Descubra a importância de reconhecer e eliminar microagressões para promover um ambiente de trabalho inclusivo e produtivo
No dia-a-dia, ele começa a demonstrar agressividade, respondendo de maneira inadequada a ideias ou questionamentos. Na primeira vez, surpresa, ela não reage. Quando isso se repete, profundamente impactada, ela reflete se está exagerando e se deveria aprimorar suas habilidades de comunicação e posicionamento.
Eventualmente, ela reconhece que o comportamento dele é inapropriado e decide abordar o assunto. Com calma, ela explica a situação e enfatiza a importância do respeito. Ele reage negativamente. Ela busca relevar algumas de suas falas e se manter firme, mas a situação não melhora. Ela conversa novamente, mas ele continua a não aceitar. Ele começa a excluí-la de oportunidades.
Ela tenta mais uma vez dialogar com ele, mas a reação é ainda pior. Então, ela decide abrir mão daquela oportunidade e ir embora. “Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.” Infelizmente, muitas mulheres enfrentam situações desse tipo.
O caso descrito ocorreu comigo em um determinado momento da minha carreira. Após inúmeras tentativas de resolver a situação, decidi abrir mão daquela minha posição. Confesso que eu só queria sair dali, pois não suportava mais aquela relação. No entanto, refleti muito e me cobrei bastante.
Embora fosse mais cômodo “dar uma desculpa” e simplesmente ir embora, sentia que precisava me posicionar, pois aquela situação era inaceitável. Decidi expor o verdadeiro motivo para ele e para a alta liderança, pois não queria que ninguém passasse pelo que eu tinha passado.
Contudo, talvez por falta de coragem, optei por não fazer uma denúncia formal. Ele pediu desculpas a mim e aos demais líderes, e a vida continuou. Deixei de sofrer microagressões, mas também perdi as oportunidades que tinha devido à posição que ocupava.
Após o ocorrido, algumas pessoas me procuraram para comentar que também haviam sido agredidas e que, por receio, decidiram não falar. Entendi sua decisão, pois sei o quanto foi difícil para mim. No final, fui a única impactada.
Eu previa que isso aconteceria e não me arrependo da minha decisão, mas não posso deixar de dizer que foi doloroso perceber que ainda há muito a ser feito em relação à equidade de gênero. Sabia que o caminho seria longo, mas senti na pele que ele é muito maior do que eu imaginava.
É fundamental reconhecer e eliminar as microagressões, pois elas não apenas minam o ambiente de trabalho, mas também perpetuam desigualdades e prejudicam a produtividade.
Para as mulheres, lidar com microagressões pode ser ainda mais desafiador, pois muitas vezes enfrentamos barreiras adicionais ao nos posicionarmos contra tais comportamentos. O medo de retaliação, o receio de sermos rotuladas como “exageradas”, “sensíveis demais” ou “difíceis de se trabalhar” e a preocupação com possíveis consequências na carreira são apenas algumas das preocupações que podem nos impedir de nos manifestarmos.
Além de perderem oportunidades na carreira, as pessoas que sofrem microagressões também são impactadas emocionalmente, prejudicando sua saúde mental. Um estudo da Harvard Business Review menciona que a emoção negativa causada por microagressões impacta, inclusive, a capacidade dos profissionais de usarem uma lógica objetiva para a tomada de decisões. O mesmo estudo destaca ainda que apenas 29% das pessoas que sofreram microagressões por competência relataram sua experiência.
Ficar em silêncio diante de microagressões é perpetuar esses comportamentos. Fechar os olhos diante das experiências de pessoas que sofrem ou sofreram microagressões também está errado. Tentar desqualificar a mulher que se manifesta também não é certo. Priorizar o interesse nos negócios, as oportunidades de exposição ou manter uma política de evitar conflitos é igualmente ou ainda mais errado.
Ao ignorar ou minimizar incidentes de microagressão, reforçamos a mensagem de que tais comportamentos são toleráveis ou aceitáveis, perpetuando a cultura da desigualdade e permitindo que outros sejam prejudicados.
Nesse contexto, uma rede de apoio é crucial. Não podemos esquecer que todas as pessoas têm um papel fundamental na criação de um ambiente de trabalho seguro e inclusivo. Demonstrar solidariedade e oferecer ajuda sincera e ativo é essencial para fomentar uma cultura de respeito e igualdade.
É imperativo que as organizações reconheçam a gravidade das microagressões e adotem medidas concretas para combatê-las. Isso inclui a implementação de políticas claras de tolerância zero para discriminação e assédio, a promoção de uma cultura de apoio e denúncia, e a garantia de que as vítimas de microagressões sejam protegidas contra qualquer forma de retaliação.
Esse compromisso deve ser coletivo, abrangendo todos os membros da equipe, desde a liderança até a base, para desafiar ativamente comportamentos prejudiciais e promover um ambiente de trabalho verdadeiramente inclusivo e respeitoso para todos.
Ainda temos um longo caminho a percorrer, mas acredito que estamos evoluindo. Após o que passei, saí machucada, mas ainda mais consciente e fortalecida em meu papel na busca pela verdadeira equidade de gênero.
Excelente reflexão. Os comportamentos são enraizados, por isso é tão importante termos cada dia mais pessoas que falem sobre o tema para que os agressores pensem a respeito e reflitam em como podem melhorar suas atitudes.
Reflexão super importante sobre um tema que afeta a todas e que nem sempre percebemos a gravidade!