Neste artigo, Danilca Galdini reflete sobre o papel da liderança diante da desesperança das novas gerações
Quando falamos sobre pessoas nas organizações, temas como propósito, protagonismo, adaptabilidade e inovação têm sido recorrentes nos últimos anos. Mas é necessário acrescentar uma questão a essa conversa: a forma como as pessoas enxergam o presente e o impacto que isso tem para o futuro.
A confiança em manter o emprego atual cai de geração para geração, e existem diferentes explicações para isso, que passam inclusive por questões como o desemprego historicamente mais alto entre jovens e um mercado de trabalho mais fechado para profissionais acima dos 50 anos. Hoje, porém, proponho olhar para outro aspecto.
A dificuldade do jovem em acreditar no momento atual e em projetar um horizonte viável afeta não apenas sua motivação, como também sua relação com o trabalho e com a liderança. Além disso, a ausência de perspectiva amplifica o cansaço, o desânimo e uma desconexão silenciosa – muitas vezes, confundida com desinteresse ou falta de ambição. No entanto, é exatamente o contrário: o excesso de incertezas, pressões e cobranças é que leva muitos jovens a um estado de sobrevivência emocional.
Esse cenário não é exclusivo do Brasil. A Deloitte, em seu estudo 2025 Global Gen Z and Millennial Survey, identificou que 40% da geração Z se sente estressada ou ansiosa na maior parte do tempo. E mais: 48% das pessoas dessa geração não se sentem financeiramente seguras. Essa realidade influencia diretamente como elas olham para o amanhã: com medo, desconfiança e, muitas vezes, desesperança.
E quem está apenas tentando sobreviver dificilmente conseguirá se engajar com o futuro de uma organização. A liderança pode mudar esse cenário ao cobrar resultados, ao mesmo tempo em que sustenta sentido e reconstrói confiança. Quando a liderança se cala, se ausenta ou apenas repete metas sem conexão com o cotidiano das pessoas, o vácuo que se cria é ocupado pelo medo. Por outro lado, quando a liderança se mostra presente e intencional, ela se torna ponte entre o hoje instável e um amanhã possível.
Para quem trabalha com pessoas, essa é uma responsabilidade incontornável: cuidar do presente é também cuidar da imagem de futuro. E isso começa escutando, reconhecendo as dores e sinalizando caminhos, mesmo que eles ainda não estejam completamente traçados.
Liderar, no fundo, é isso: ser farol quando o mundo lá fora escurece.