofrimento.

  6. Guilherme Alberto Woods Soares Cavalieri disse:

    Que legal sua história Patricia. Obrigado por compartilhar. Essa semana em conversa com Dr. Victor Piana, CEO do A.C.Camargo Cancer Center, comentamos a grande oportunidade de levar conhecimento de qualidade sobre o Câncer para dentro das organizações. Como lidar com o colaborador diagnosticado com a doença, como instruir o médico do trabalho, quando afastar e como lidar com o retorno, como o líder do colaborador com Câncer pode e deve ajudar e os colegas, e vai por aí adiante…
    Comentamos que com toda competência técnica e científica do A.C.Camargo, deveríamos pensar em como concretizar essa ideia.
    Caso você e outros leitores identifiquem ser uma iniciativa relevante, fique a vontade para me contatar.
    Um abraço!

  7. Marcos Bruno disse:

    Ei Patricia. Conhecendo-te como conheço nada surpreendente essa sua força, coragem e determinação. Uma experiência como a sua abre novos caminhos de realização pessoal, como a que voce relata e, com certeza, outros níveis de autorrealização. Continue assim feliz e determinada. Abs cordiais.

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